Top 10 Gringo – Se tem nova da PJ Harvey, o pódio é dela. A deusa Jessie Ware gruda no segundo lugar. Thundercat + Tame Impala fecha(m) o topo. E tem ainda uma homenagem nossa ao DJ Pomba

Alerta de disco novo da PJ Harvey. Em julho. Não conseguimos mais pensar em nada. Vai ter disco novo da PJ Harvey e estamos muito contentes. Mas isso é só um dos gostinhos desta semana recheada: estamos mais contentes ainda com o novo álbum da inglesa Jessie Ware, sorridentes com a parceria do Thundercat com o Kevin Parker, alucinados com o disco novo da Indigo de Souza e urrando de alegria com o poder, o alcance e o fenômeno que é são as Boygenius – maior banda indie do mundo hoje, vai.  Na décima posição, lembramos um hit clássico das importantes discotecagens do DJ Pomba, figura importantíssima da noite paulistana, que morreu no final de semana.

Parem as máquinas. Não é um dia qualquer quando Polly Jean Harvey resolver lançar uma música nova. “A Child’s Question, August” é o single que antecipa seu novo álbum, “I Inside the Old Year Dying”, que chega em julho. É o primeiro disco de inéditas desde 2016! Estávamos com saudade. Vai ser um trabalho sobre amor. Nas palavras de PJ, “tingido por tristeza e perda, mas amor”. A impressão é que PJ resolveu revistar um pouco seu passado e suas questões; seus velhos papéis, poemas e fotos que contam novas histórias. Só pensar no título de uma das músicas anunciadas, “I Inside the Old I Dying”, algo como “Eu dentro do Velho Eu Morrendo”. Estamos sempre nessa construção dentro de algo que está em destruição, seja nós mesmos ou o mundo ao redor. Não é fácil. 

“That! Feels Good!”, quinto álbum da inglesa Jessie Ware, saiu nesta sexta-feira, 28, e já coleciona rasgados elogios em lugares da imprensa musical que a gente respeita. Mas vamos avaliar pelo singles, como a sensancional “Begin Again”, que honra a pegada disco retrô-futurista imaginada pela artista inglesa. O refrão que começa “I work all night”, uma temática clássica da disco music e seu papo sobre trabalho contra diversão, engaja muito.  

A vibe delícia que existe em toda música do superbaixista Thundercat e do senhor Tame Impala, conhecido como Kevin Parker, até deixa a gente com uma dúvida? “Ah, eles já fizeram coisas juntas…” Que nada, “No More Lies” é a primeira parceria do duo e soa como se sempre estivesse por aí de tanto que consegue carregar do estilo dos dois artistas em questão. Ela é tão acertadinha, tão boa, que fica a questão: tem mais? Tudo indica que não, mas o Thundercat falou numa entrevista que foi muito bom criar com o Kevin… Talvez esses amigos façam mais que um singlezinho.

Zane Lowe, radialista da Apple Music, matou a charada: todos querem ser amigos das Boygenius. Só ver as cenas de elas atuando no Coachella. Todo mundo queria ficar perto de Julien Baker, Phoebe Bridgers e Lucy Dacus. E o fenômeno periga ser global. Quer um indício brasileiro? As músicas do trio já tem suas cifras disponíveis para violão em sites brasileiros – algo que é pouco comum para bandas iniciantes nessa linha mais indie. É uma dica de que a coisa está fervendo. E o álbum delas, “The Record”, só melhora a cada audição. Fiquemos hoje com a delicada “Cool about It” e sua descrição dolorosíssima de uma relacionamento que já não funciona mais e um dos lados não sabe como expressar essa desconexão brutal. De chorar. 

Quem chegou muito pertinho, literalmente, das Boygenius no Coachella foi o trio norte-americano Muna, formado por Katie Gavin, Josette Maskin e Naomi McPherson. Amigas de Phoebe Bridgers, no caso. Viralizou os dois grupos cantando o hit “Silk Chiffon” no palco do desértico festival, no show do Muna. Coincidência ou não, a banda aproveitou esse embalo para soltar um novo single, que foi descrito por Katie como “esfregar sua bunda gostosa na cara de alguém que estragou a chance de estar com você. É um pouco vingativo e cruel, mas também divertido. Foda-se”. Não tem como superar essa explicação, né? 

