Semana de orgulho no Top 10. Orgulho de ver os artistas que a gente admira há muito (ou até há pouco) tempo crescendo e fazendo músicas cada vez mais impressionantes. Sejam os irlandeses do Muder Capital, que estão no nosso radar faz tempo e estão prontos para serem a maior banda de rock possível, seja a Blondshell, projeto de uma jovem compositora que conhecemos agorinha e já nos conquistou. Ah, e a Phoebe Bridgers, sempre ela, a artista mais presente na música hoje – você entenderá essa “piada” lá na frente, desculpa.
De toda a cena de pós-punk que ronda a Inglaterra e a Irlanda há alguns poucos anos, uma das bandas menos comentadas mundo afora é a Murder Capital, de Dublin. Algo injusto, diga-se. Dono de uma boa estreia, o quinteto é uma “promessa” para alguns, uma realidade para outros. O desafio do segundo álbum já é uma missão concluída com muito sucesso. “Gigi’s Recovery”, lançado há poucos dias, é um senhor disco – recheado de boas canções, contemplando diversas ambientações e ensaiando um encontro com públicos mais amplos. “The Lies Becomes the Self”, uma das faixas, mostra bem essa amplitude, mesmo em sua introspecção radioheadiana. Será que eles miram no exemplo de uma certa banda irlandesa que já conquistou o mundo algumas vezes? Olha, a gente avisou.
É engraçado pensar que teve um tempo em que era preciso gastar umas linhas explicando melhor quem é Phoebe Bridgers, Julien Baker e Lucy Dacus por aqui. As coisas são assim quando a gente acompanha um artista do seu começo quase desconhecido até juntar um bom público no Brasil. Um dia “ninguém conhece”, noutro dia elas estão na “Rolling Stone” de terno emulando a capa clássica do Nirvana na revista. A superbanda mais querida do universo indie hoje vai chegar em breve com seu primeiro disco para valer, após um EP que já tinha nos conquistado em 2018. As três músicas adiantadas até aqui são meio que uma de cada compositora, como se pudessem existir em suas carreiras solos, mas chegam potencializadas pela força do trio. Três não é demais, né?
Semana passada a gente deu um bom destaque para o projeto da cantora e compositora americana Sabrina Teitelbaum. Sua barulheira e ousadia em uma canção que mal se dá o trabalho de durar dois minutos chamou nossa atenção. Fomos pesquisar e caímos num papo muito interessante dela sobre como as mulheres são aconselhadas a não expressarem sua raiva, ira, com o mundo. “Tristeza é até permitido”, observa Sabrina, que conta que mal lidava com esse seu lado mais furioso até conseguir trabalhar ele em forma de música. “Joiner” pode até enganar com seu instrumental fofo, mas a letra retrata sem meias-palavras um relacionamento um tanto quanto problemático – sabe aquele papo de querer “salvar” o outro? É o que pega aqui.
Logo vamos escrever mais sobre “UGLY”, novo álbum do complicado inglês Slowthai. Primeiro, por esse título ser uma anagrama para “U Gotta Love Yourself”, em tradução livre “você precisa se amar”. Interessante. Segundo que esse primeiro single é sobre os efeitos perversos do egoísmo, de se afundar em trabalho e perder o mundo ao redor de vista. Olha a gente falando de saúde mental de novo.
Já se acostumaram com a nova/velha onda do Metallica? Após muito tempo sem inéditas, a banda apresenta aos poucos “72 Sessions”, seu novo álbum, e vai revelando uma retomada das músicas mais velozes, como no começo da carreira. Velocidade do passado com o peso sonoro e a potência das gravações mais recentes. “72 Sessions” promete refletir sobre os primeiros 18 anos da vida, período que o vocalista James Hetfield entende como crucial na construção da personalidade de todos. Saúde mental é o tema de “Screaming Suicide”, mais especificamente o tabu em torno da palavra suícidio. Ao abrir o jogo sobre a “escuridão em todos nós”, a visão é mostrar como seria mais saudável discutir o assunto mais abertamente, sem medo. Só assim se pode oferecer apoio a quem está sofrendo. Inclusive, se você leitor está passando por sofrimento mental, lembre que sempre há ajuda disponível e gratuita no Brasil: CAPS, Unidades Básicas de Saúde, UPA 24H, SAMU 192, Pronto Socorro; Hospitais e o Centro de Valorização da Vida – 188, sempre estão a postos para oferecer ajuda e gratuita. Você não está sozinho.
Ainda falando de questões delicadas e que necessitam debate, alcoolismo é o assunto aqui. “Breathing Song” é um retrato cru de um período onde a jovem compositora nova-iorquina Samia conta que bebia todos os dias para amenizar suas dores e não ver o mundo como ele é. Levada quase que apenas com a voz, a canção é tão dura quanto delicada, pelo seu confessional na letra e no arranjo minimalista. E o final é absurdo, repare – dar mais detalhes seria igual contar o final de um filme.
Vale registrar este fenômeno. O livro best-seller “Daisy Jones & The Six”, que conta a história de uma banda fictícia, vai virar série. E aí que, para ser um seriado, as músicas que só existiam na imaginação dos leitores começam a se materializar. Na plataformas de streaming, já rola o perfil Daisy Jones & The Six com direito a single com capa original e tudo. É como se fosse de verdade, mas é uma turma comandada pelo produtor Blake Mills, que já produziu Laura Marling, Perfume Genius, Fiona Apple e Marcus Mumford, que faz o jogo de cena – vale caçar no TikTok para ver os booktubers alucinados com a novidade. É bom ser fã de algo de vez em quando. Ah, sabe quem está entre os participantes dessa trilha? Ela: Phoebe Bridgers.
O National não erra, né? Tudo é impecável nesta música, seja a bateria eletrônica que dá o ritmo para a entrada da faixa, seja o vocal suave, quase declamando, que Matt Berninger imprime para alguns trechos da longuíssima letra da faixa. Ainda sobre saúde mental: a escrita desta letra marcou o fim de um período de bloqueio que Matt passou durante uma fase de sua depressão. Ah, sabe quem vai participar do disco do National? Phoebe Bridgers.
Mês que vem tem disco novo do Graham Coxon em sua parceria com a cantora Rose Elinor Dougall, ex-The Pipettes. O projeto leva o nome de The WAEVER e a promessa é de um som abrangente – percorrendo o gosto musical amplo da dupla, do krautrock à música medieval (!!!). Conceito legal e tal, mas a deliciosa “Over and Over” deixa a gente na vontade de pedir um disquinho só dessa calmaria boa, meio solar/meio nublada. Mimado de nossa parte?
Esta, cláááássica, é de 1989. Mas é o sinal de que vem por aí a discografia do lendário grupo de hip hop americano De La Soul nas plataformas de streaming, finalmente. O mais delicioso nesta música é que ela soa fresca – se fosse lançada hoje, até causaria estranhamento, mas pareceria absolutamente possível.
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* Na vinheta do Top 10, o grupo irlandês The Murder Capital.
** Este ranking é pensado e editado por Lúcio Ribeiro e Vinícius Felix.