Não era a ideia inicial, mas o Top 10 da semana ficou muito roqueiro. É guitarra para todo lado. Dos malucos do Geese aos também malucos do IDLES, sem nos esquecermos de bandas novinhas de tudo como NewDad e Momma. Para não dizer que esnobamos o pop, uma baladinha nota 10 da gigante Chappell Roan.

A imprevisibilidade do próximo passo do grupo nova-iorquino Geese é algo notável. Eles sempre são esquisitões, as letras são preocupantes e a gente fica considerando chamar um médico para ver se tá tudo bem com os caras. Bom, o próximo disco vai se chamar “Getting Killed” e uma das faixas se chama, em tradução livre, “No País da Cocaína”… Aí eles nos entregam mais um single do disco, a faixa se chama “Trinidad”, a capa do single é o primeiro resultado do Google para Trinidad e Tobago e a letra é indecifrável, também carregada de imagens pesadas que provavelmente têm pouco a ver com a ilha caribenha. Talvez o título venha da intenção inicial da música, que tem algo de praiana nos timbres iniciais, até ir se desmanchando entre gritos, metais desconexos e microfonias. Talvez fossem eles tentando ser pops. Não rolou e que maravilha que não.
Darren Aronofsky é um diretor de cinema reconhecido por carregar na tinta na hora de desenvolver seus dramas. Não teme soar meio brega ao tentar ser épico. Até por isso, costuma dividir bem as opiniões. Tem quem ame e quem odeie. Não é muito diferente da situação do IDLES, se formos ver. Exagerados e caóticos, eles também vivem entre serem celebrados ou odiados. Pergunte a opinião do Sleaford Mods sobre o Idles para ver uma coisa… Daí que faz sentido o casamento Idles e Aronofsky. O diretor convidou a banda para trilhar seu novo filme, tanto entregando algumas inéditas, caso desta “Rabbit Run” quanto interpretando composições originais de Rob Simonsen. Um play aqui e já dá para sentir o quanto deve ser exasperado o ritmo do filminho.
Chappell Roan bombou tardiamente. Seu álbum “The Rise and Fall of a Midwest Princess” (2023) só foi descoberto na medida que seus shows começaram a causar no verão do ano passado. Um processo semelhante acontece com suas músicas novas, lançadas ao vivo muito antes de ganharem uma versão de estúdio – algo comum para artistas pequenos e uma raridade para estrelas pop do tamanho de Roan. Ok. Talvez ela considere que ainda não chegou nesse ponto ou gosta mesmo de ir testando as coisas. Em entrevista à “Vogue”, ela comentou que talvez leve cinco anos para escrever seu segundo disco. Fato é que esta “The Subway” virou uma favorita dos fãs, uma baladinha dramática, porém bem-humorada, onde ela topa com a ex pela cidade e dá uma pirada: “Eu vi seu cabelo verde, a pinta perto da sua boca/ Lá no metrô, quase tive um colapso”.
Manchester e sua música. A nova sensação da cidade é a jovem Chloe Slater, que não nasceu por lá, mas está por ali desde a universidade. Chamada de “the new-generation indie guitar hero” pela Guitar.com, Chloe coleciona singles onde capricha nos riffs e nas tiradas. Entre seus alvos, os machinhos pretensiosos (“Ah, então você gosta de Tarantino?/ Nunca assisti a esse filme/ Como é mesmo o nome?” em “We’re Not the Same”) ou celebridades das redes sociais (“Selo azul/ Dinheiro novo/ (Sensação artificial de notoriedade)” em “Tiny Screens”. Fica a expectativa por um álbum bonzão. O single “Harriet” que destacamos aqui é uma rara canção sua sobre dores de fim de relacionamento. Foi escrita quando ela tinha 18 anos, ou seja, quatro anos atrás. O vídeo da música vai agradar os fãs da série “Normal People”. Por ser a cara da Daisy Edgar-Jones, ela recriou diversas cenas do seriado. Muito bom.
Das trocentas músicas do Big Thief, “Granmother” é a primeira escrita pelos integrantes da banda tudo junto – Adrianne Lenker, Buck Meek e James Krivchenia. Com participação de Laraaji, um craque da música ambiente, a banda se permite viajar soltinha. A faixa estará em “Double Infinity”, previsto para o mês que vem. Algumaúvida que será discão?
Por falar em viagens e abstrações, a nova do Lemonheads, o grupo do cada vez mais brasileiro Evan Dando, vai por essa vibe conduzida na guitarra de Apollo Nove, brasileiro nato. O tom meio falado da música foi inspirado em Lou Reed, já o texto vai por uma linha mais de que mentir para si mesmo é sempre a pior mentira. “Eu te digo, a vida é curta demais para viver/ para viver uma mentira”, caneta Dando em um dos versos.
Enquanto os fãs especulam sobre a vida amorosa de Hayley Williams, ela parece mais ocupada em tocar a carreira solo. Suas 17 músicas inéditas, lançadas com exclusividade em seu site, finalmente caíram nas plataformas de streaming e ela até lançou um vídeo para “Ego Death at a Bachelorette Party”, música onde detona o racismo e a intolerância religiosa impregnados em Nashville.
É o baterista Joel Amey que comanda “White Horses”. A faixa tem uma pegada acústica grandiosa, bem do jeitinho que curte o requisitado produtor Greg Kurstin (Kylie Minogue, Paul McCartney, Harry Styles, Miley Cyrus, Liam Gallagher e Foo Fighters). É o Wolf Alice na sua fase mais sofisticada, digamos.
Sempre é 1985 na Irlanda, né? Olha o charme do pós-punk chuvoso do NewDad. Se bem que o trio formado por Julie Dawson, Fiachra Parslow e Sean O’Dowd, sonhando mais alto, agora vive na não menos chuvosa Londres e sente saudade da pequena Galway, cidade irlandesa para quem dedicam a bonitinha “Pretty”.
Se a gente falou de uma banda chamada NewDad, que tal falar de uma chamada Momma? É um quarteto californiano que descobrimos ouvindo a excelente rádio KEXP, da abençoada Seattle. O grupo é liderado por duas guitarristas (Etta Friedman e Allegra Weingarten) que fazem um bom dueto harmônico nas vozes e nas seis cordas. “I Want You (Fever)”, por exemplo, é um banho de guitarras se sobrepondo. Delícia de som.
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* Na vinheta do Top 10, .
** Este ranking é pensado e editado por Lúcio Ribeiro e Vinícius Felix.