Acredite, não estamos em 2005, muito menos em 2006, e isto não é uma edição do Tim Festival. Mas M.I.A e Yeah Yeah Yeahs são os nomes mais quentes do momento e estão no topo do nosso Top, esta construção semanal em busca dos sons mais legais do mundo. Nos textinhos dedicados a cada faixa, tentamos explicar a razão desses velhos nomes, que surgiram quando este site ainda engatinhava, estarem na frente dos “novinhos”. Nem vamos mencionar qual banda também veterana ficou em terceiro. Vê se nossa conversa faz sentido.
Marca de sua obra, a rapper inglesa de origem tâmil sempre teve uma postura crítica. Seu alvo da vez é tanto a artificialidade moderna estampada nas redes sociais quanto uma onda ególatra generalizada pelo mundo que soa cada vez mais decadente. Em um dos versos de “Popular”, ela diz: “Sim, me ame como eu me amo, me ame/ De repente é sobre mim, sobre mim”. A ironia da letra é fina. Para que não passe despercebida aos mais desatentos, é no vídeo que ela garante o recado ao colocar um robô de aspecto um tanto quanto bizarro para tentar reproduzir o rosto e dança da própria M.I.A. Dá medo, sério.
O longo hiato do nova-iorquino Yeah Yeah Yeahs não tirou o brilho e o charme de uma das melhores bandas de sua geração – temos até amigos que consideram que só eles prestem de verdade na turma de NYC que salvou o rock no começo deste século. Exagero ou não, a tese faz mais sentido quando estamos diante de “Burning”, novo single deles, com seu belo piano, guitarra derretida de Nick Zinner e o vocal inigualável de Karen O. Se aquela turma não envelheceu muito bem, o Yeah Yeah Yeahs segue fresco. A letra é inspirada a partir de uma cena da juventude de Karen, quando um incêndio em seu quarto levou vários objetos seus menos coisas insubstituíveis, ainda que altamente inflamáveis – apenas fotos e cadernos não foram consumidos pelo fogo. E é isso que ela espera no meio do caos: conseguir proteger aquilo que ama. Pelo visto, anda tendo sucesso. Sua banda, por exemplo, está intacta.
Talvez a gente não tenha subido de posto esta música nova dos Pixies, que aponta para o próximo álbum, porque a gente é humilde e se incomoda um pouco (só um pouco) em puxar a sardinha indie para nossa brasa (= Popload Festival), mas esta canção alt-rock maneiríssima que fala sobre um sujeito loucão indo deixar a brisa passar dentro de uma loja de posto tipo 7-Eleven mereceria um hors-concours nesta semana. Não?
Habituada ao topo das paradas norte-americanas, seja como artista solo ou em participações poderosas com nomes como Cardi B e Ariana Grande, a texana Megan Thee Stalion chega disposta a conquistar mais alguns recordes com “Traumazine”, seu segundo álbum. E isso deve rolar, se a gente pensar no grude que é um hit como “Her” ou na potência desta “Not Nice”, em que ela versa que cansou de ser a boazinha da vez. A artista em 2020 viveu um trauma enorme após ser baleada e ter a história polemizada na imprensa dedicada a fofocas lá fora. Esse álbum novo é um recado para quem tentou prejudicar ela ou diminuir sua arte diante de um tragédia particular. Ela é muito mais que isso e veio pegar o que é seu .
Danger Mouse é um talento musical, mas expande isso ao encontrar bons parceiros para seus projetos. Cee Loo Green (com quem formou o Gnarls Barkley, dono do hit global “Crazy”), James Mercer do Shins, Jack White, Norah Jones, MF Doom… Agora senta com Black Thought, MC do grande The Roots, um dos grupos mais importantes da história do rap (ainda que uma geração possa achar erroneamente que eles são apenas uma banda de um programa de entrevistas…), para uma poderosa parceria, em um álbum lotado de participações especiais. Pega a lista: Michael Kiwanuka, A$AP Rocky, Run The Jewels, Raekwon, Joey Bada$$… Encontro de gigantes. Esperem por eles no Grammy e outras premiações.
Dos bons lançamentos do ano que a gente acabou deixando passar sem comentar por aqui, um deles foi o novo álbum dos canadenses do Alexisonfire. Após encantar o Brasil no Lollapalooza com seu post-hardcore, “Otherness”, quinto disco deles, quebrou um longo hiato do grupo – seu último álbum era de 2009… Aproveitando que saiu um vídeo para a calmíssima “Mistaken Information”, vamos fingir que não esquecemos nada, certo? E se duvida que eles conquistaram o Brasil, vai ver os comentários do vídeo desta música… Vários brazucas apaixonados pela banda, se declarando. Se você passa longe de Alexisonfire, saiba que “Mistaken Information” é uma boa porta de entrada para coisas mais fortes, digamos.
Ainda que o Animal Collective tenha lançado disco neste ano, um de seus membros mais ativos, Panda Bear, descolou um álbum em parceria com o Sonic Boom, um gigante da psicodelia inglesa com sua antiga banda, o Spacemen 3, além de ser produtor de álbuns do MGMT, Beach House e do próprio Panda Bear. Sobre “Edge of the Edge”, temos um comentário que vai soar superexagerado, mas que é claro: este é um som que parece algo que sairia de um encontro do Brian Wilson com Paul McCartney. Sério, repara no vocal e nas harmonias. É uma coisa meio Beach Boys encontra “McCartney II”. Respeitadas as proporções de talento, claro. A gente está viajando muito? Ouve lá e diz para nós.
Acho que já falamos em algum canto da Popload sobre a água australiana, talvez a responsável pelo número absurdo de boas bandas que saem de lá. Mas a questão parece ser mais ampla. Continental, talvez. Vem da Nova Zelândia esse maravilhoso quarteto liderado por Elizabeth Stokes, uma banda com cheiro de estar prontíssima para “conquistar o mundo”. É apaixonante esta canção sobre desejar ser um pouquinho mais corajosa diante da vida. Ela versa: “Gostaria de dizer o que penso/ Mas nunca fiz ou farei isso”. Para falar de coragem, a banda salta de bungee-jump no vídeo da música. Fiquem de olho, “Expert in a Dying Field”, terceiro álbum deles, sai em setembro.
A Beyoncé resolveu trazer a house de volta à cena e já começamos a sentir a mudança por aí. Pelo menos é o que se apresenta no novo single do nova-iorquino serpenwithfeet. Criador de um pop com toques experimentais, ele se coloca no revival house em uma música que pega fácil, supervoltada para fazer uma pista vibrar. A gente recomendou aqui, no ano passado, o álbum dele, “Deacon”, coisa fina. Entre as duas vibes propostas por ele, compre ambas.
“Alguém na escuta?/ Me perdi/ Fundo no algoritmo de outro”. São bons esses versos desesperados por uma ajuda na nova canção da boa banda californiana Young The Giant. Veteranos da cena, eles estão lançando seu novo álbum na tendência da vez, em atos. “The Walk Home” fecha o segundo, que se chama “Exile”. Reunidos, todos os atos formarão o álbum “American Bollywood”.
* Na vinheta do Top 10, a agitadora britânica M.I.A..
** Este ranking é pensado e editado por Lúcio Ribeiro e Vinícius Felix.
>>