Top 10 Gringo – Novidade: Fontaines D.C. em primeiro. Mas garantimos que os outros dois do pódio você nunca imaginou

Vamos ser breve na introdução hoje porque dedicamos mais de MIL palavras ao novo do Fontaines. O que era uma resenha curta virou coisa de louco em tempos de textos curtos – e a semana não teve só Fontaines, então bora de play nesta lista e na leitura do nosso quase “Romance”. 

Muitas bandas têm muitos discos, mas poucas têm muitos discos bons de verdade. Em sequência e contando só os quatro primeiros, menos ainda. Caramba, tem grupo ou artista que não aguenta nem fazer o quarto álbum – esgotamento físico ou criativo são coisa séria. Daí o nosso privilégio de poder curtir os irlandeses do Fontaines D.C., que elogiamos desde a estreia em “Dogrel” em 2019, chegarem firmes, fortes e melhores ainda em seu quarto trabalho de estúdio, “Romance”. Com sua capa meio bizarra, em tons metálicos, eles quebram o ar mais dramático dos álbuns anteriores ao passo que assumem suas personas adultas – mais experientes, mais doidinhos e ousados. “Romance” também rompe de vez com qualquer fórmula pós-punk que parecia dar rascunho para as primeiras canções do grupo. Por aqui, nenhuma das faixas parece sequer vir do mesmo lugar. O Fontaines nunca soou tão diferente, diverso, um tanto mais pop e um tanto mais experimental – ainda que o vocalista Grian Chatten rechace essa palavra. Em um papo com a “NME”, ele falou que não é um Frank Zappa, sua responsabilidade é com as ideias que tem e ponto final. E são essas ideias que levam a banda a flertar com o rap à moda inglesa em “Starbuster” ou trazer um arranjo de cordas bem sofisticado para a joyciana “Horseness Is the Whatness”. André Conti, editor brasileiro que sabe tudo de James Joyce, obsessão dos Fontaines, conta que, em “Ulysses”, Joyce faz com que “cada variação de estilo e ponto de vista amplie a nossa consciência do livro”. Olha, dá para arriscar dizer que o Fontaines D.C. fazem de “Romance” seu “Ulysses” – ou seria só acaso que Grian Chatten relacione a última música do álbum (“Favourite”) com “Finnegans Wake”, último romance de Joyce, lançado anos após “Ulysses”? Estendendo a metáfora, é como se “Dogrel”, “A Hero’s Death” e “Skinty Fia” fossem a coletânea de contos, o primeiro romance curto – agora eles mandaram um ousado livro de 600 páginas. Cabe a nós ler e reler. Ouvir e ouvir.

Mystery Tiime tem pouco mais de mil ouvintes mensais no Spotify. Ficamos sabendo do jeito mais antigo e delicioso do mundo: um amigo que mandou. E ficamos de cara com o eletrônico de tom indie e com o melhor sax que escutamos no pop desde o Rapture. Olho no Mystery Tiime, acunha adotada por Ayman Rostom. Os DJs gringos mais descolados já tão tocando esta por aí. 

O mundo pop já foi mais conectado com os temas espaciais. Como o assunto hoje anda na mão das piores pessoas do mundo, é bom termos alguém como o espanhol The Boy from the South fazendo o espaço ser legal de novo. E nada melhor do que começar essa retomada com uma festa, uma “Space Party”. Essa energia tem tudo a ver com  Pedro Balañá, nome real do Boy, que deixou o mercado financeiro inglês para fazer arte. Go, Pedro, go. Ele já fez show no Brasil no ano passado e vai voltar ainda neste. Avisaremos aqui.

Achando a Charli XCX muito convencional para o seu gosto? Dá uma experimentada no duo Magdalena Bay, novinhos de tudo a ponto de ter a Charli como referência inicial. O gosto por uma bizarrice começa já na capa, onde um CD é inserido na cabeça da vocalista Mica Tenenbaum. Acaba sendo uma boa imagem – esse CD vai ficar na sua cabeça, se der uma chance. 

Tem algo legal em “Short n’ Sweet”, o novo álbum da “ex-flopada” Sabrina Carpenter? Olha, além dos singles bombados “Please Please Please” e “Expresso”, dá para enxergar alguns outros sucessos vindo aí. Não vai mudar o mundo nem nada disso, é um pop convencional à beça, mas dá para sentir aqui que a Sabrina está mais inspirada que a Taylor…

Tudo indica que em breve teremos o terceiro álbum do The Smile, bandaça-lado B formada por Thom Yorke, Jonny Greenwood e Tom Skinner. As dicas foram lançadas no Instagram da banda e fãs pelo mundo tentando desvendar o código. Será? “Wall of Eyes”, segundo disco deles, foi lançado neste ano, embora janeiro de 2024 pareça ter acontecido dez anos atrás. Por aqui, curtimos o delicioso single “Don’t Get Me Started, que saiu primeiro só em vinil, mas já está por aí. 

Ah, o rádio, uma de nossas maiores paixões. Curtindo um pouquinho da programação da californiana KCRW demos de cara com esta belezinha do recente “Milton + Esperanza”. Milton Nascimento no rádio brasileiro? Só se for uma velharia. Nessas horas que a gente sente falta de um respeito maior do rádio com a música nova – ou com a música, em geral, visto o domínio econômico que nos tira um meio tão importante para transmissão cultural. Terrível. 

Gente, quanta energia (ainda) vinda dos Pixes!  “Oyster Beds” é uma canção aceleradinha inspirada nas pinturas amalucadas de Black Francis, que são meio que listadas na música – curtinha, direta ao ponto. “The Night the Zombies Came”, próximo álbum do quarteto, chega em outubro. 

Baseado em fatos reais, Thurston Moore conta em 8 minutos a história de um mergulhador que fica perdido e é encontrado morto dias depois, um enredo que se desenrolou enquanto “Flow Critical Lucidity”, novo álbum de Thurston, era escrito – escapar das pressões do mundo e sucumbir na natureza chamou a atenção do compositor. De certa maneira, esta “The Diver” carrega essa tensão, ao começar expansiva e ir se fechando em si mesma. 

A noticia do ano. É oficial. The deal is sealde. Quando até os comeback ficaram gastos no universo pop, aquele que parecia impossível, embora fosse o mais óbvio de todos, vai mesmo rolar. Liam e Noel juntos e com cara de que mal se falaram para decidir tudo. Isso sim é um retorno quente! Por enquanto, só na Inglaterra, Escócia e Irlanda… E outra polêmica: dá para chamar de comeback do Oasis sem o Bonehead? Separe seu cartão de crédito e o passaporte. 

* Na vinheta do Top 10, para variar, a banda irlandesa Fontaines D.C, representada pela capa de seu disco.
** Este ranking é pensado e editado por Lúcio Ribeiro e Vinícius Felix.