Tina. Caramba. Mais uma perda gigantesca no mundo pop. Estamos falando de uma das fundadoras desta festa toda que amamos. O Top 10 desta semana abre com ela e entrega também outros hits que falaram alto com a gente.
Enquanto este Top 10 estava no forno chegou a notícia da morte de Tina Turner, aos 83 anos. E doeu demais. Se o mundo lamentava a perda da rainha do rock – para nós, brasileiros, a dor é a de perder duas rainhas em sequência. Inventora de muito do que temos em nosso imaginário pop, Tina foi muitas. Não teve só várias fases, como se agigantou a cada reinvenção. Com Ike Turner, na década de 60 e 70, quando tudo era mato, a dupla esteve presente na criação de um pop mais requintado, com uma mistura rica e única de R&B, soul e rock. Solo no fim daquela década, teve uma fase de baixa até voltar ao topo a partir de 1984 com o grandioso “Private Dancer”, um álbum que é o norte de nomes como Madonna, Beyoncé, Rihanna, Lady Gaga – talvez o melhor resumo de sua capacidade de ser tantas, cantando rocks, baladas e músicas dançantes de pista. Liste todas as divas e divos do pop – de Mick ou Bowie até os mais novinhos. Todos quiseram ser Tina. Fiquemos com um de seus maiores hits.
Kaytranada na base e Aminé nas letras. Deu muito certo a parceria entre o produtor haitiano-canadense e o rapper norte-americano. Quem não se arrepia na abertura do álbum quando o beat bate de surpresa? Trabalhando em modo acelerado, o material do álbum foi escrito lá em 2021 em poucas semanas. Por isso é um disco com suas particularidades – não é tão viajado quanto os álbuns solos de Kaytranada, mas é uma boa imersão do produtor a serviço do rap. O duo trabalhou sem contato com mais ninguém, por exemplo. Não tinha nem amigo para dar pitaco. Mas algumas coisas ainda estão lá, afinal não seria o Kaytranada sem um sample brasileiro em campo: desta vez ele não foi muito longe, mas deu seus pulos. Pegou a essencial “Tudo Que Você Podia Ser”, mas não a versão conhecida do álbum “Clube Da Esquina”. O cara pescou uma versão que o Lô Borges fez em 1979 e que tem uma introdução bem diferente, que virou a base todinha de “Rebuke”. E as participações brilham. Freddie Gibbs, Big Sean, Pharrell e Amaaree colaram no legal no rolê. E dá para dizer que as linhas do Snoop Dogg em “EYE” são seu melhor feat. em muito tempo. Inspiradíssimos. Quem tá reclamando deste disco tá viajando.
Quem viu a querida Arlos Parks no C6 Fest teve a chance de curtir “Devotion” em primeira mão. A nova música da inglesa é seu último single antes do lançamento de “My Soft Machine”, que chega nesta sexta-feira, 26. Como o título da música entrega, é sobre devoção amorosa. O que o título não revela, mas o vídeo dá uma pista, é que é uma música em que Arlo mostra sua paixão por bandas clássicas que fizeram o som dos anos 1990 – Deftones, Yo La Tengo, Smashing Pumpkins e My Bloody Valentine. E aqui é interessante notar o quanto Arlo foi mais atrás da habilidade melódica desses roqueiros do que tentar perseguir a barulheira deles.
Rapaz, quando a gente vê se foram 40 anos. É, o tempo passa e rápido. Os escoceses do Teenage Fanclub há umas décadas já contam com o teen só no nome mesmo. E tudo é tão veloz que a gente nem sentiu que já tem dois anos que “Endless Arcade”, disco mais recente deles, saiu. A turma liderada por Norman Blake já prepara seu sucessor, “Nothing Lasts Forever”. O título do álbum traz uma ambiguidade – fala sobre a finitude da vida, mas também do sofrimento. Tudo passa, né? Se a fossa de um fim de um casamento marcou o trabalho anterior, a pegada aqui já é outra, o que não tira do lugar um certo clima intimista. Aquela conversa um a um entre velhos conhecidos. Fãs e banda.
Prontos para ver a Lana Del Rey no Rio neste finde ou centro de São Paulo no outro? Laninha parece empolgada com a visita, até tirou do baú uma favorita dos fãs que nunca tinha sido lançada oficialmente. “Say Yes to Heaven” é lá de 2012, época de “Ultraviolence” – por coincidências da vida, não contrasta com o clima proposto no disco mais recente. E Lana lançou ela também em uma versão sped up, que talvez os jovens gostem (mais).
Vocês sabem: assinou com a Sub Pop, o selo do grunge, a gente presta atenção. E a aposta da vez da gravadora é Hannah Jadagu, uma jovem que eles lançaram em 2021 com um EP gravado em casa todo no celular. “Aperture”, seu primeiro álbum, é uma pancada – tem um tanto de bedroom pop, começa supercalmo, meio insipirado na nova psicodelia, mas depois entra nuns rocks que vão te deixar confiante que ainda há o que se fazer no gênero mais gasto do mundo.
Tem algo de Talking Heads no novo single da Jenny Lewis ou é impressão nossa? A percussão “solta” da faixa e a levada de violão lembra muito a banda do senhor David Byrne – um clima tropical para uma letra divertida e que sacaneia a si mesmo apelando para o duplo sentido: “Me apaixono muito fácil, muito fácil/ qualquer um que me toca/ fode comigo”.
Depois de dois singles mais pancadas, o Foo Fighters investe em uma música levemente mais calma com ares de dreampop – uma qualidade que a banda sempre teve; pense em “Big Me” ou “Aurora”. Os vocais femininos que fazem um belo dueto com a voz grave do velho Grohl são da filha Violet. A letra fala sobre perda e tem versos que parecem dialogar com duas mortes que Dave encarou recentemente: a da mãe Virginia Grohl e a do amigo e parceiro de banda Taylor Hawkins.
Turma, que feat, hein? É até difícil identificar onde começa uma banda e entra a outra, ainda que o Unknown Mortal Orchestra seja praticamente a banda de um homem só liderada por Ruban Nielson. Este single antecipa “Chris Black Changed My Life”, primeiro trabalho da turma de Alaska do Portugal. The Man desde Woodstock, de 2017 – que você deve conhecer pelo hitaço “Feel It Still”, que furou legal a bolha da bandinha indie.
Lembram o Grouplove? Essa banda californiana habitou por muito tempo a lista de nossas favoritas e vivia circulando aqui pela Popload. Eles começaram a espaçar os lançamentos e a gente perdeu um pouco eles de vista. Mas olha, tudo segue no lugar de grupo espetacular. “Francine”, single do futuro álbum da banda, “I Want It All Right Now”, é um som que recupera o melhor do indie 2010. Delicinha de som.
* Na vinheta do Top 10, Tina Turner, que se foi nesta semana.
** Este ranking é pensado e editado por Lúcio Ribeiro e Vinícius Felix.