Ter a percepção correta de algumas coisas dói, né? “A clareza é um valentão”, canta Indigo de Souza com muito bom humor em um certo momento de “Losing”, faixa do seu terceiro álbum; que leva o singelo batismo de “All of This Will End”, que em bom português quer dizer “Tudo isso vai acabar”. Essa clareza sempre incomodou a jovem compositora americana, da Carolina Do Norte, que tem um pai brasileiro. Mas o existencialismo de Indigo não é sombrio. Seu tato raro para boas melodias e distorções violentas pegam qualquer ouviente. Ela vai do fofo ao berro. O método que o Pixies ensinou para o Nirvana e que nunca perde a força. Ouça também “Wasting Your Time” e “Parking A Lot”.

Não vamos dizer que não tivemos um leve susto com a notícia de uma faixa solo do vocalista da nossa banda favorita do momento, Fontaines D.C. Mas a aventura solitária de Grian Chatten não quer dizer o fim do grupo, longe disso – os caras estão tirando umas férias até a próxima turnê. Ufa. “The Score” é uma canção voz-e-violão bem tranquila com uma bateria eletrônica tosquinha, uma baixo pontuando. Bem coisa de quem tá testando como gravar música sozinho. Simpático. Em outubro, o Fontaines estará no México com o Arctic Monkeys. Sabe? AQUI DO LADO, pô. O México não é “logo ali”?

Cabelos loiros na altura dos ombros, violão posicionado ao contrário para canhoto, uma jaqueta para esquentar e um All-Star surrado nos pés. Não é Kurt Cobain no acústico MTV, é a inglesa Amber Mary Bain, conhecida por seu projeto The Japanese House, apresentando seu novo single, “Sad to Breathe”, canção tristíssima sobre alguém que não consegue mudar do jeito que o parceiro deseja e vai se afundar na cama enquanto sofre com a ausência do seu amor – por isso que está “triste de respirar”. A música vai fazer parte de “In the End It Always Does”, seu segundo álbum, que sai em junho. É dar as mão para as Boygenius e sair pelo mundo fazendo alegria dos tristonhos. Uni-vos, sad people.

Se a Sub Pop se interessou, geralmente a gente se interessa também. E os mais novos contratados do mítico selo de Seatle que inventou o grunge – e anos depois assinou com o Cansei de Ser Sexy – são os australianos do Girl and Girl. É aquele som guiado por duas guitarras conversando que sempre amamos; lembra um tinquinho o Libertines e aquele dedilhado na guitarra que raspa levemente nas cordas dando uma textura de garagem para o som. E ajudem a banda! Os caras tem só cento e poucos inscritos no canal deles no YouTube… 

Este hino lindo da banda inglesa Placebo só está aqui para homenagear o DJ Pomba, que nos deixou no último final de semana depois de um tempo batalhando contra um câncer maldito. Foi bonito ver nas redes sociais o imediato reconhecimento. com a notícia, de tudo o que o André Cagni ajudou por anos na cena musical (do heavy metal ao indie), na noite paulistana, na cultura dos clubes e na interação de tudo com a cena LGBTQIA+. Até na política ele entrou para ajudar a defender as causas que acreditava. E por que o Placebo? Porque Pomba foi o DJ residente por anos da casa Alôca, clube gay e eletrônico nos Jardins, no comecinho dos anos 2000. Foi o criador da histórica festa dominical Grind, em que quebrava a rotina eletrônica da casa para tocar indie novo e hits pop para a comunidade LGBTQIA+. Placebo era um dos hits. Valeu por tudo, Pomba!



* Na vinheta do Top 10, a cantora e compositora inglesa PJ Harvey, em foto de Steve Gullick.
** Este ranking é pensado e editado por Lúcio Ribeiro e Vinícius Felix.