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* Na moral, esta semana foi trabalhosa de fazer a seleção e os textos sobre cada música, porque todas as músicas tinham boas histórias para serem contadas. Até uma que a gente não gostou tantoooo assim, mas achou justo colocá-la. Essa história inclusive valia mais linhas do que é de nosso habitual colocar. Interessante. Fica a impressão de que muitos artistas desta edição vão reaparecer quando vier o saldo de melhores ano. Sério, semana acima da média. Só escuta música chata quem quiser, viu.
1 – PUP – “Matilda”
É do Canadá, e não é o Arcade Fire, que por enquanto traz um dos discos de rock mais interessantes do ano vindo daqueles lados – pelo menos um dos mais bem-humorados, vale dizer. Ou, como a turma da revista “Clash” escreveu, tudo que o punk tem que ser em 2022. Exagero à parte, é bem divertido a construção da turma no recém-lançado álbum “The Unraveling of PUPTheBand”. “Matilda” é o tipo de música que gostaríamos de escutar em uma tarde ensolarada do Lollapalooza 2023.
2 – Wet Leg – “Ur Mum”
Está chegando a hora em que o mundo terá acesso a um dos melhores discos do ano – a gente já escutou e tal, sem querer se gabar. Mas a espera está tranquila: as meninas do Wet Leg soltaram meio disco em singles e este mais recente, destacado aqui, é divertidíssimo. A gente está de cara ainda com os versos iniciais, uma das melhores frases do rock dos últimos tempos, que sai linda da voz de Rhian Teasdale, é um recado para um ex-namorado e pode ser assim traduzida: “Quando eu penso na pessoa que você se tornou, eu sinto muito pela sua mãe”. É daí para cima.
3 – Ibibio Sound Machine – “All That You Want”
Com a produção do Hot Chip, a turma do Ibibio Sound Machine, banda londrina com interesse no afrobeat, drum’n’bass e post-punk chega com um dos discos mais deliciosamente dançantes do ano: “Eletricity”. Poderoso em todos os seus 48 e poucos minutos, a gente destaca “All That You Want”, capaz de ressuscitar qualquer pistinha que estiver ensaiando deixar a festa acabar.
4 – Orville Peck – “The Curse of the Blackened Eye”
Os lançamentos de álbum andam cada vez mais inusitados. Mas a opção por “Bronco”, novo disco do mascarado Orville Peck, chegar em capítulos responde a uma questão conceitual, de contar pequenas histórias. Oito músicas das 15 já estão por aí, lançadas em dois capítulos. E que linda é “The Curse of the Blackened Eye”, que abre esse segundo capítulo. Uma canção sobre relacionamentos absusivos, nas palavras de Orville, ainda que a letra seja muito cifrada. De qualquer maneira, o som diz tudo. O refrão é emocionante, se pegue cantando as harmonias vocais ainda na primeira vez que escutar a música.
5 – Sports Team – “R Entertainment”
Essa é pelo legado do Gang Of Four, que já cutucava a relação da arte com entretenimento e suas implicações problemáticas. A cutucada dos ingleses do Sports Team neste novo single é por aí. Que o mundo acabe, mas que role uma dose de entretenimento para compensar, comenta de modo bem crítico a música. Pensa que a banda anunciou esse lançamento com uma fina ironia: “Entering our U2 Vertigo phase” (“entrando na nossa fase U2 ‘Vertigo’”, em tradução livre).
6 – Angel Olsen – “All the Good Times”
“Big Time”, novo álbum da Angel Olsen previsto para junho, carrega começos e fins de ciclos para a compositora. É seu primeiro disco de inéditas após contar ao mundo que é gay, uma notícia que seus pais receberam poucos antes de partirem. Angel perdeu os dois com uma diferença de dias e o impacto desses dois eventos precedem o início das gravações do álbum. Já no primeiro single a carga emocional de um relacionamento agora acabado emerge no arranjo que vai crescendo aos poucos, indo de um delicado toque country até uma entrega vocal e instrumental quase rasgada.
7 – Foals – “Looking High”
Também com disco novo previsto para junho, o Foals soltou mais um single da nova empreitada, a dançante “Looking High”. De acordo com Yannis Philippakis, vocalista da banda, a música olha um pouco para tempos mais inocentes de sua vida, antes da pandemia e da cabeça esquentar com todas as crises globais, ele retorna há um tempo onde tudo era aproveitar as festas e a cidade. Como algo se perdeu no caminho, esta música volta àquela cena para ver se encontra algo. É bonita a conexão dessa canção com o single anterior, “2am”. Recomendamos escutar em sequência.
8 – Harry Styles – “As It Was”
Harry Styles vem construindo uma carreira solo muito respeitável, até para detratores do One Direction, sua antiga boy band que tem bons momentos, caso você não saiba ainda. “As It Was”, primeiro single do que virá a ser seu terceiro trabalho (“Harry’s House”), mantém as coisas no eixo, soa atual e levemente retrô, como muita coisa do pop, ao ponto de quase incomodar no sentido de “Eu acho que já escutei isso antes”. Ainda assim funciona.
9 – Joyce Manor – “Gotta Let It Go”
Com pouco mais de dez anos de estrada, a banda californiana liderada por Barry Johnson pensou em dar uma pausa no seu pop punk com toques de emo e indie rock. Mas a pandemia levou o autor a escrever um disco todinho e a banda deixou a pausa de lado. Seu sexto álbum levará o nome de “40 oz. to Fresno”, um título que veio do autocorretor, quando alguém da banda na real queria escrever “40oz. to Freedom”, álbum do Sublime. Som massa. Rápido. Certeiro.
10 – Red Hot Chili Peppers – “She’s A Lover”
As opiniões sobre o novo do Red Hot estão bem divididas, a gente se incomodou com todos os singles até aqui e a impressão se repete pelo álbum: uma tentativa de volta a bons momentos da banda, em especial aos tempos de dois álbuns, “Californication” e “By The Way”. E isso acaba tornando o retorno do Frusciante levemente frustrante, sem trocadilhos… Ainda que os discos sem ele estivessem abaixo da média da banda, tinham mais coisas em risco ali, soando mais interessantes. Isso dito, “She’s A Lover” é bem boa, especialmente na primeira metade, sério.
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* A imagem que ilustra este post é do vocalista e guitarrista Stefan Babcock, da banda canadense Pup.
** Este ranking é formulado por Lúcio Ribeiro e Vinícius Felix.
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