Top 10 Gringo – Stereolab com o dedo na ferida. Sports Team com um papo machista (não deles). E a nossa St. Vincent sobre os tempos violentos

A gente ama o fato de poder dar um topo de pódio para uma banda que já não existia quando criamos este Top 10. A volta da vez é do Stereolab. Voltaram, lançaram um senhor álbum novo e ainda vão tocar no Brasil neste ano. Exemplar! 

Natural que uma música dos anglo-franceses do Stereolab carregue os dois idiomas. “Melodie” é francês, “Is a Wound” é inglês. Melodia é uma ferida. E a ferida é a cutucada quando o Stereolab encerra a canção e entra numa jam expandido tudo que aquela melodia é capaz de provocar. Aliás, letra e música parecem juntas por acaso aqui. Se o tema instrumental é alegre, a letra aborda o fim da verdade. “O objetivo é manipular/ Mãos pesadas para intimidar”, observam. E o acaso é um dos guias deste novo álbum deles, lançado na semana passada. Tim Gane, guitarrista da banda, disse à revista britânica “Mojo” que buscava mudanças bruscas de acordes enquanto escrevia as músicas, só para ver no que dava, sabe? O título do disco, “Instant Holograms on Metal Films”, foi achado aleatoriamente, abrindo uma revista australiana qualquer. Mas nessa mesma entrevista ele e sua parça de sempre, Lætitia Sadier, definem o álbum como otimista. “Aerial Troubles”, por exemplo, é basicamente sobre o fim do capitalismo e sobre esse ser o momento para colocar no lugar algo melhor. Por isso a música do Stereolab soa divertida mesmo quando é ácida liricamente. Eles estão esperançosos e querem encher a gente de esperança. É um jeito de se pensar no futuro. Melodias ferem e curam. E também matam fascistas.  

Quase um ano atrás falamos de “I’m in Love (Subaru)” por aqui. Foi quando o Sports Team, sexteto inglês, anunciou “Boys These Days”. Finalmente o disco saiu e cumpre sua promessa de ser uma “crítica e celebração à nossa economia da atenção e a superestimulação do mundo digital”. É o que o Sports Team tem um humor peculiar. A faixa-título, por exemplo, é de uma ironia capaz de provocar um super malentendido nos ouvintes mais apressados. O refrão “Os garotos hoje em dia parecem garotas” não é papo machista. Quer dizer, é, mas é uma fala do personagem principal retratado na canção, o eu-lírico é um tiozão bem bolsonazi da vida reclamando dos dias de hoje. Na época dele que se trabalhava de verdade, sabe? Ninguém tinha depressão e ele jura que nunca se viu pelado, santa moralidade. “Talvez eles precisem de uma guerra”, esbraveja o bufão enquanto observa a juventude. Mais para frente ele reclama que os garotos hoje até se abraçam e falam dos próprios sentimentos um para o outro. Nojento, hein? Para completar, o  Sports Team inventa esse personagem em um som que escapa do pós-punk original da banda e envereda numa levada de orgulhar o Elton John do comecinho da carreira. Eles não têm medo de mandar muita informação ao mesmo tempo. Caótico mesmo. Que nem os garotos de hoje em dia. 

Ano passado, a musa St. Vincent adaptou para o espanhol o álbum “All Born Screaming”. “Todos Nascen Gritando” virou tanto um agradecimento à paixão dos fãs latino quanto uma nova dimensão da obra. A carga dramática acentuada com o espanhol ganha novas texturas na versão que traz a chilena Mon Laferte para os vocais. Detalhe: St. Vincent tocou nesta semana no Chile e na Argentina! Será que dá tempo de lançar um som com algum brasileiro até o show no Popload Festival, neste sábado? O espanhol não foi a única fonte das versões novas. A guitarrista americana conta ter escutado muita coisa em português na época de reescrever as letras, em especial Caetano Veloso. Podia, hein?

A virada sonora do Turnstile para rumos mais pop divide admiradores e haters da banda. E tudo indica que “NEVER ENOUGH”, quarto álbum da banda, vai ampliar mais ainda essa divisão. É o que deve acontecer se o clima do álbum seguir o do single “LOOK OUT FOR ME”, basicamente duas faixas – uma mais roqueira/básica e outra eletrônica/viajadona. Se mudar o som uma vez é foda, duas ao mesmo tempo é tomar muito risco. O U2, por exemplo, esperava uma década a cada virada e os fãs entravam em choque do mesmo jeito. Gostamos. 

Brett Anderson sabe usar as palavras. É dele já a melhor explicação para o próximo álbum do Suede. “Se Autofiction era nosso disco punk, “Antipressantes” é o nosso álbum pós-punk”. E isso já transparece no primeiro single do disco, “Disintegrate”, um convite para “curtir” praias poluídas. Para que tantas armas nas mãos? Se renda. Se desintegre com a gente, pede o Suede. Essa discussão sobre os tempos atuais dá o ar pós-punk comentado por Brett, sonoramente a banda segue perto de algo mais grandioso, perto de sua raiz glam.   

Quando o Wednesday lançou “Rat Saw God” em 2023 elogiamos por aqui a capacidade ser bizarramente barulhenta e docemente calma, fora honrar o seu nome, a nossa Wandinha. Isso tudo segue intacto na quieta “Elderberry Wine”, uma música sobre o quanto tudo de bom na vida pode dar problemas em exageradas doses. 

Te interessa uma música que começa dance, com uma bateria eletrônica básica de guia, e cai num heavy metal amalucada cheio de viradas? É o que Julia Wolf entrega em “Kill You Off”, som de abertura do seu segundo álbum, “Pressure”. Uns gringos definiram como trap-pop. Pode ser, mas é um tiquinho mais radical que isso. É O CAOS, diria Rômulo Mendonça. 

Existe uma expectativa de como será o comportamento do Kneecap em Glastonbury. A pressão política na Inglaterra segue a toda para impedir as manifestação do grupo contra o genocídio em Gaza. Mas a banda parece que não vai se dobrar diante dos conversadores ingleses. No fim de semana, lançou uma música zoando Kemi Badenoch, lider do partido conservador e defensora de que os massacre contra o povo palestino não se trata de genocídio. A faixa inédita estreou ao vivo e no outro dia estava “pirateada” no Soundcloud da banda. 

Mike, Monica, Cody, Zack e Dave. Parece a lista de personagens de uma nova sitcom inspirada nos anos 90, mas é o nome dos cinco integrantes dessa banda de Michigan bem interessante. O humor deles, bem groucho-marxista, está expresso no título do próximo álbum, “Hell Is an Airport”.

É preciso investigar Peter Buck. O eterno guitarrista do R.E.M é um dos homens com o melhor gerenciamento do tempo do mundo. São muitos projetos! Tem o Minus 5, tem o Silverlites, arruma espaço para tocar com o Nando Reis pelo Brasil… O Drink The Sea já é a segunda banda que ele monta com Barrett Martin, baterista do Screaming Trees e do Mad Season e que também é parça do Nando. Um disco duplo da nova banda vem por aí e promete ter até surdo de samba. Veremos.


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* Na vinheta do Top 10, a banda bi-nacional Stereolab.
** Este ranking é pensado e editado por Lúcio Ribeiro e Vinícius Felix