Numa semana de poucos álbuns decentes lançados, quem comanda as coisas por aqui são os bons e velhos singles – se bem que não dá para falar em semana fraca de álbuns quando Childish Gambino sai da toca, né? Nem que seja para “relançar” um disco de 2020!
Em 2020, Childish Gambino aka Donald Glover lançou seu quarto trabalho de estúdio, “3.15.20”. Foi um disco lançado na emergência da pandemia, onde várias faixas nem tinham nome, apenas a marcação de tempo em que tocam no álbum. Glover tinha perdido o pai recentemente, à época. Lançar tudo como estava parecia um jeito de garantir que se acontecesse algo, as músicas estariam na rua. Quatro anos depois, com muita água já tendo rolado, Glover resolveu passar tudo a limpo. Na última quarta-feira, “3.15.20” desapareceu dos streamings e ressurgiu na segunda, 13 de maio, como “Atavista”. Agora todas as músicas têm título e “Feels Like Summer” foi limada. “35.31” virou “Little Foot Big Foot” e ganhou um trecho inédito rimado – e um vídeo dirigido por Hiro Murai. Para fins históricos e de comparação, a versão original do disco segue viva no YouTube de Gambino, ainda que em baixa qualidade. Enfim, Childish Gambino, ladies and gentlemen.
Não é segredo o quanto gostamos da Beabadoobee por aqui. Daí imagina nossa expectativa alta por “This Is How Tomorrow Moves”, seu terceiro disco, que sai em agosto e tem a produção do autor de auto-ajuda Rick Rubin – entenda nossa ironia com o barbudo, por favor. Brincadeiras à parte, “Take a Bite” é uma amostra de Beabadoobee de um sofrimento seu de ficar criando sempre os piores cenários em relação a quem está com ela. Como canta em determinado momento, ela faria meio que de tudo para ver o mundo com os olhos da pessoa amada – quem sabe isso a acalmaria, mostraria que está tudo bem.
A gente falava tanto da Remi Wolf lá em 2021. A artista californiana iluminou a obscura época terrível da pandemia com sua estreia, “Juno”. “Big Ideas”, que chega em julho, será sua experiência com a famosa treta do “second coming”. Julgando pelo singles lançados até agora, “Cinderella”, “Alone in Miami” e a nossa preferida, “Toro”, vem discão por aí. Ah, e esta “Toro” não é sobre o signo de Touro. É sobre sexo barulhento em hóteis.
O que será que o King of Leon buscou em Kid Harpoon, co-produtor do hit “”As It Was”, do Harry Styles? “Can We Please Have Fun”, apesar do título, não é a tentativa de soar pop. Não temos por aqui nada perto de “Use Somebody”. Se, no trabalho anterior, a banda já buscava retornar às raízes, a investigação aqui parece ser ainda mais profunda em voltar a época em que eles tinham cabelos bizarros e eram só uma bandinha desconhecida. Ainda que o disco seja lançado pela gigante Capitol, ele foi escrito pela banda mesmo sem contrato – como se fossem independentes, uma liberdade e tanto.
Isaac Dunbar tem a aparência de Prince na juventude – o bigode é idêntico. Não vamos comparar talentos, mas Dunbar tem de sobra, viu? Obcecado pela Lady Gaga, ele aprendeu a construir música refazendo os passos de seu produtor predileto, Madeon. “Backseat Girl” tem o jeitão de hit gigantesco.
Charli XC já tem o fandom e agora está montando seu squad. Não falta mais nada para ela dominar o mundo e tentar pegar o trono de rainha do pop, principalmente porque parece que o disco da Dua Lipa não rolou bem. Esta “360” funciona como hino auto-referente e poderoso. No vídeo do novo single, que estará no álbum “Brat” (junho), mostra seu time formado celebridades como Emma Chamberlain, Rachel Sennott, Chloe Sevigny e a celibata Julia Fox, que inclusive é citada na letra. “I’m everywhere, I’m so Julia”
A gente adiantou por aqui que a Camila Cabello ia em sua nova fase por um caminho mais esquisitinho – muito apoiada pelo produtor El Guincho, parça da Rosalía. “He Knows”, com a presença de Lil Nas X, é mais uma de suas tentativas nesse caminho. É boa, embora um tico esquecível. Vamos ver como fica essa história quando “C,XOXO” for lançado. O disco está previsto para junho.
Nosso cowboy mascarado favorito resolveu lançar um disco de duetos. “Stampede: Vol 1” tem participações de William Nelson, Noah Cyrus e sir Elton John em uma cover divertidíssima de seu clássico dos anos 1970. É um ponto fora da curva do par country e voz grave de Orville, mas funciona, viu? Nas outras músicas do disco, ele respeita um pouco mais suas origens.
É bom acompanhar um disco por sua campanha de divulgação. Ajuda a gente a voltar mais vezes nele. No último sábado, o Vampire Weekend colou para uma dobradinha no programa “Saturday Night Live”. Tocaram “Gen-X Cops” e “Capricorn”. O bom de ver uma música como “Capricorn” tocada ao vivo é ter um reforço visual de sua dinâmica maluca – ela começa como uma doce balada, ganha o acompanhamento de um quarteto de cordas e aí chega a um momento torto e barulhento com uma guitarra e uma sintetizador indo para outra direção enquanto a banda se mantém fiel à parte doce da música. Ao vivo, dá para ver Ezra Koenig lutando para manter a sobriedade da sua parte.
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* Na vinheta do Top 10, o rapper americano Childish Gambino.
** Este ranking é pensado e editado por Lúcio Ribeiro e Vinícius Felix.