Navegamos por muitos mares nesta semana – nenhum deles privatizado, ainda. Do noturno paquistanês até a autoparódia norte-americana, com passagens pelo rock mexicano e uma música dos anos 50 relida pela melhor banda de rock de todos os tempos (de vez em quando).
Você só encontra ela à noite – e seria ideal escutá-la neste horário. É o momento favorito do dia para Arooj Aftab, compositora que nasceu na Arábia Saudita, filha de paquistaneses expatriados, e depois cresceu em Lahore, terra de sua família. Talvez você a conheça por ser a primeira paquistanesa a levar um Grammy ou por ser uma queridinha nas playlists do Obama. Mas saiba dela um pouco mais por “Night Reign”, seu quarto trabalho de estúdio – discaço formado basicamente por composições suas e letras de parceiros e algumas de autoria própria. “Aey Nehin”, por exemplo, é baseado em um poema da atriz Yasra Rizvi. Uma canção especial. Em um momento, um triângulo aproxima Arooj da música brasileira – o toque do violão também lembra o nosso. Poderia ser algo dos nossos trovadores: não ficaria deslocada no repertório de um Zé Ramalho. O clima todo do disco é meio assim: soturno e encantador, em especial pela voz carismática de Arooj – que lembra um tiquinho o cuidado vocal da Bjork. Cada silaba tem uma força descomunal saindo de sua boca. Dos melhores lançamentos do ano, com o perigo de ficar meio esquecido por não ser dos EUA ou do Reino Unido e ser um tiquinho adulto demais. Não dá esse vacilo.
E vem aí o segundo álbum solo do senhor Jamie XX. “In Waves” está previsto para setembro e o anuncio chegou acompanhado de um sacolejante single, “Treat Each Other Right”. A gente gostou da resumida que o próprio Jamie deu no que será o disco: “Queria fazer algo ao mesmo tempo divertido, alegre e introspectivo. Os melhores momentos numa pista de dança costumam ser esses, pelo menos para mim”. Pense. Sinta. Dance. Quem já viu um DJ set do homem sabe do que ele está falando.
No mês passado, Halsey tinha revelado que estava hospitalizada buscando o que poderia estar deixando ela doente. No dia 4 de junho, sem dar muitos detalhes do seu diagnóstico, postou um vídeo no Instagram com imagens do que parecer ser seu tratamento com uma pequena legenda: “Resumindo: Tenho sorte de estar viva. Também: Escrevi um álbum”. O post ainda revela que a artista está doando para instituições de apoio a vítimas de lúpus, leucemia e linfoma – o que não indica que necessariamente ela está enfrentando essas doenças. A divulgação do novo álbum, escrito nesta fase complicada, começa pelo single “The End”, que se divide entre versos sobre relacionamentos e sobre lidar com diversos diagnósticos complicados ao longo da vida. Ao final, ela pergunta se a pessoa pode ir buscar ela às 8 horas pois “meu tratamento começa hoje”. Não é todo artista que compartilha pela arte um momento delicado assim na sua emergência. Halsey fala direto ao coração aqui. Sublime.
Em fevereiro deste ano escrevemos assim: “Lembram do desespero vocal do Thom Yorke no comecinho? É um pedaço do passado que encontramos em “Where We’ve Been, Where We Go from Here”, álbum de estreia do duo americano Friko. Nossos ouvidos estavam certos, de algum modo. O Friko agora soltou esta versão para o clássico do “In Rainbows” e provou todo seu amor pelo Radiohead. Meninos, nós já sabíamos! É uma versão bem respeitosa ao original – com pequenas quebras de expectativa. Se quiserem regravar tudo, a gente deixa.
O próximo álbum do Eminem leva o nome de “The Death of Slim Shady (Coup de Grâce)”. Para matar seu alter ego mais famoso, Eminem revisita ele em “Houdini”, canção onde cita hits como “Without Me” e “The Real Slim Shady” e recupera alguns flows e até uma determinada voz jovial sua. O vídeo da música é um show à parte – um Eminem dos anos 2000 chega ao futuro via um portal, ironizando a atual onda dos multiversos cinematográficos, e se torna uma missão para o Eminem atual, vestido de Robin, que vimos nos vídeo de “Without Me”, anos atrás. Será mesmo o último truque do rapper? Ou é só um adeus simbólico? Valeu pela piada. Musicalmente…, você decide.
Mesmo o brasileiro que não gosta de Fórmula já deve ter ouvido por aí a história de que Senna amava pilotar na chuva. Rendia melhor que os outros, era vitória garantida. Parece que o Metallica opera com a mesma lógica. A gente não tem ideia de como a banda se garante ao vivo com raios e trovões, mas recentemente em Munique a banda fez valer o que já tínhamos visto em um show em Manchester. Um toró daqueles e os caras tocando como se não houvesse amanhã – ou resfriado. Óbvio que viralizou. Veja no YouTube.
Por falar no Metallica, é bom falar do trio The Warning, formado pelas mexicanas Daniela, Paulin e Alejandra. Elas bombaram com uma versão de “Enter Sandman”, hino da banda califoriana, e prometem acontecer legal com seu próximo álbum, “Keep Me Fed”, previsto para o final deste mês. É um rock bem na tradição da pegada radiofônica do gênero – pense em Foo Fighters ou nos momentos mais pop do Muse e até do Queens of the Stone Age. Já, já cola num palco Sunset da vida e deixa todo mundo de cara por aqui. Este é um aviso, hehehe.
Importante recuperar esse som da Kali Uchis, lançado lá no começo do ano, para informar que a mamãe de 2024 declarou a “Billboard” que pretende continuar trabalhando com as canções de “ORQUÍDEAS” – mas, se não rolar, ela já tem o próximo álbum preparado! “Estou pronta para minha próxima era”. Sim, soltou essa como quem não quer nada. Não virou manchete em lugar nenhum, mas gostamos.
Os Pixies estão com uma nova baixista, Emma Richardson, e estes são os dois primeiros singles com a nova formação da banda. Uma inédita e uma versão para uma música dos anos 50 gravada pela Doris Day – mostrando que o humor peculiar do quarteto segue intacto. Parece um Pixies mais dócil que o de costume e isso é bem interessante.
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* Na vinheta do Top 10, a cantora árabe Arooj Aftab.
** Este ranking é pensado e editado por Lúcio Ribeiro e Vinícius Felix.