Top 10 Gringo Especial – As melhores músicas do ano. Adivinha quem é a número 1

A britânica (bratânica?) Charli XCX levou o disco do ano na nossa votação e não seria diferente no top 10 de músicas prediletas da casa. Olhando cada lista semanal produzida sem falhar em 2024, por aqui, trombamos a Charli por diversas vezes. Do lançamento do “Brat” em si e a cada novidade que surgia com relançamentos, vídeos, remixes e aparições bombásticas. Mas nem só de verde-limão viveu 2024. Teve pós-punk de novinhos e veteranos. Teve a outra “brat”, a tal da Billie. Teve Kim Gordon fazendo rap e Kendrick Lamar fazendo um barulhão, capaz até de fazer o Drake sumir do mapa. 2025 vem aí. 

Não teve para ninguém em 2024. Vai ficar para a história que foi o ano de Charli XCX com seu “Brat” de diversos jeitos, seu pop exagerado, sua cara sempre entediada e sua fina ironia com os excessos do mundo das celebridades em um crash com o mundo das redes sociais. “Brat” também fica para a história pelo seu marketing, a capa tosca, a cor explosiva, as versões extras e as participações especiais de luxo que ficaram guardadas só para a segunda versão do disco. Se de algum modo no Brasil tivemos “Caju”, coloque um pouco de responsa no jeito de divulgação da Charli, sem dúvida. Ela tingiu o mundo de verde-limão. Seu verso “I’m everywhere, I’m so Julia”, uma brincadeira em “360” com a amiguinha incrível Julia Fox, se tornou profético. Ela está em todo lugar, tão Charli. 

Se o Fontaines até agora era uma banda de contos e novelas, 2024 trouxe o primeiro romance da banda. E isso não é um trocadilho barato com o título disco, “Romance”. É bom usar a literatura para uma metáfora com essa banda de fãs de James Joyce. E, de fato, pela primeira vez na sua curta história, os irlandeses pesaram um pouquinho mais a mão em um disco que abre as perspectivas pós-punks moderninhas deles. Um disco que tem baladas, reflexões e outras experimentações, inclusive narrativas. É só com essa maturidade que você escreve algo tão memorável como “Favourite”. 

Billie Eilish também fez parte do fenômeno “Brat”, sua participação em “Guess” virou a música mais tocada do disco. Mas ela também fez suas coisinhas próprias, lançou seu terceiro discaço, “Hit Me Hard and Soft”, e se consolidou de vez com uma das maiores popstars do mundo _ o que na real já era. Quem achava que sua presença era brisa adolescente deu de cara com um álbum maduro e cuidadoso nas melodias, nas músicas que conversam entre si. No caminho contrário de “Brat”, Billie optou em ser menos um fenômeno e plantou os hits com calma – e grandiosidade, lógico. Vídeos bem produzidos, participações em megaeventos e visitas estratégicas em lugares com o Tiny Desk, onde mostrou de vez que canta de verdade e sem truques. Aos pouquinhos, fomos ficando familiares de “Lunch”, da impressionante “Chihiro”, da espetacular “Birds of a Feather” e da nossa escolhida, “Wildflower”, que também viralizou a partir de um vídeo da própria Billie se divertindo e fazendo caretas com as harmonias vocais da música.

O veteranaço The Cure parecia preso totalmente ao seu passado de glórias, até sair neste ano o “Songs of a Lost World”, o primeiro álbum de inéditas do grupo inglês em 16 anos. O que esperar depois de tanto silêncio? Os fãs mais pessimistas com certeza só desejavam que Robert Smith não entregasse algo, digamos, vergonhoso. Mas muito pelo contrário. Com uma coleção de canções fortes, algumas quase épicas pela duração, Smith e companhia criaram algo que fica no panteão dos melhores momentos do Cure. Reflexões sobre nosso tempo, sobre solidão e sobre o fim – da banda, do mundo, do que for. 

