Será que tudo já foi dito sobre o novo álbum da Rosalía? O volume de textões quando o disco ainda nem tinha saído (e o volume de textões que parecem nem ter escutado o álbum logo depois que ele saiu) estava imenso. Mas também quisemos agora dar (mais) uma palavrinha, sabe como é. Especialmente depois de depurar um pouco as ideias. E, mesmo assim, sentimos que ainda tem muito a ser dito.

Rosalía adquiriu outro tamanho após “Motomami”. Ela já sabia que um próximo álbum seria seu maior desafio. Mas nunca deve ter imaginado tamanha expectativa, na real. O que entregar aos novos e velhos fãs? O que eles esperam: uma rasteira de Rosalía, óbvio. Se tem quem aguardasse mais do mesmo dela, seus seguidores já sabiam que com ela era “pa’ ti, naki, chicken teriyaki”. Em “Lux”, ela troca os timbres eletrônicos por uma aura clássica. Música orquestral e canto lírico. Tudo desconstruído, retorcido, sem carão de música pop. E aí é que a coisa começa a ficar pop. Ela está impondo sua visão do que pode ser essa música pop em 2025. Tipo mostrando o caminho. No som e na lírica. Ao se apegar à temática católica, Rosalía escolhe o viés crítico, algo posto já no hábito que veste como camisa de força logo na capa do álbum. Ela está falando de catolicismo, sim, mas também do pecado, do corpo e do desejo. Está falando das santas e todos sabem como a igreja católica trata as mulheres. Controle. Exclusão. Silêncio. Apagamento. As homenageadas por Rosalía são escolhidas a dedo, expondo as contradições da ordem. Ela está pensando em território quando fala em Santa Rosa de Lima, a primeira santa nascida nas Américas. Está falando de intelectualidade quando fala Santa Hildegarda de Bingen, personagem pouco lembrada hoje em dia apesar de seus múltiplos talentos nas mais diversas áreas do saber. Sabe quando a Bjork era menos creditada que seus colaboradores por seus feitos? Rosalía passa pelo mesmo processo quando aparece com seus discos cada vez mais ambiciosos e cheios de informações e pesquisa e estudo. Não por acaso, Bjork também está no disco. Não tem ponto sem nó. E ainda vamos precisar falar muito e muito de “Lux”.
Enquanto o mundo ainda começava a absorver a luz de Rosalía, Charli XCX vestiu preto e veio contar que suas férias ficarão para mais tarde. A bela está envolvida na trilha sonora da nova adaptação de “Morro dos Ventos Uivantes”, dirigida por Emerald Fennell, a diretora de “Saltburn”, filme já aguardadíssimo pelo longa quente (e superbrega) estrelado por Jacob Elordi e produzido por Margot Robbie. Pelo que Charli conta, escrever músicas a partir do roteiro enviado por Emerald foi um escape legal do mundinho “brat”. “House”, aparentemente o primeiro single de vários, veio em um caldo unindo essa inspiração com outra paixão de Charli: o Velvet Underground. Desde que assistiu ao doc do Todd Haynes sobre a vanguardista banda de Lou Reed ela viciou na frase de John Cale sobre todas as canções da banda precisarem ser brutais e elegantes. Com esse mantra na mente, ela teve a disposição de ligar para Cale e perguntar se ele queria se meter nessa história. Ele topou. Brutal. Elegante. E bem experimental para o mundinho pop, hein? Que época interessante. Os chatos piram.
Se tem um nome que diz muito sobre o que Rosalía e Charli podem fazer hoje no pop, esse nome é Robyn. Coincidência ou não, justo quando as duas estão bombando, ela quebra um longo silêncio de sete anos para em um autotune exagerado discutir a dualidade da dopamina, essa obsessão moderna. “É quase como se nem nos aceitássemos mais como seres humanos, como se estivéssemos tentando nos desvencilhar disso e explicar cada detalhe – o que eu acho ótimo, mas é também por isso que o mundo está uma merda, essa ideia de que você pode decifrar e vencer na vida ou algo assim”, cravou a compositora. Quente.
Era questão de tempo para Damon Albarn se meter com o IDLES. Mas neste encontro de gigantes da música britânica dá para dizer que o resultado é morno. Uma faixa lentinha e chapada onde pouco se percebe a presença do IDLES fora o vocal de Joe Talbot. A letra se arrisca a te colocar em dúvida sobre todas as suas fracas certezas a respeito da vida qualquer que seja sua crença (“Você sente as mentiras se insinuando?/ Tão suaves quanto o sopro de um bebê”). O luto e suas etapas serão um dos temas de “The Mountain”, nono disco do Gorillaz, previsto para março do ano que vem. É esperar.
“Sad and Beautiful World” é mais um daqueles presentes da grande Mavis Staples para o mundo. Ao colocar sua experiente voz para trabalhar em composições de “novatos” como Tom Waits ou Frank Ocean, a cantora e ativista americana reacende o brilho das faixas originais. Em “Chicago”, de Tom Waits, encontra classe e beleza na ironia rasgante. Já em “Godspeed”, de Frank Ocean, coloca o gospel modernoso de “Blonde” dentro de um arranjo tradicional. Quem sabe para inspirá-0lo a sair de casa de novo, né?
Como pede o script moderno, Hayley Williams foi entregando aos pouquinhos seu novo álbum solo, “Ego Death at a Bachelorett Party”. “Showbiz” só deu as caras online com o lançamento da versão física do disco. Corta o barato esses lançamentos fragmentados, mas entendemos o artista privilegiar o ouvinte disposto a pagar mais pela música – Rosalía fez o mesmo e ainda mantém algumas faixas de “Lux” exclusivas na versão física. Tem que ser assim mesmo. E quem pagou ficou com um dos melhores sons do disco em primeira mão.
Enquanto a aguardada parte 2 de “Confessions on a Dance Floor” não sai, Madonna lançou uma edição especial do álbum original para celebrar os 20 anos de seu lançamento. “Confessions on a Dance Floor (Twenty Years Edition)” traz para o streaming pela primeira vez a mixagem original do álbum, sem intervalo entre as faixas, respeitando o conceito de o disco funcionar como um DJ set. É outra experiência ouvir as confissões do jeito “certo”, até mais legal do que as faixas bônus, que pouco acrescentam.
Em celebração a sua temporada musical, Candy Crush criou um vídeo jogável e que respeita a dinâmica do game (!!!) com trilha luxuosa de Thundercat, que sacou uma cover do clássico da Diana Ross para o negócio. É o tipo de coisa que vai passar praticamente batido por muita gente, mas é brilhante.
Sem spoilers, por favor. É que ficamos sabendo de dois eventos musicais em séries que ainda não vimos. Tem esse cover da Aimee Mann para “Rainy Days and Mondays”, do Carpenters, em “The Chair Company” e o turco Murat Evgin fazendo uma versão para um clássico de John Lennon, “Nobody Told Me” em “Pluribus”, a nova do Vince Gilligan, criador de Breaking Bad. Pelo visto, todo episódio dessa série termina com uma versão de uma música famosa. Vamos acompanhar.
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* Na vinheta do Top 10, a cantora, de novo, a cantora espanhola Rosalía.
** Este ranking é pensado e editado por Lúcio Ribeiro e Vinícius Felix.