Top 10 Gringo – Fontaines D.C. carrega o primeiro lugar com orgulho. Pusha T puxa o segundo post. As Ibeyi entra no pódio

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* A semana é da nossa banda favorita. Não teve jeito, ainda que a competição tenha sido acirrada, viu? Muitos não acreditam, mas não para de sair música boa no planeta. E o Fontaines D.C. consegue ir ainda mais longe em mostrar que dá para fazer um rock bem interessante em 2022… Mas, sem adiantar nossas ideias, vamos ao papo da semana e a playlist, ela mesma.

1 – Fontaines D.C – “In ár gCroíthe go deo”
Posso falar nossa ideia? Acho que vamos comentar todas as músicas desse disco novo, porque os irlandeses do Fontaines D.C. chegaram pesado aqui em “Skinty Fia”. Nosso primeiro destaque é logo a poderosa e emocionante faixa de abertura. A letra dá o tom político do disco, ligado em discutir imigração e a xenofobia ao abordar a história de Margaret Keane, que em solo inglês teve proibido o direito de colocar no seu túmulo a inscrição em irlandês “In ár gCroíthe go deo”, que significa “Em nossos corações para sempre”. “Poderia ser uma história dos anos 70, mas aconteceu tem poucos anos”, disse o vocalista Grian Chatten. A banda relatou já um certo desconforto com a mudança para a Inglaterra nesse período em que bombou. Histórias como essa, que evidenciam um conflito quase silencioso, conversam com esse momento do grupo. Em tempo, a família de Margaret ficou tão emocionada com a lembrança que a tocou para Margaret em seu túmulo, que agora carrega a inscrição “In ár gCroíthe go deo” após uma batalha judicial. Tá loko!

2 – Pusha T – “Dreaming of the Past” (com Kanye West)
E, por falar em disco que temos que comentar quase que faixa a faixa por aqui, Pusha T fez um desses com “It’s Almost Dry”, sequência do excelente “DAYTONA” – aliás, esse novo álbum é quase uma parte 2 do lançado em 2018. Pensa que, além de versar como poucos, Pusha T traz aqui metade das produções assinadas por Pharell e a outra metade assinadas por Ye, que colabora com ele na faixa que destacamos. Aliás, essa é daquelas onde dá para ver a assinatura de Kanye. Só ele consegue usa um sample dessa forma “quase na íntegra/quase outra música”, no caso, a versão que Donny Hathaway fez para “Jealous Guy”. Outra faceta do álbum está revelada no nome que levou sua festa de lançamento, “Cokechella”. Pois é.

3- Ibeyi – “Lavender & Red Roses” (com Jorja Smith)
Single a single dá para sentir que o próximo álbum da dupla franco-cubana será impactante, para usar uma palavra da moda. Já nas palavras de um texto do jornal inglês Guardian, “mais ambicioso trabalho” delas até aqui. Terceiro álbum da dupla, “Spell 31” deve abordar questões de amadurecimento e aceitação. Em entrevista a “NME”, Lisa-Kaindé contou que só agora aprendeu a lidar com seu perfeccionismo, por exemplo. Em “Lavender & Red Roses” isso fica evidente na mensagem de que não existe ajuda que chegue em quem não quer ser ajudado. Papo de quem chegou tem um tempo.

4 – The Smile – “Free in the Knowledge”
Caramba, esta canção do The Smile, projeto tocado por Thom Yorke, Jonny Greenwood e Tom Skinner, poderia fácil ser uma das mais tristes do Radiohead. Talvez até uma da belíssima safra 97. Uma música que pode ser lida de diversas maneiras. A mais imediata é que é sobre o fim de um relacionamento abusivo. No caso, não de um casal, mas de um relacionamento abusivo interno, aquele que praticamos com nós mesmos. Em uma leitura mais abrangente, pode ser sobre nossa relação problemática com uma coisa que é parte da gente e nem no tocamos, o planeta Terra.

5 – JER – “Decolonize Yr Mind”
JER é um jovem artista da Flórida que cria um ska muito ligado a bandas tradicionais do estilo (pense no Skatalites) e bandas indies que não tem nada de ska (pense no Pup). Jeremy Hunter, seu nome real, vem de duas outras bandas bem interessantes: Skatune Network e We Are The Union. Neste som, uma discussão sobre imaginação e colonialismo. “É uma música que explora a ideia de como seria o mundo se o imperialismo e a colonização não tivessem destruído a vida de milhões de negros. Apesar de vivermos em um país que nos o(de)prime, conseguimos criar tanta beleza neste mundo, imagina como seria nossa influência sem isso?”, questiona Jer.

6 – Spiritualized – “Always Together with You”
Na primeira divulgação do álbum “Everything Was Beautiful”, Jason Pierce, o dono do Spiritualized, declarou que sentiu a pandemia como algo para o qual ele sempre esteve preparado. Em resumo, ele curtiu o período de solidão provocado pelo isolamento. E é nesse contexto que o álbum foi repensado, já que a produção com inúmeros colaboradores levou tempo para fazer sentido na mixagem. O papo da galera da banda é o de que esse é o disco mais orgânico do grupo desde o clássico “Ladies & Gentlemen We Are Floating in Space”. Faz sentido, viu. Se você não revisitou a banda desde lá, é uma boa hora.

7 – Soccer Mommy – “Unholy Affliction”
A parceria da Sophie Allison com Daniel Lopatin (Oneohtrix Point Never) parece completar a transição de Sophie do indie rock mais cru do seus primeiros trabalhos para uma tendência mais experimental e eletrônica, evidenciada no disco anterior, “color theory”, onde ela já se arriscava em pesar um pouco mais a mão na produção, embora mais de olho no pop. Muito bom.

8 – Flasher – “Sideways”
Gosta de Metronomy? Esse duo da capital do Estados Unidos pode te agradar. O Flasher era um trio em seus primeiros dois discos, mas está em processo de reinvenção com a saída do vocalista e baixista Daniel Saperstein. Estão bem mais pop. E, olha, do pouco que a gente escutou da fase anterior, estão melhores.

9 – Dirty Bird – “The Question”
Na sua bio do Spotify, o produtor Dirty copia uma aspa sobre ele onde tem seu trabalho classificado como o de um cara responsável por conectar diferentes elementos da música eletrônica negra na história. Sua autodescrição é de um criador de som, um pirata digital. Nossa sugestão? Que ele acrescente nessa lista o fato de ser um bom retransmissor do que coleta, viu. “The Question” é um house viciante com brechas para ganhar centenas de remixes ainda mais viajados.

10 – Florence & The Machine – “Free”
A gente alimentou uma esperança de que a Florence ia investir em uma vibe mais crua nesse novo trabalho que ela anda adiantando aos poucos nos single. “Free” afasta essa impressão com ecos do clássico “Dog Days Are Over”. Mas dá para curtir bem, viu? E talvez funcione até em uma pistinha.

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* A imagem que ilustra a vinheta do nosso ranking internacional é da banda irlandesa Fontaines D.C.
** Este ranking é formulado por Lúcio Ribeiro e Vinícius Felix.

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