O conceito de “diss”, no rap, é quando um artista faz uma música para provocar ou atacar outro artista, em geral. E nessas tretas talvez nunca dois caras tenham ido tão longe, para ficar nos casos em que o conflito se restringiu a música, lógico. A briga entre Drake e Kendrick Lamar é antiga, mas escalonou em 2024 com uma série de troca de acusações de lado a lado EM CANÇÕES. A trocação foi franca com um respondendo o outro alternadamente, até que Kendrick começou a enfileirar uma sequência antes mesmo que Drake pudesse recobrar os sentidos. “Not Like Us” ficou como o golpe do nocaute, sendo o auge da diss o show em Los Angeles onde Kendrick e os amigos tocaram a música SEIS vezes seguidas, dançando e tirando onda da cara do rapper canadense. Coube a Drake, sutilmente, se retirar dos holofotes para a humilhação não ficar maior e ele ainda ter uma carreira, se possível. Mas ficou feio, viu? Dá para dizer que com versos Kendrick tirou o cara de cena.   

Ouvir o produtor e multiinstrumentista americano Mk. Gee é pensar em expressões do tipo “Prince da geração Z” ou The Police indie, para explicar o som amalucado do rapaz. Se um dia contarem que ele é o verdadeiro Sting, que ficou congelado desde 1983, tipo o Capitão América, acreditaríamos sem pedir mais provas. Ele tem o timbre juvenil do vocalista do Police. “Two Star & the Dream Police”, sua estreia, saiu em fevereiro, mas é a recente “ROCKMAN” que nos conquistou. Busquem ele tocando ela ao vivo no programa “Saturday Night Live” em um trio interessantíssimo – ele na guitarra, um baixista e um “baterista” que cuida da bateria eletrônica enquanto dispara samples e outros barulhinhos.  

Kim Gordon teria um território fácil para explorar se quisesse viver do seu passado glorioso no Sonic Youth. Mas, tomando a direção contrária, inclusive em relação aos outros ex-membros da banda, foi atrás do desconhecido. Ela já tinha se aventurado pelo rap outras vezes, pense em “I Love You Mary Jane” com o Cypress Hill ou Chuck D em “Kool Thing”, hino da sua ex-banda, mas “The Collective” é outra história – Kim chega para dialogar com a produção moderna do hip hop e da produção eletrônica mais desconstruída, algo que Juçara Marçal propôs no brilhante “Delta Estácio Blues”. Sorte nossa que vamos ver tudo isso ao vivo ano que vem num certo festival. =) 

Pegar o groove de “Billie Jean” não poderia dar errado. “Good Luck, Babe!”, de Chappell Roan, foi uma das músicas mais tocadas de 2024. E, fora o balanço da canção, se valeu dos shows explosivo de Chappell, postura forte que continuou na vida fora dos palcos quando ela se posicionou contra os excessos dos fãs, que por mais queridos que sejam às vezes abusam da boa vontade e limitam a vida privada dos artistas. Pop com qualidade, que às vezes derrapa, mas é bem bom quando ela acerta.

Fevereiro de 2024 está lá longe, mas não podemos nos esquecer de “Fever”, música curtinha onde a gênia do rap britânico Little Simz se arrisca em português e tudo com uma ajudinha na produção do nosso Iuri Rio Branco.  Coisa finíssima.

O misterioso “No Name”, lançado de surpresa e primeiramente só em vinil, fez a gente até imaginar que a duplinha Jack e Meg White tinham voltado, tamanho vigor das músicas que surgiram primeiro sem nome. O sonho acabou um pouco depois, quando o disco foi para os streamings e descobrimos que Meg não estava lá, mas restou a excelência alcançada mais uma vez por um Jack White reenergizado depois de dois discos bem esquisitos…

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* Na vinheta do Top 10, a cantora bratânica Charli XCX.
** Este ranking é pensado e editado por Lúcio Ribeiro e Vinícius Felix.