Top 10 Gringo – Rosalía, óbvio. Pódio ainda tem lindezas de Lily Allen e Bruce Springsteen em semana cheia de “nomões”

Desculpa qualquer coisa, ainda estamos aqui caídos no chão, jogados embaixo da mesa, procurando pelos foninhos bluetooth. Desde o primeiro play na nova da Rosalía é difícil pensar em qualquer outra coisa, foi até difícil voltar a assimilar os outros lançamentos de uma semana muito da boa em termos de músicas internacionais. O disco da Lily Allen ainda tava fresquinho, por exemplo. Uma semana que contempla novidadeiros e os mais tradicionais: temos novis do Bruce Springsteen direto dos anos 80 e dos Beatles diretos dos anos 60, lógico. 

Cair na mesmice. Tá aí algo do qual Rosalía não sofre. O play em “Berghain”, primeiro single de “Lux”, arremessa a gente a quilômetros de distância de “Motomami”. Rosalía chega operística. Uau. Porém, a enxurrada a cargo da Orquestra Sinfônica de Londres nos abandona longe de qualquer sala de concerto, somos largados na porta do Berghain, a mítica boate de Berlim. Aqui não tem tendência sendo seguida, modismo ou qualquer referência imediata a algo próximo. Estamos na viagem de Rosalía, sacando suas novas obsessões, os presentes encontrados por ela pelo mundo. Pesquisa e vivência. E tempo, muito tempo para brincar. Artista não é máquina de entrega. E como boa diva pop: a letra passa por cima de pelo menos uns cinco pecados capitais. Ah, já íamos esquecendo, tem a Björk & Yves Tumor de feat. aí. Detalhes tão pequenos. 

Em “Smile”, hit de 20 anos atrás, a britânica Lily Allen sacaneava com graça seu namorado traidor. Era a leveza da juventude, responsabilidade zero lá e cá. Quando seu marido quarentão e pai de suas filhas se comporta feito idiota é natural as coisas serem um pouco mais amargas. Esse é o gostinho que fica de “West End Girls”, primeiro álbum de Lily em sete anos. Sim, o disco é muito sobre seu rompimento com o ator David Harbour, mas também reflete uma decepção com a imaturidade geral dos homens hoje em dia. Uma decepção que Lily rastreia desde seu relacionamento até o comportamento dos carinhas online hoje em dia. Ela tem um OnlyFans, ela sabe bem o tanto de misoginia e machismo rolando por aí. E aqui não tem vítimas: ela também se coloca na ação, ela também está inserida em um mundo moderno tomado por performance vazia, doomscrolling e outros horrores. Por isso, dá muita preguiça em ver transformarem a narrativa dela aqui em um caso de fofoca. “West End Girls” é um pouco mais. A própria Lily defende que no seu álbum também tem ficção – a separação foi mais motor criativo do que um roteiro. No fim, temos bem mais do que uma historinha pessoal. No futuro, pode servir como lembrete do estado da masculinidade nos anos 2020.  

“Springsteen: Deliver Me from Nowhere”, filme onde Jeremy Allen White interpreta Bruce Springsteen, cobre justamente o período dark enfrentado pelo Boss, uma fase que culminou nas composições do mítico “Nebraska”. Conhecido pela sua sonoridade folk e intimista, o álbum de 1982 só saiu desse jeito quando sua versão “elétrica” foi abortada. As gravações com banda daquele material viraram lenda, tamanha a ponto de Bruce se confundir e dizer que eram inexistentes. Ele se corrigiu e na esteira do filme temos acesso finalmente ao tal “Electric Nebraska” na caixa “Nebraska ’82: Expanded Edition”, que ainda conta com o álbum original, outtakes e uma versão ao vivo… De fato, dá para entender por que escolheram o material gravado de forma caseira por Bruce. É tosco, mas a alma está todinha lá. O “Electric Nebraska” é perfeitinho, mas limpo demais. É a mesma história contada do jeito errado. 

