Top 10 Gringo – Quem mais senão o Lil Yachty em primeiro? Yves Tumor abrindo caminho para os pódios futuros. E o Geese com música doida em terceiro

Rappers fazem rock. DJs fazem música clássica. Uma espanhola convoca o Carnaval. E o Smashing Pumpkins solta um single novo como o bom e velho Smashing Pumpkins. Tudo “normal” no mundo da música internacional? Se você não entendeu, a gente explica tudinho na lista desta semana com os dez melhores sons que separamos para guiar suas audições. Vem com a gente que é a boa. Fora a homenagem no fim para um deus do rock que é roqueiro mesmo. R.I.P., Tom Verlaine. Inclusive a foto da vinheta abaixo é dele, com toda a licença do “vencedor” Lil Yachty, nosso top 1.

Não é hype, é o álbum da semana com todos os seus méritos. O rapper Lil Yachty, da Georgia, apresenta em “Let’s Start Here”, seu quinto trabalho, uma nova sonoridade em sua carreira. Fica um pouco de lado o trap para entrar um pouco de rock psicodélico na conta. Quem escreveu Lil Floyd em alguma caixa de comentário por aí não poderia estar mais certo. Essa mudança vai em dois sentidos: Primeiro, uma mistura de rock com hip hop um tanto quanto diferente de mashups anteriores, em que Lil encontra uma mistura mais homogênea. Segundo, a ideia é espantar os espertinhos que andavam copiando sua sonoridade. Como se Lil perguntasse: “E aí? Têm coragem de vir até aqui, turma?” É um belo questionamento para um artista fazer aos outros artistas e também para sua audiência. E consome esta rápido “the BLACK seminole” logo porque ele já está no single seguinte, que também merecia estar por aqui pelo alto. Mas vamos por partes.

O “Italiano” Yves Tumor lança seu quinto álbum no mês que vem, com o seguinte nome, atenção: “Praise a Lord Who Chews but Which Does Not Consume; (Or Simply, Hot Between Worlds)”. O que será que isso significa? De todo modo, o músico e produtor americano que vive em Turim tem músicas novas para apresentar, como esse delicioso single novo, “Echolalia”, uma viagem funky das boas. No mês seguinte, Tumor vai estar no Coachella. Vamos ver o barulho que ele vai fazer por lá.

Você está ali esperando a musiquinha nova do jovem grupo nova-iorquino Geese depois de tooooooodo o hype do disco de estreia de ano e meio atrás aí “Cowboy Nudes” começa e você pensa: “Hum…” A música vai indo normal, cadenciadinha, até entrar no meio de um turbilhão de caminhos tribais e você pensar: “Ah, tá… O Geese chegou”. Atrelada à música vem um dos vídeos mais crazy shit do ano, o que só faz melhorar a impressão que você tem da banda.

Carnaval é coisa séria e a Rosalía parece saber bem disso. “Y es que hoy es Carnaval” canta em seu novo single, que talvez ainda possa ser classficado como parte dessa fase “Motomami”. Ela também avisa na track: “Vengo en moto, soy una mami”. Apesar do papo começar no tom de “Quem eu amo não me como eu amo”, a música esconde intenções menos românticas. A abreviação do título significa, em inglês, “Minta como se me amasse”. Sacou? Lembrando que a Rosalía está vindo aí, mês que vem.

Fãs que abandonaram o Smashing Pumpkins por divergências artísticas em algum momento com o complicado Billy Corgan precisam se atentar às novidades da banda – que mantém já há alguns anos parte de sua formação original preservada, com James Iha na guitarra e Jimmy Chamberlin na bateria. Com a pretensão de fazer um álbum conceitual, na linha de Mellon Collie and the Infinite Sadness (1995), e apostando na receita clássica, de alternar momentos doces e pop com densidade e estranheza, Corgan manda muito bem em “ATUM: A Rock Opera in Three Acts” – que tem até aqui duas de suas três partes lançadas. “Butterfly Suite” carrega a doçura nostálgica que só Billy sabe fazer – pense nas irmãs “1979” e “Perfect”.

Mais um single enquanto o esperado disco cheio da ótima Caroline Polachek não chega. “Desire, I Want to Turn into You”, o álbum, sai no próximo dia 14, e enquanto isso vamos empilhando faixas legais, como esta “Blood and Butter”, porque a gente já não aguenta esperar mais pela Caroline.

A H.C. McEntire tem uma história bacana. Do passado profundamente religioso por conta da família até seu encontro com o punk rock. Da sua primeira banda voltada mais ao indie até uma certa trégua com sua origem no country e no gospel. Quando seu grupo, Mount Moriah, foi para o espaço e H.C não se via mais tão bem, acabou por encontrar apoio da sempre generosa Kathleen Hanna (Bikini Kill, Le Tigre e The Julie Ruin). Foi Hanna que estimulou H.C a pensar em seu trabalho próprio. E aqui estamos, já no terceiro disco solo de H.C com seu cuidadoso folk – repare bem nos vocais e nos timbres dos instrumentos. Tem calma, tem contemplação e a sabedoria que uma guitarra pode gritar por você com poucas notas – o solo de “Turpentine” fica na cara do ouvinte, em forte contraste com o restante da música. É imperfeito, ruidoso. Sabe muito a H.C. 

O Daft Punk acabou e isso é triste. Mas é uma alegria saber que metade do duo vai estrear solo em um álbum de música orquestrada. Thomas Bangalter está escrevendo para um balé. Sabemos que muita gente ainda separa a música clássica da popular de uma maneira zuada, como se uma fosse superior a outra – e bom, tem que gente que vai questionar até o valor da música eletrônica, uma falácia que Daft Punk ajudou a derrubar. A gente se fortalece nessa falha, para citar um poeta nosso e aproveita tudo – um dos baratos de ouvir o Bangalter “clássico” é poder voltar aos discos do Daft Punk agora e ver como ele sempre operou com essa mente sinfônica.  

Tom Verlaine. Gênio. Pai do punk. Um dos melhores e mais criativos guitarristas que já surgiram. Com o Television e também solo, Tom inventou um novo jeito de pensar música. Seja a sonoridade, seja o trato com o trabalho em torno da música. Com sua partida recente, basta ver os relatos de fãs comuns ou fãs como Patti Smtih, sua querida amiga (e sim, uma fã também), para entender a amplitude de sua postura. Tom sempre é elogiado pelas canções e pelos discos, mas também por sua generosidade, afeto e simplicidade. Uma guitarra, um bom amplificador e basta. É preciso pouco para se fazer muito – especialmente quando se sabe desde cedo como deseja ir seja lá pra onde for.  Verlaine era desses.   

Uma homenagem só para o Tom seria pouco, por isso relembramos um dos nossos álbuns favoritos do ano passado. Em “Blue Rev”, terceiro disco da banda canadense liderada por Molly Rankin, Tom é homenageado com essa faixa que cita ele em um verso – a brincadeira se amplia quando sacamos que Tom tem uma música que se chama “Always”.  





* Na vinheta do Top 10, o saudoso músico americano Tom Verlaine, do Television, que nos dia destes.
** Este ranking é pensado e editado por Lúcio Ribeiro e Vinícius Felix.