Top 10 Gringo – Olha quem vem em primeiro. Ele, Tobias Jesso Jr. (!). A semana linda tem tanto Charli XCX e Magdalena Bay quanto Beatles e Stones

Por que ninguém mais se assombrou com a nova do Tobias Jesso Jr.? Tobias quem? A gente explica… E também é bom encontrar fôlego para não se perder no pique da Charli XCX – é filme, é trilha de filme, é uma atrás da outra! E isso tudo numa semana que tem Stones, Beatles e até The XX com “novidades”. 

Quem vê o perfil do Tobias Jesso Jr. nas plataformas de streaming com um mero disquinho lançado em 2015 não imagina o quanto ele está por aí compondo e produzindo com toda a elite da música pop: Sia, Adele, Florence and the Machine, Harry Styles, Miley Cyrus, Justin Bieber, Rosalía… É aquilo: ele tem a mão e a voz para grandes canções, mas passa despercebido se descer agora no centro de São Paulo. Mas seus dez anos de silêncio na carreira solo são quebrados com a baladinha ao piano “I Love You”. Aparentemente doce e single, quase uma “Imagine”, dá para dizer que em certo momento Tobias deixa os pensamentos intrusivos falarem mais alto. Só escutando para entender. Mais que isso é spoiler. Aliás, o Tobias conseguiu juntar Dakota Johnson e a Riley Keough no vídeo para essa música. Vale demais sacar essa. 

Era tudo verdade. Charli XCX fez mesmo um álbum todinho como trilha sonora da nova adaptação de “Morro dos Ventos Uivantes”, dirigida por Emerald Fennell, a diretora de “Saltburn”. Sai no dia 13 de fevereiro de 2026 com 12 faixas. Depois do single arrasa-quarteirão com John Cale, esta “Chains of Love” é a segunda pista deste novo trabalho e vai por um caminho mais tradicional, digamos. Um popzão básico com muitas cordas e Charli bem “cantoura”, bem clássica. A tendência de 2026 está todinha por ali. 

Talvez a duplinha Mica Tenenbaum e Matthew Lewin, que vai nos visitar no ano que vem no C6 Fest, nunca tenha soado tão pop. “This Is the World (I Made for You)” poderia ser, sei lá, da Gwen Stefani com alguma sorte. De um jeito surreal, eles unem neste som uma ternurinha do rock dos anos 1950 com ruidinhos bem anos 2020 – a faixa é tão retrôzinha que até acaba em um fade out… Ela é uma das oito propostas do duo presentes em “Nice Day: A Collection of Singles”, um box reunindo os quatro pares de singles lançados ao longo deste ano. Tudo em sete polegadas, caprichado. Pelo visto, os singles tão diferentes entre si foram uma boa experiência para um futuro álbum, depois do excelente “Imaginal Disk” de 2024. É como se eles estivessem testando multiversos antes de escolherem a melhor timeline. Ah, se a vida fosse assim. 

Sabia que Jeff Beck fez teste nos Rolling Stones? A ideia era pegar a vaga deixada por Mick Taylor. A jam entre Jeff e Stones é um dos presentes da edição de luxo de 50 anos do histórico “Black and Blue”. Entre outros outtakes finalmente oficializados, a irresistível “I Love Ladies”, uma espécie de pré-”Heaven”, talvez o som menos Stones já feito pelos Stones. Na versões piratas, diziam que o Jeff tocava nesse som, o que aparentemente era mentira. Outro ouro da coleção é um material gravado ao vivo em 1976 em Londres no Earls Court. Ron Wood completando ali um ano de banda voa na guitarra – é o começo de sua simbiose com Keith Richards. Há 50 anos, os Stones começava de novo. É de chorar.  

Para se ter uma ideia do ritmo de trabalho dos Beatles em 1965, foram necessários três takes para registrar uma música do porte de “In My Life”. A versão conhecida por nós vem do take 3. O take 2 ficou incompleto e o take 1 era inédito até há pouco, e agora faz parte do “Anthology 4”. As diferenças são quase imperceptíveis, tamanha precisão. Ficam faltando os vocais dobrados e o solo de piano acelerado, uma ideia que George Martin registraria dias depois primeiro na metade da velocidade. Ao dobrar a velocidade da gravação, ele encontraria “por acaso” aquele timbre agudo. Era o começo dos Beatles descobrindo que um estúdio podia ser muito mais que uma mera sala de gravação de reproduções ao vivo. 

David Byrne fez o que todo artista anda fazendo logo após lançar um álbum com um punhado de músicas: soltou uma música nova! “T Shirt” é uma inédita que está rolando na sua turnê e é nada mais do que uma parceria sua com Brian Eno e a participação de Dev Hynes, aka Blood Orange, no piano. Se entendemos a letra, Mr. Byrne está celebrando o potencial de uma camiseta em dar recados: o vídeo é acompanhado de camisetas que contém desde mensagens políticas, do tipo “Make America Gay Again”, até piadas bobinhas, como “Eu sou virgem (é uma camiseta velha…)”. 

Mac McCaughan e Laura Ballance do Superchunk são os donos da Merge Records, selo onde o Magnetic Fields lançou o clássico “69 Love Songs” em 1999. Natural a chefia dar uma moral anos depois e gravar uma daquelas 69 canções de amor, amadas por Mac por sua aura Ramones em sua simplicidade pop. Essa conexão entre a obra vasta de Stephin Merritt do Magnetic Fields com o poder de síntese dos Ramones está expressa na velocidade que o Superchunk dá na originalmente lentinha “I Don’t Want to Get Over You”.

Tendo um dos melhores nomes de banda do mundo hoje em dia, o quinteto britânico já é de uma turminha inspirada em novatos como Black Country, New Road e Black Midi. Para o jornal “The Guardian”, eles definiram o som deles como “algo entre o bonito e o barulhento”. Estamos falando de uma banda com influência pós-punk que tem um violino em sua formação. Agora assinaram com a Fiction Records, gravadora que tem nomes como Cure e Jehnny Beth, e celebram com o single “Only Girl”. Ficar de olho nisso aí.  

Vai ser uma injustiça com a Juliana Hatfield se o seu novo álbum solo for pouco lembrado. É um single mais grudento que o outro – todos os três entraram na nossa listinha semanal, este Top 10 Gringo! No lançamento de “Fall Apart”, ela tentou explicar um pouco seu método de composição: “Eu adoro misturar emoções sombrias e pesadas com música pop divertida e animada. Talvez isso seja perverso, mas é o que eu faço. E algumas pessoas nem percebem que o que eu canto é tão sombrio”. Não percebemos mesmo! Esta “Fall Apart” aqui por exemplo é sobre traumas antigos e parece perfeita para uma caminhada no parque. 

A estreia do The XX não está completando nenhuma data redondinha, mas a banda lançou uma versão deluxe do disco como quem não quer nada. “Relembrar 2009 trouxe à tona tantas memórias – parece mesmo outro mundo”, escreveram no Instagram. Além da tracklist original, a nova versão acrescenta cinco bônus tracks. Uma delas é o arrepiante cover para “Teardrops”, de Womack & Womack. 

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* Na vinheta do Top 10, o cantor, compositor e multiinstrumentista Tobias Jesso Jr.
** Este ranking é pensado e editado por Lúcio Ribeiro e Vinícius Felix