Quando o Cure convidou os irlandeses do Just Mustard para sua tour pela América do Sul não sabiam dos efeitos do rolê. A banda ficou em choque ao tocar em estádios lotados – aqui no Brasil, eles integraram o line do Primavera Sound. A pergunta que surgiu na cabeça deles foi simples: e se as nossas músicas também servissem para dançar? E basta uma rápida audição em “WE WERE JUST HERE” para sacar a intenção mais pistinha deles. Porém, sem abandonar os ruidinhos. Haja ruído, aliás. Em “Pollyana”, o feedback conduz a música todinha cortando momentos de ternura pop e não o inverso, como geralmente as bandas fazem. 

Acompanhar os lançamentos é cada vez mais difícil, a gente sabe bem até por aqui, com este top. O Tyler, The Creator, não satisfeito em já ter feito ano passado uma versão extendida do seu “Chromakopia”, resolveu incluir um ano depois mais uma inédita no álbum – sim, mesmo já tendo lançado até outro álbum no meio do caminho. A história melhora. Com um textinho no Instagram, ele avisou que estamos falando agora da música fundamental do projeto. Sim, a música fundamental e que estava fora do projeto ATÉ AGORA, exatamente um ano depois do lançamento. Ah, shit, here we go again.

Duran Duran e Halloween são amigos. Em 2023, a banda já tinha lançado um disco dedicado a temas soturno, “Danse Macabre”, inclusive com um cover de “Bury a Friend”, da Billie Eilish. Neste ano, o trabalho foi menor. Revisitaram só uma música antiga deles mesmos. “Shadows on Your Side”, toda colorida em sua versão de 1983, foi pintada agora só com canetinhas pretas, cinzas, roxas e vermelhas. 

Em um dia qualquer de verão em 1965, os Beatles entraram em estúdio para gravar “I’ve Just Seen a Face” e “I’m Down”. Mais tarde, naquele dia, começaram a trabalhar em “Yesterday”. “I’ve Just Seen a Face” precisou de seis takes. O take 3 dá as caras em “Anthology 4”, dando uma ideia de como a música era sem os overdubs para preencher os vocais. É um Beatles rústico e descendo o braço. Tanto que o take acaba com Lennon avisando: “Quebrei uma corda…”

Já recebeu uma mensagem fofa do avô pelo zap? A Hayley Williams recebeu e colocou no meio de seu novo single, a gostosinha “Good Ol’ Days”. Na mensagem, Rusty Williams se diverte com a neta: Você é tão pegajosa. Acho que é por isso que te amo tanto. Você tinha que ser a primeira ligação do meu telefone novo. Eu te amo”. O amor entre vô e netinha já teve outros capítulos em 2025. Hayley conseguiu colocar finalmente na praça um disco gravado por Rusty na década de 1970. Vale escutar o trabalho do velho Rusty, lembra um pouco Guilherme Arantes e Roupa Nova (!!!). 

Como são as coisas, não? Pouca gente falando do próximo álbum da graaaaaande Juliana Hatfield, que segue fazendo os rock mais grudentos de que temos notícias. Ahhhh, se fosse um carinha qualquer aí das antigas… A música é justamente sobre envelhecer. “Ela certamente não mede palavras ao descrever a desilusão da meia-idade.” O picolé do título não é uma metáfora tão solar quanto parece, por exemplo. “Minhas esperanças e sonhos estão em declínio/ derretendo lentamente como minha mente”, anota Juliana em um dos versos. Ela tá falando dela, mas tá falando da gente também. Não tá?

“Asking for A Friend” é o primeiro single do Foo Fighters com seu novo baterista e dá algum tipo de recado: Ilan Rubin é o novo batera e já tem um som gravado. O anterior, Josh Freese, não teve essa honra. Será a banda reencontrando um rumo? Sem a produção de Greg Kurstin, o FF também volta a soar mais barulhento do que refinado. Eles já agendaram um tour com o Queens of the Stone Age e tudo. Os fãs mais antigos se enchem de esperança. 

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* Na vinheta do Top 10, a cantora e artista espanhola Rosalía.
** Este ranking é pensado e editado por Lúcio Ribeiro e Vinícius Felix