A gente já comentou no Top 50 que a semana pós-Lolla foi pesada. Mas conseguimos nos organizar e comentar sobre as novidades da semana, incluindo as coisas quentes internacionais que saíram nesta sexta-feira. Será que temos na listinha fortes concorrentes ao prêmio de disco do ano? A superbanda boygenious e a Lana Del Rey são boas candidatas, viu.
A superbanda formada por Phoebe Bridgers, Julien Baker e Lucy Dacus, donas de sólidas carreiras solo, soltou seu “The Record”, o primeiro álbum do trio. Elas já tinham ganho um capa na “Rolling Stone”americana à la Nirvana, e agora no chique lançamento do disco soltaram até um curta com Kristen Stewart na direção. A imprensa gringa já está babando no álbum e nós também. Tem um pouco de rock, tem um pouco de folk e tem muitas letras incríveis. Esta “Leonard Cohen”, que traz o nome do gênio compositor, tem talvez o melhor conjunto de versos do ano. Sente só a partir da nossa tradução livre: “Leonard Cohen disse uma vez
“Tem uma rachadura em tudo, é assim que a luz entra”/ E eu não sou um velho em crise existencial/ Em um mosteiro budista escrevendo eróticas poesias/ Mas eu concordo”
Estamos gostando bem do novo e complexo álbum da Lana Del Rey. Como tá soando “Did You Know That There’s a Tunnel Under Ocean Blvd” por aí? A Rosalía cravou no Twitter: ” DISCAZO”. Já falamos bastante das músicas que viraram single – e que acabam por ser as melhores do álbum. Por isso separamos essa lenta ao piano onde Lana parece desnorteada por consequência de algum relacionamento, claro. A faixa traz o supermúsico Jon Batiste, que na sequência é responsável por um interlúdio só seu. Pense que vamos ter a chance de ver a Lana em breve no MITA e também o Jon Batiste, que cola no C6 Fest.
E, por falar em Rosalía, a dona de um dos shows mais fodas do Lollapalooza, a artista espanhola nem esquentou com o agitado fim de semana e aproveitou para lançar um EP em parceria com seu parceiro de vida, o cantor Rauw Alejandro. São três músicas, incluindo a superromântica “Beso”, que abre com quatro apaixonados versinhos: “Preciso de outro beijo agora/ Um desses que só você me dá/ Ficar longe de você é um inferno/ Ficar perto de você é minha paz”. O vídeo da música causou “comoção” na imprensa por trazer cenas da vida privada do casal, incluindo os dois praticamente nus e o momento do noivado deles. Rosalía vai casar!
Com a vibração dos seus clássicos discos, “Memento Mori” é uma retomada e tanto do Depeche Mode. Dave Gahan e Martin Gore juntaram seus pedaços após a morte de Andrew Fletcher e entregaram um álbum inspirado. “People Are Good” traz a sonoridade que deixou a banda conhecida em clássicos como “Enjoy the Silence” e “Personal Jesus” e uma letra refinada carregada de ironia, com Gahan contando o quanto acredita que as pessoas são boas. Na canção, ele considera que mesmo erros não são propositais, que é preciso seguir acreditando – embora nem ele parece acreditar muito nisso, como entrega no último verso. Forte.
O rapper Tyler The Creator estes dias comentou no Twitter que nunca escreveu tanto para um disco como escreveu para o mais recente, ““Call Me If You Get Lost”, lançado em 2021. E são tantas músicas que ele gosta e receava que ninguém escutasse que ele resolveu colocar tudo para jogo. Por isso, este ano o disco ganha uma expansão. “DOGTOOTH, primeira mostra dessas novidades, é um som bacana e tem um refrão divertidíssimo onde Tyler basicamente conta que a mina pode até sentar na cara dele, ele não quer nada em troca. “Apenas um pouco do seu tempo e todo o seu amor”. Só isso.
Jenny Lewis, cantora e atriz que fez parte do Rilo Kiley e tem um carreira solo de respeito, vem com disco novo por aí e aplicou para este trabalho um método de composição meio maluco. Ela fez meio que um workshop com o Beck e tinha o desafio de escrever uma música por dia a partir das diretrizes lançadas pelo autor de “Loser”. O resultado estará em “Joy’all”, do qual já podemos experimentar o primeiro single, “Psychos”. A faixa talvez não seja da safra orientada por Beck, mas se for dá para imaginar ele pedindo algo tipo “Tenta fazer uma ‘Dreams’, do Fleetwood Mac”. Ficou bacana.
A turma emo do Fall Out Boy se aventurou por um tempo em território mais próximo do pop e parece ter voltado ao seu núcleo mais roqueiro em “So Much (For) Stardust”. Mas não é um retorno sem aprendizado. Mesmo investindo quase o tempo todo no básico guitarra-baixo-bateria, as construções dialogam direto com o melhor do pop. Só reparar o quanto o jeito que Patrick Stump, vocalista da banda, deve ao fraseado do Michael Jackson em “Hold Me Like a Grudge”.
Deadletter é uma debochada e fantástica banda de nenhum disco ainda. A gente chapa na sua sonoridade meio dance punk. Imagine um Gang of Four ou Clash com saxofone. É por aí que a turma liderada pelo figuraça Zac Lawrence, que lembra muito o Mick Jagger, entrega seu rock n’ roll. É, tem gente que ainda sabe fazer isso…
Antes de 2020 se mostrar um dos anos mais bizarros da história recente, a gente celebrou com gosto o álbum “Seeking Thrills”, da inglesa Georgia. Contagiante, acabou meio pelo caminho seu delicioso synth-pop entregue ali. Ou a gente que perdeu algo, talvez. Fato é que ela está de volta para seu primeiro álbum pós-pandemia. Vai se chamar “Euphoric” e o primeiro single é justamente esta “It’s Euphoric”, que apesar do título é uma música toda para dentro. Uma euforia interna quando se está perto de alguém querido daquelas difícil de traduzir. Talvez se chame amor.
A cada single o Metallica vem mostrando que seu próximo álbum, “72 Season”, será um retorno a época mais veloz da banda com a gordurinha sonora adquirida em tempo mais recentes, com gravações e equipamento mais modernos que nos distantes anos 1980. Em outras palavras, tá uma pancada forte. “72 Seasons” deve agradar os mais fanáticos com seus quase 8 minutos. Classic.
* Na vinheta do Top 10, o trio girly Boygenius.
** Este ranking é pensado e editado por Lúcio Ribeiro e Vinícius Felix.