Difícil resumir esta semana, viu? Muitas emoções diferentes deixaram o período complexo. O primeiro lugar foi indiscutível na nossa visão. Os ingleses do Hot Chip vieram com o melhor álbum da semana disparado e concorrem a disco do ano. Ironicamente, estamos falando aí de um álbum também “ortodoxo”, cujo objetivo é oferecer uma alegria ao ouvinte, mas que também passa por momentos de baixa, próprios da alegria real da vida. Talvez seja esse sentimento que resuma o Top 10 desta semana. Cada música tem algo reconhecível imediatamente, mas revela um pouco mais aos ouvidos mais atentos. Complexo, falamos. E repara na nossa playlist mara. Este 2022 já tem mais de 280 músicas de suas principais que estão registradas nela.
A gente avisou… E o novo álbum do Hot Chip cumpre a expectativa de ser um dos ótimos lançamentos de 2022. Fomos alimentando isso por aqui, single a single. Do hit “Down” até a singela (e a nossa favorita) “Eleanor”, sem nos esquecer da faixa título, uma porrada. Mas rapidamente passamos a amar tudo em “Freakout/Release”, oitavo álbum dos britânicos, frequentadores de eventos Popload. O disco que é para ser uma dose de conforto e entusiasmo para audiência, nas palavras da banda, parece refletir um bom momento do grupo, feliz com sua produção. Mesmo em momentos delicados, como na expressão de exaustão que é “Broken”, existe alívio na capacidade de dividir um sentimento, como explica Alexis Taylor, vocalista da banda. Fora que esta música contém um dos refrões mais deliciosos do ano. Acho que vamos falar mais deles por aqui…
A reunião entre The National e Bon Iver não é estranha para os fãs – tanto dos artistas em si quanto dos fãs da Taylor Swift, que conseguiu reunir ambos em seu disco “Evermore” (2020). É que Aaron Dessner do National e Justin Vernon têm juntos uma banda, um festival e um selo… É muita coisa. Natural que rolasse um help ocasional de um deles no projeto do colega. E a voz de Vernon se encaixa muito bem nessa melancólica canção sobre despedidas e suas memórias complexas, para usar o termo da semana. Provavelmente, é o começo do anúncio de um novo disco da banda, o sucessor de “I Am Easy To Find” (2019).
Uma falha nossa é não conseguir dar a devida atenção ao k-pop. Pelo volume de trabalho e por não ser nosso foco, a gente não dá conta. Mas só sendo muito distraído para não notar o novo arrasa-quarteirão da BLACKPINK, grupo sul-coreano formado por Jisoo, Jennie, Rosé e Lisa. Para se ter um ideia do impacto do retorno das meninas, que preparam seu segundo álbum, o vídeo de “Pink Venom” teve quase 100 milhões de acessos nas primeiras 24 horas – isso é um recorde no YouTube. A faixa tem um pouco de tudo, pitadas de pop, rap e rock – inclusive, vários trechos fazem sutis referências às coisas da Rihanna, B.I.G e 50 Cent. Um TikToker sacou essas partes e nos comentários tem gente falando em plágio, falta de criatividade… Exagero! Talvez a conversa mais legal e complexa aí é quanto o pop coreano se inventa a partir de tantos elementos recombinados – um lugar onde o Brasil voa, por exemplo. O resto do mundo que aprenda.
A banda norte-americana The Mountain Goats é praticamente uma instituição do indie, na ativa desde 1991. Seu líder, o compositor John Darnielle, aproveitou o lockdown para fazer do 21º álbum da banda (!!!) quase um filme de tão conceitual sobre uma certa revolta contra o mundo. “Bleed Out”, não por acaso, abre com este pequeno épico emocionante, com um personagem disposto a encarar uma jornada longa de treino para fazer valer seu objetivo. Mesmo que tanta dor seja recompensada durante poucos minutos, ele insiste. Darnielle compara este som com as cenas do Rocky se preparando antes de suas lutas. Interessante, não?
Normal que uma banda indie cite como referências para seu novo álbum o Lemonheads e a Liz Phair, mas é inusitado que ela mencione o “calor” como uma influência determinante. Porém, faz sentido a ponderação do quinteto texano Why Bonnie. A banda chegou a considerar gravar o álbum escrito em Nova York por lá mesmo ou na Califórnia, mas voltaram para a quente e bucólica Silsbee, uma cidadezinha texana com pouco mais de 5 mil habitantes. E esse é o clima que toca o álbum todo, um pouquinho de solidão da fazenda, um pouquinho de guitarras que se derretem em noise da cidade grande. O resultado: um disco quente, claro.
Essa não foi lançada oficialmente, só tem no YouTube, mas vale o registro. Eddie Vedder fez uma bela versão da canção que o grande Joe Strummer (The Clash, Mescaleros) escreveu imaginando que Johnny Cash gravasse em sua série de álbuns produzidos por Rick Rubin – Strummer chegou a cantar uma faixa com Cash, mas sua música ficou pelo caminho. Só apareceu um tempo depois em seu disco póstumo, “Streetcore” (2003). A música está disponível no canal oficial do Joe.
Um bonito lado B dessa banda formada por uma galera tuaregues que vive na Argélia. O ambiente que a música passa é absurdo. Em uma “canção simples de amor”, criam um entardecer solitário em uma pequena cidade que deixa a madrugada febril do Bruce Springsteen em “I’m on Fire” com inveja, para ficar em um exemplo. Vale sacar o disco mais recente deles, lançado neste ano: “Aboogi”.
Pela terceira semana seguida (ou seria quarta já?), vamos falar de house – o estilo que Beyoncé recolocou no mapa do pop. Quem faz algo interessante no gênero é Waajeed, produtor e instrumentista que trabalhou com o gigantesco J Dilla. Nascido no berço do gênero, Detroit, ele prepara um álbum solo que leva o elegante nome de “Memoirs of Hi-Tech Jazz”. Para ficar hipnotizado.
Já falamos de uma instituição indie hoje, olha outra se formando aí. De Liverpool, os Wombats caminham juntos desde 2003 e seguem com a mesma formação – algo raríssimo quando o assunto é rock. Mais cedo, neste ano, eles lançaram o bom álbum “Fix Yourself, Not the World” e já retornam com mais inéditas no EP “This What It Feels Like To Feel Like This”, que chega em breve e que dá nome a este single. Fôlego de garotos.
Seria a hora de rever nossos conceitos sobre o álbum mais recente da Lorde? “Solar Power” (2021) não empolgou muito a gente na época, mas escutando “Oceanic Feeling”, por conta do lançamento do vídeo da música, parece que a proposta de um slow down da Lorde faça sentido – talvez a pressa tenha atrapalhado nossa avaliação. A música, que encerra o disco, tem seis minutos e é baseada quase toda em dois acordes até alcançar o refrão. E tem uma letra bonita, com Lorde no mar lembrando do pai e imaginando como pode ser sua filha.
* Na vinheta do Top 10, a banda inglesa Hot Chip.
** Este ranking é pensado e editado por Lúcio Ribeiro e Vinícius Felix.
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