Quando parece que nada mais vai acontecer no ano, a Sampa the Great reaparece reinventando o zamrock (conhece? É coisa fina!), o Flea inventa de fazer jazz e o Mike Patton vira cantor de country todo formalzinho. O ano só acaba quando termina, realmente.

A canção mais viciante da semana é de longe “Can’t Hold Us” da rapper Sampa the Great. Tem uns três anos que avisamos por aqui dessa artista da Zâmbia que causou com seu super álbum “As Above, So Below”, poderoso em estilo, linguagem e swag. Ela está de volta e mexendo em novo terreno. A ideia agora é revirar o Zamrock, um gênero nascido na Zâmbia nos anos 1970 responsável por misturar a música local com o rock psicodélico e pesado da época, pense em uma lista que vai de Cream a Black Sabbath. Um play na banda Musi-O-Tunya vai te fazer entender tudo. Sugestão nossa: “Dark Sunrise”. Tudo isso para dizer que Sampa quer fundar o Nu Zamrock: “Ser zambiano, ser barulhento, ser desafiador — isso é o que é Zamrock”, diz ela. E bom, “Can’t Hold Us” já é mais legal que quase todo o nu metal…
Fazendo a ponte entre seus dourados tempos na música britânica indie dance e a produção atual da galera eletrônica, e lá se vão 40 anos, a banda Happy Mondays, da “Madchester” do final dos 80 comecinho dos 90, traz agora a compilação “The Factory Singles”, coletânea que mostra com quantas calças baggy e uma balinha de Ecstasy na boca se divertia numa pista de dança no Reino Unido. O discão está cheio dos hits dos Mondays, mas no paralelo eles estão soltando apenas digitalmente uns remix de produtores bambas, tipo esse da maluquinha “Hallellujah”, que saiu das mãos talentosas de Daniel Avery. Aaaacid!
Nunca estivemos tão perto de um show do Mike Patton na próxima festa de rodeio de Barretos. Loucura nossa? Dê o play no primeiro álbum do novo projeto do malucaço vocalista do Faith No More (e mais trocentas outras bandas e projetos). “AVTT/PTTN” é um disco seu em parceria com a dupla folk The Avett Brothers, um duo relativamente conhecido nos EUA, bem caretinha e meio sumidinho. A sabedoria de Patton é surreal, seja para quebrar as convenções em forma de ironia ou para seguir a ordem de um gênero avesso a tudo que esperam dele. Foda.
Demorou para o Flea investir no seu primeiro álbum solo. Embora já tenha soltado single e EPs, ano que vem teremos seu primeiro disco cheio lançado pela Nonesuch. Pelo que entrega o primeiro single, “A Plea”, será um disco de jazz (!!!) com Flea se virando entre baixo, trompete e até vocais. Na lista de músicos convidados para o trabalho, o brasileiro (e praticamente um chili pepper) Mauro Refosco é um dos presentes. Olha, perto do material cansado do Red Hot nos últimos anos, “A Plea” é um tremendo respiro. Delícia de som. Outra coisa legal: ouvir o Flea sozinho é entender qual seu papel na química da banda, indo além do baixo, mas pensando em estrutura de canções, espaços para pirar, etc.
Vocês estão cansados de saber da nossa quedinha pela cena de pós-punk irlandesa, né? A promessa do ano que vem é esse quinteto direto da tradicional Cork, segunda maior cidade do país. Queridinhos até pelo Grian Chatten do Fontaines D.C, eles lançam no começo de 2026 seu álbum de estreia, “Masquerade”. “Barbed Wire” é o segundo single e já demonstra a evolução conceitual perto do rock DIY dos primeiros registros. Para acompanhar.
Talvez você associe o ator John C. Reilly só com a comédia, inclusive comédia musicais, como o hilário “Walk Hard”. Mas a verdade é que o cara canta para valer e até lançou um disco sério de releituras de músicas românticas. Tudo bem, nessas horas ele usa um alter-ego chamado Mister Romantic… E o Mister Romantic atacou de novo! Para o Record Store Day ele descolou um cover da clássica “Dream A Little Dream of Me”. Ficou classe. O vinilzinho sairá pela chiquetosa Third Man do seu Jack White.
A senhora Melody’s Echo Chamber, aka Melody Prochet, segue divulgando aos pouquinhos seu quarto disco, seu projeto da maturidade. “Unclouded” tem o título inspirado em uma frase do diretor japonês Hayao Miyazaki: “You must see with eyes unclouded by hate”, algo como “Você precisa enxergar com os olhos livres da névoa do ódio”. Para Miyazaki, o mundo é menos sobre o bem e o mal e mais sobre a dualidade inscrita em cada um de nós.
É meio louco o quanto pouca gente lembra do Coral, banda inglesa que foi sensação no comecinho dos anos 2000. Eles seguem na ativa e continuam soando como se estivessem em 1960. É o que dá para notar no single duplo de Natal nada convencional que resolveram lançar. Ficaria mais adequado no Halloween.
“Nightcall” é o já clássico som de Kavinsky com a Lovefoxxx e produção do daft punker Guy-Manuel de Homem-Christo, presente no filme “Drive” e tocada até em final de Olimpíadas. Por isso, a banda do filho do Bono fez um cover dela na “Like A Version”, tradicional session da rádio australiana Triple J. Mas diferente de geral, eles resolveram lançar ela oficialmente. E rapaz, o vocal dele já ficou tão parecido com o do pai assim alguma vez?
Não dá para dizer que a Peaches estava sumida, mas são dez anos sem um álbum novo! A volta da provocativa canadense chega ano que vem pela Kill Rock Stars e se chamará “No Lube So Rude”… Precisa traduzir? Bom, o novo single chama “Fuck Your Face”, precisa traduzir também? Ironia ou não, apesar de seguir desbocada, seu som parece bem mais controladinho do que nos tempos de tamborzão em “Fuck The Pain Away”.
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* Na vinheta do Top 10, a rapper e cantora Sampa The Great.
** Este ranking é pensado e editado por Lúcio Ribeiro e Vinícius Felix.