Top 10 Gringo – Kali Uchis em primeiro, óbvio. Yard Act todo irônico traz um hit em segundo. E tem Black Keys no pódio

Semana sem muita discussão quanto ao primeiro lugar. Difícil mesmo foi não dar as outras nove colocações para a Kali Uchis. O primeiro “disco do ano” já está entre nós. Uau.

Kali Uchis está mais do que perdoada pelo show meio caído que fez no Brasil ano passado. “ORQUÍDEAS”, seu quarto álbum de estúdio, é uma nova estrela em uma discografia impecável até aqui. Lançado menos de um ano após “Red Moon In Venus”, o disquinho traz a artista voando criativamente. Tudo é tão amarradinho que uma faixa cola na outra. Ambientações incríveis, letras passeando entre idiomas com total fluidez e climas que variam entre o dia (“Heladito”) e a noite (“Pensamientos Intrusivo”). Modernidade e flertes com coisas mais tradicionais, tipo o bolerão “Te Mata”. Mais surpreendente que isso, só o clima de festa junina em “Dame Beso // Muévete”, que encerra os trabalhos com direito a agradecimentos e tudo.  Parabéns, mamãe!

Os ingleses do Yard Act podem ser consideraos uma banda um pouco sisuda pelo visual e pela forma de suas músicas, mas seria uma injustiça com as doses cavalares de ironia que despejam a cada música. “We Make Hits” é mais uma das provas do bom humor excêntrico da banda, evidenciado no vídeo da faixa. A letra é um exercício metalinguístico sobre escrever canções com o melhor amigo – os tais hits, “mas não hits como o do Nile Rodgers”, pontuam, cutucando artistas que se inspiram por demais em Nile. E apesar da leveza nas brincadeiras sobram versos sobre o fim do mundo. “E assinamos com uma subsidiária da Universal, Inc./ Porque a água continua subindo/ E não há surpresa/ Qualquer pessoa com olhos e ouvidos por aqui sabe/ Que todos nós vamos afundar”. Ah, e se essa música não der certo, eles já avisam no fim da canção: “era tudo ironia”. Lógico, pô.

Por falar em leveza, bem para cima é o novo single do Black Keys. A dupla Dan Auerbach e Patrick Carney apresentou um single escrito ao lado de Dan The Automator e Beck (!!!) para começar os trabalhos do álbum “Ohio Players”. O disquinho com sua sugestiva capa, digamos, tem estreia marcada para abril. Detalhe: o vídeo da música é bem curioso, aproveita um filme do fim dos anos 1950 para ilustrar a música intercalado com imagens recentes da banda. Bem Black Keys. 

O inglês Yussef Dayes, nomão do jazz contemporâneo, anda tocando pelo Brasil. Vimos ali no Top 5 Shows. Se apresentando e impressionando. Seu disco mais recente, “Black Classical Music”, é de tirar o fôlego. O jazz não está dead, não. A começar por essa faixa-título dele.

Já falamos de uma música perfeita para a festa junina de 2024, podemos pedir uma para o momento dança lentinha de uma festa country. Estamos falando da nova da Adrianne Lenker, vocalista da gigantesca banda indie americana Big Thief. Ela anunciou seu disco solo “Bright Future”, onde aparece de chapéu na capa. O clima bucólico da faixa é perfeito para uma tarde no campo, também. 

É o rap. Kim Gordon, que já nos tempos de Sonic Youth jogava o noise da banda para conversar com a cultura hip hop, se solta no lado mais experimental do gênero no primeiro single do que será seu próximo álbum solo. O vídeo da música traz a filhota Coco Gordon Moore atuando. Idêntica à mãe. “The Collective” sai em março e tem uma capa com a cena mais corriqueira do mundo: alguém encarando o celular.   

Essa garota tímida da Inglaterra já liderou nosso Top 10 em 2022 e volta a nossa listinha por conta do EP que está preparando: “Club Shy”. Como o nome já indica, são composições voltadas para a pista, ou seja, sacolejantes. Outra dica do que vem por aí contada pelos singles é que Shygirl vai investir numa linha mais tradicional em sua pegada eletrônica. São sons mais grudentos e menos experimentais, cheios de ganchos e que clamam por remixes. Toma dois singles logo. O primeiro tem dedos mágicos do Boyz Noize. É ouvir e sair dançando.

Tem um impacto louco quando você está lá ouvindo de boas o novo do 21 Savage e começa uma letra em português do nada. Estamos falando do sample de “Serenata do Adeus”, do Vinicius de Moraes, que pontua toda a música “redrum”. Por conta disso, rolou um debate sobre o quanto nós mesmos não valorizamos nossa cultura musical por aqui. Um argumento interessante sobre a falta de mais samples brasileiros no rap nacional é a questão complicadíssima dos direitos autorais. Não é falta de vontade, é falta de grana e compreensão dos autores. Mas, para arrematar, muito convencional esse som do 21 Savage, hein? O debate foi mais quente.

De maneira discreta, no final do line-up, fora da programação dos três dias (ou dentro das três, vai saber), o Coachella anunciou o retorno do No Doubt, marcando a característica clássica do festival de ser o local dos melhores comebacks do planeta. Enquanto provamos de novo do delicioso riff de “Just a Girl”, fica a perguntinha: turnê pelo resto do mundo? E o Brasil nessa? Alô, produtores (cóf)!

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* Na vinheta do Top 10 Gringo, a cantora americana Kali Uchis.
** Este ranking é pensado e editado por Lúcio Ribeiro e Vinícius Felix.