Virou moda. Agora todo mundo quer lançar dois discos por ano. Não que a gente vá reclamar, mas se já tínhamos música em excesso para avaliar… Em todo caso, segue o baile, ainda que a semana seja só para ela, a gigante Mitski e um dos discos mais bonitos de 2023.
O título do novo álbum da Mitski não é muito animador. Capa em preto-e-branco, ela aparece com “The Land Is Inhospitable and so Are We”, algo que ficaria em português como “A terra é inóspita e nós também”. E nesse difícil habitar interno, Mitski escreve uma reveladora faixa sobre o quanto não gosta de lidar com a própria mente, guardando seus problemas e pensamentos, fugindo de tudo com música alta até que uma nova treta se estabeleça pronta para também ser guardada. É de uma honestidade e de uma beleza de tirar o fôlego.
Sufjan Stevens revelou nesta semana que recebeu o diagnóstico do distúrbio autoimune Síndrome de Guillain-Barré. Ele acordou um dia destes paralisado, sem sensibilidade. No hospital, os médicos chegaram à conclusão de que se tratava da rara síndrome – que ataca o sistema nervoso e pode ser fatal. Atendido em tempo, Sufjan agora já está em fase de recuperação, uma longa e lenta retomada para que possa voltar a se locomover. A notícia chegou na mesma semana em que saiu mais uma música de “Javelin”, seu novo álbum, que deve ser lançado ainda em outubro, mas sem qualquer tipo de divulgação com a presença de Stevens. Vamos trabalhar por ele, então. E torcer para sua recuperação.
“Laugh Track” é o segundo disco do National em 2023. E a curiosidade do álbum é que ele é composto por músicas feitas durantes a sessões de “First Two Pages of Frankenstein”, lançado em abril, mas que a banda decidiu regravar depois de colocar os pés na estradas. E, olha, funcionou, viu? O grupo soa vigoroso e tudo parece mais redondo por aqui. Uma percepção que não é só nossa. Passamos o olho na imprensa estrangeira e tem uma galera com essa opinião. Técnica aprovada, turma. Ah, detalhe, lógico que o disco tem a sempre presente Phoebe Bridgers =). Não nesta aqui, que tem outro participante bem ilustre.
Talvez você só se lembre da Corinne Bailey Rae pelo seu hit gigantesco “Put You Records On”. Acontece. Entre tragédias pessoais e discos que não repercutiram tanto como a estreia de 2006, Corinne construiu com calma uma jornada musical sólida e que chega ao seu melhor momento com os ares complexos e experimentais do inventivo “Black Rainbows”, álbum onde ela investe sem medo em diversos gêneros, com músicas com toques eletrônicos que parecem ainda rascunhos de ideias até canções acompanhadas por guitarras muito distorcidas. Discão.
Lembra quando fomos para Nova York e vimos de perto o fenômeno indie do Bar Italia? Eles também entraram na onda e vão para o segundo lançamento em 2023 – gente, o que está acontecendo??? “The Twits” saí em novembro e pelo visto mantém a energia e pegada do disco lançado mais cedo neste ano, “Tracey Denim”, com o trio se alternando nos vocais.
É, o povo está trabalhando. Outra turma que vai lançar mais coisa em 2023 é a do Sleaford Mods. Após o álbum “Uk Grim” vem o EP “More UK Grim”, com cinco inéditas. “Big Pharma” é uma reflexão sobre como o termo que originalmente é crítico à indústria farmacêutica foi roubado pela extrema-direita para sustentar argumentos antivacina.
Viralizou recentemente um vídeo do Zeca Camargo se divertindo muito enquanto mandava uma do Breeders em um DJ set seu. Ele e nós ficamos feliz em saber que a banda das icônicas irmãs Deal aproveitam mais um aniversário para lançar material inédito do clássico “Last Splash”, lançado em 1993. A novidade da vez é uma versão da inesquecível “Divine Hammer”, que agora ganhou vocais de J Mascis, do Dinosaur Jr. – na época, elas pediram uma guitarra dele na track, que voltou com os vocais inclusos. Elas gostaram e tal, mas engavetaram a canção estes anos todos. Até nesta semana.
Antes do Nirvana, Dave Grohl fez parte da última formação da banda de hardcore Scream. A banda acabou, ele foi para o Nirvana e você deve saber o resto da história. Anos depois, Franz Stahl, guitarrista do Scream, até fez parte do Foo Fighters por um período. Pois bem, Franz e a turma original da banda se reuniram e vão soltar o primeiro disco de inéditas em 30 anos. Dave Grohl, lógico, está entre os convidados da festa. O primeiro single parece dar o tom do álbum, uma celebração à cena de harcorde de Washington D.C.
Está quase chegando o novo álbum do Devendra Banhart, com produção da gênia Cate Le Bon. O último single pré-lançamento é a linda “Fireflies”, com seu ar retrô puxado por uma bateria eletrônica bem tosquinha e com o Devendra cantando sobre paradoxos e arrependimentos. Delícia.
Pegue uma das músicas mais fofas do ano, que inclusive já entrou meses atrás aqui neste ranking, e faça o vídeo mais fofo do mundo para ela, uma historinha animada de uma garota e seu cachorro. Fofura esta nas aparências, lógico. A letra e o vídeo de “Cool about It” são bem mais dolorosos quando a gente para e presta atenção em sua metáfora.
***
* Na vinheta do Top 10 Gringo, a cantora Mitski, em foto de Ebru Yildiz.
** Este ranking é pensado e editado por Lúcio Ribeiro e Vinícius Felix.