Wow. Popload Festival não só está de volta como está com suas atrações divulgadas. E tiramos um tempo dos lançamentos para indicar os três novos nomes internacionais do festival. Entre elas, uma certa Kim Gordon. Manja? Também é tempo de ver as listas de melhores do ano pelo mundo e dar de cara com algumas coisas interessantes que passaram batido ou tiveram pouco destaque no nosso radar. E sempre é tempo de amar (e odiar) o U2.
Veremos Kim Gordon ao vivo! Kim é uma das muitas novidades do line oficial do Popload Festival, que volta em grande estilo. Para quem está desatualizado, Kim desde o fim do Sonic Youth fez muita coisa. Na música, teve os projetos experimentais como o Body/Head e o duo Glitterbust. Fora dela, fez sua autobiografia e se aventurou atuando. Também produziu seus primeiros álbuns solos, o mais recente é o incrível “The Collective”, onde se aventura pelo rap e trap sem abrir mão do seu gosto pelo noise, uma junção de interesses que carrega desde os tempos de sua antiga banda. O material se transforma ao vivo, ficando ainda mais pancada com uma superbanda. Na dúvida? Procura as apresentações gravadas ao longo de 2024. Vale visitar a passagem dela pela TV americana, bagunçando uma noite no talk show do Jimmy Kimmel. Promete demais!
Outra novidade do pôster é o duo The Lemon Twigs, formado pelos irmão Brian e Michael D’Addario. São dois americanos que parece não só fazer um som com forte inspiração nos anos 60 e 70. Os caras parecem ter vindo direto de lá. Têm uma aura meio viajantes do tempo. Só sacar a música “My Golden Years”, primeira faixa do álbum mais recente deles, “A Dream Is All We Know”. É um som que o Brian Wilson adoraria ter feito, sem exagero! Dá para imaginar a track abrindo algum seriado tipo “Anos Incríveis” sem fazer feio.
A islandesa Laufey (pronuncia-se lei-vei, por lá) é outra atração que parece de outro tempo. Embora seu visual, suas capas e seus números sejam de uma artista pop gigante (ela tem várias músicas que passam da casas dos 100 milhões de plays), seu som aponta para outra direção – uma investida em algo jazz e meio bossa nova para transformar tudo em pop, além do fato de que ela é uma violoncelista com refinamento clássico, embora hoje se apresenta com uma guitarra – mais básica. “From The Start” é hit!
Na lista de melhores do ano da “Pitchfork”, ficamos de cara com o 50° lugar! É o álbum “Viewfinder” da inventiva Wendy Eisenberg, guitarrista de mão-cheia e uma adepta do improviso como método criativo. Quando tenta resumir seu trabalho, Wendy listas seus interesses do jazz ao noise. E é isso que se ouve na loucurinha de “Viewfinder”, um punhado de músicas que parecem capazes de ir para qualquer lugar a qualquer momento. O material é uma reflexão após uma cirurgia nos olhos (a tal “Lasik” homenageada em título de música) que mudou a percepção de Wendy com o mundo. Essa transposição das cores para o som são o sentido aqui. Viagem para olhos abertos ou fechados.
“RS2024 Remix” significa que Robert Smith resolveu remixar a recente “A Fragile Thing”, um dos grandes momentos do incrível “Songs of a Lost World”, o álbum de inéditas do Cure. As mudanças propostas por Smith levam a pancada da original para um ambiente mais lento, focado na bateria e nas linhas de teclado, deixando a guitarra totalmente em segundo plano. É o tipo de remix que não balança as estruturas da casa, mas oferece uma nova perspectiva para o projeto.
Lendo a revista britânica “Dazed”, caímos em um texto sobre a emergente cena de dream pop dinamarquesa. Soa inusitado? Experimenta então escutar Astrid Sonne, uma das expoentes desse cenário nórdico curioso, embora hoje viva em Londres. “Great Doubt”, que acabou de ganhar uma versão editada por ótimos nomes, tipo o americano Blood Orange, é sem dúvida um dos discos do ano. Experimental, meio barulhento, juntando cordas com uma bateria pesada, um piano que soa guitarra. E isso falando só desta “Do You Wanna”. O disco aponta várias direções. Tem até homenagem para a Mariah Carey!
Tem anos que brincamos por aqui com a expectativa de que o trio britânico Tigercub estoure. A energia nirvaninha do trio, que sabe pesar a mão e também ser doces, nos encanta e deveria encantar mais gente. Tudo bem. Enquanto isso não acontece, eles decidiram pegar o álbum do ano passado, o esperto “The Perfume of Decay” e regravar todo ele repensando os arranjos, deixando tudo meio chique e orquestral. Nessa brincadeira, o rock “You’re My Dopamine” virou quase uma música toda pomposa soando meio irônica. Interessante, digamos.
“How to Dismantle An Atomic Bomb” é um álbum marcante na discografia do U2. Na época, provocou a tour bombástica que causou muita confusão no Brasil – ingressos esgotados, confusão na fila, entre outras tretas de tempos em que comprar ingresso pela internet ainda não era uma realidade. Em termos de crítica, o disco foi bem recebido, um calor que os futuros álbuns da banda não ganharam. Era a volta da banda a um rock mais simples, muito afetada pelo retorno do gênero via Strokes no começo dos anos 2000. O single “Vertigo”, maior exemplar desse retorno ao básico, pode ser considerado o último hit enorme da banda, aquele que atinge a proporção que todo mundo conhece, mesmo quem não faz ideia de quem seja Bono. O futuro da banda dali em diante seria ainda maior em termos de tour, mas cada vez menor em termos de música. Essa tendência tá um pouco evidenciada nas sobras do álbum que aparecem agora em “How to Re-Assemble an Atomic Bomb” – um punhado de canções que evidentemente batem na trave em termos de criatividade ou inspiração. Fica de valor histórico.
Em outros tempos, seria mais bombástico saber que o Green Day vem ao Brasil. Mas isso tudo é desatenção das pessoas, sabe? O álbum “Saviors”, que comentamos aqui na época do lançamento, é o melhor material da banda em muito tempo, remetendo aos bons dias de “Dookie” e “American Idiot”. A gente até que ficou empolgado com a notícia. Primeiro que Green Day ao vivo sempre é legal. E depois que eles trazem na mala desse show ao vivo um tal de Iggy Pop (!!!) e os Sex Pistols (!!??!!!), estes obviamente “reformados”. Vai falar que não pode ser uma noite bem divertida?
Na sua lista de melhores do ano, não vá se esquecer da Billie Eilish na sua lista, hein? A gente relembrou o ótimo “HIT ME HARD HIT ME SOFT” ao trombar com essa versão acústica da bela “Skinny”, parte das canções que ela gravou ao vivo para o Amazon Music’s Songline, um projeto que foi dando as caras lentamente na plataforma de música da Amazon e no YouTube da Billie. Coisa linda essa versão.
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* Na vinheta do Top 10, a baixista, cantora e guitarrista Kim Gordon.
** Este ranking é pensado e editado por Lúcio Ribeiro e Vinícius Felix.