Entre o solar e o nostálgico. Assim que dá para resumir esta semana de muito bons lançamentos de artistas de porte médio – se bem que ainda dá para falar que a Charli XCX é de tamanho médio? Mas, no caso dela, nem é lançamento, já é o relançamento de “Brat” em versão de luxo.
É impressão ou nossos garotos irlandeses nunca soaram tão maduros? “Favourite” será o último som do próximo álbum do Fontaines, “Romance”, e isso explica um pouco sua construção contemplativa e memorialística com uma subida emocional – ela lembra um pouco a já clássica “A Certain Romance”, do Arctic Monkeys, com aquele ar de nostalgia precoce – a saudade de um passado que mal passou. Além de sua carga emocional capaz de fechar “Romance”, Grian Chatten parece ter escrito a música de encerramento perfeita para todos os shows da banda daqui pra frente – seria essa a “40”, pensando em termos de U2, do Fontaines? Acha que estamos animados demais com o álbum novo?
“Birds flying high, I don’t know how I feel.” Mexendo com a abertura do clássico “Feeling Good”, a cantora Yazmin Lacey dá o tom da nova música do Ezra Collective, quinteto de jazz britânico vencedor do Mercury Prize de 2023 – primeiro álbum de jazz que venceu essa premiação. O centro desta canção conversa com a temática que dá nome ao próximo disco do grupo, “Dance, No One’s Watching”, uma exploração do quinteto sobre essa habilidade nossa de balançar o corpo. Já dançou hoje?
E seguimos muito empolgados com o próximo álbum solo de Jamie XX. “In Waves”, previsto para setembro, terá a presença da grandessíssima Robyn, velha amiga de Jamie e agora uma colaboradora em uma track obviamente ultradançante. Para se ter uma ideia da vibe que a faixa carrega, é só ouvir a situação em que Jamie ouviu pela primeira vez a voz de Robyn no som: logo após tocar na Pacha em Ibiza…
Lembra o Beach Bunny? Quem encarou a pandemia com umas boas horas no Tik Tok deve se recordar das virais “Prom Queen” e “Cloud 9”. Mais do que uma banda de sucesso ocasional, o grupo liderado por Lili Trifilio sempre entregou um indie rock honestíssimo. Se não reinventam a roda, sempre divertem. A história de “Vertigo” é que Lili teve a ideia no avião e ficou a murmurando durante quatro horas de voo, já que não rolou gravar um rascunho no banheiro. Valeu a viagem!
Quando a fase é boa você pode se dar ao luxo de tacar uma faixa poderosa como “Hello Goodbye” só na versão deluxe do seu álbum, como faz Charli XCX na nova edição especial do recém-lançado e já famooooooso “Brat”, que é idêntica ao original, mas tem três músicas a mais, então não é. Apesar do nome, não há na de beatle nela. Muito pelo contrário.
Daquelas músicas que encaixam perfeitamente o título com sua sonoridade. É assim que é “Domingo à Tarde” dos portugueses do Manilla, que se apresentam como “contadores de histórias sonoras”. Um delicioso jazz/soul moderno que se desenrola entre sorrisos e um doce amargo no finalzinho. Bem aquela coisa de fim do domingo, aquele sentimento que geralmente bate diante da imagem do pôr-do-sol melancólico ou do som da abertura do “Fantástico”. No próximo domingo, escute Manila.
Provando que dá para fazer pop decente, The Japanese House, aka Amber Bain, soltou a música mais pra cima da semana, uma “ode à alegria”, segundo ela. O single descreve a empolgação dela para encontrar um carinha que achou em um app de namoro. Detalhe: agora eles vão até casar.
A gente já falou por aqui que o rock norte-americano sobrevive na mente dos jovenzinhos graças a boas iniciativas de diversas minas supernovas, tipo a Olivia Rodrigo, que sabem mesclar referências do gênero com ideias do pop atual. A também jovem Towa Bird, que viralizou no Tik Tok fazendo covers, é outra promessa nesse sentido. “American Hero”, seu álbum de estreia prometido para o fim deste mês, já tem diversos singles lançados que fazem esse mix de guitarras com um som supermoderninho. Radiofônico demais.
E, por falar em minas do rock, louvemos aqui a Sasami, que nasceu em Los Angeles, assinou com o britânico selo Domino e colocou doses de heavy metal na ordem do dia no seu mix sonoro que pode ser classificado como indie rock – se pensarmos que ela anda com gente como Mitski, Soccer Mommy e Snail Mail. “Honeycrash, seu single, tira um pouquinho o pé no quesito peso mas investe legal num conceito meio engraçado. “Fazer uma música com a dramaticidade de uma ópera clássica do século XIX e a compreensão de alguém que está na terapia em 2024”, definiu sua canção. Sasami é braba!
Enquanto alguns pedem desculpas por falar mal de rap por aqui, na Inglaterra Liam Gallagher assume para si em shows atuais uma versão inicial de “Columbia”, do Oasis, que tem direito a rap e direito a uma seção de fritação guitarrística típica do começo dos anos 90, ambas as coisas eliminadas da versão que ficou conhecida na estreia do grupo, o trintão e histórico “Definitely Maybe”.
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* Na vinheta do Top 10, a banda irlandesa Fontaines D.C.
** Este ranking é pensado e editado por Lúcio Ribeiro e Vinícius Felix.