Este Top 10 não é só para contar do que a gente gosta. Serve para colocar em perspectiva as novidades da semana. Não estranhem o papo que puxamos lá no nono lugar, que é uma música mais chata que a que ficou em décimo. Questão de ordem. Ordem das coisas. No fim, importa a música. E esta semana entregou bastante, de nomes clássicos em projetos que repaginam sua obra e de terceiros até a criatividade pulsante dos mais novinhos.
Liderada pela cantora nigeriana Eno Williams, a banda inglesa afro-funk Ibibio Sound Machine volta à cena após o bem-sucedido “Electricity”, discão lançado em 2022 com produção do Hot Chip. O single “Got to Be Who U Are” dá o start dos trabalhos de “Pull the Rope”, o próximo álbum, previsto para março. A pegada da música mostra um direcionamento mais pop, reforçando a ligação do grupo com a disco music. Essa é para tocar no rádio, viu.
Em alguma medida, nossa previsão sobre o segundo álbum do grupo The Smile, banda formada por Thom Yorke, Jonny Greenwood (ambos do Radiohead) e Tom Skinner (ex-Sons of Kemet) na bateria, estava certa. O Smile é de fato o espaço que Thom e Johnny encontraram para compor sem a pressão imposta a si mesmos dentro do Radiohead. Na banda oficial a repetição é evitada com muito suor; no projeto paralelo eles não esquentam a cabeça. Exemplo: “Wall of Eyes”, a faixa que dá nome ao disco, tem ecos evidentes de “In Rainbows” em sua levada. Um fato novo é o que parece ser a presença mais forte de Skinner em levar a parte percussiva a lugares mais experimentais que na estreia – o que deixa a nova coleção de canções com menos cara de banda de rock, algo presente na estreia. Mas, tempo ao tempo, é dos álbuns para se ouvir com muita calma e repetidas vezes.
Direto da Escócia, o Camera Obscura está de volta após mais de dez anos de silêncio. O grupo que conquistou muitos fãs por aqui ali na primeira década dos anos 2000, fazendo uma boa companhia para o Belle & Sebastian nas músicas fofas, investe agora, aaaaaaanos depois, numa pegadinha quase country na música que antecipa novo álbum – “Big Love” é capaz de deixar o Paul McCartney da era “Ram” sorridente.
A psicodelia australiana já esteve mais em alta, mas sempre é uma cena boa de se acompanhar. O Pond, que já foi mais unha e carne com o Tame Impala e ainda hoje tem entre seus integrantes um trabalhador da firma de Kevin Parker, voltou a se movimentar e soltou um single bem do simpático, a despretensiosa “Neon River” – um esquenta para a tour que farão nos EUA.
Viram o papo que o Talking Heads não volta nem com propostas milionárias seduzindo a banda? O jeito para celebrar o relançamento do filme “Stop Making Sense” foi arranjar um tributo para David Byrne e cia. A lista de artistas que vão participar está interessante: Miley Cyrus, Lorde, The National, Kevin Abstract, girl in red, BADBADNOTGOOD, Blondshell, El Mató a un Policía Motorizado, The Linda Lindas e Toro y Mo. Quem deu o chute inicial do projeto foi o Paramore, de vez afastando a pecha de bandinha de adolescente. Ficou responsa a versão para a clássica “Burning Down the House”
A gente nunca tinha ouvido falar do JJUUJJUU, projeto liderado por Phil Pirrone, lá de Los Angeles. Até que topamos nesse feat. do cara com nada mais nada menos que os nossos meninos do Boogarins. O som é doideira – misturando português e inglês e lembrando os momentos de improviso do Boogarins ao vivo. Em outras palavras, delicia sonora.
A gente elogiou por aqui a trilha de “Saltburn” mais de uma vez e voltamos a ela através do cover que a jovem banda australiana Royel Otis fez para a canção imortal de Sophie Ellis-Bextor. Vertida para uma energia indie rock, com direito a viradas de bateria e um vocal desleixado charmoso, a música era só uma versão de rádio que bombou tanto que eles tiveram que colocar nas plataformas de streaming oficialmente. De quebra, saca “Kool Aid”, autoral deles lançada ano passado. Não é nada de outro mundo, mas vale dar uma sacada. Sem querer comparar, porque o desnível é grande, é tipo um The War on Drugs adolescente.
Que lugar comum essa nova do Justin, hein? Repare no timbre do instrumental, parece um Justin Bieber safra 2015 – melhor época do Bieber, diga-se. Mas vai que cola por aí, né? A promoção vai ser forte. A outra nova que ele mostrou na TV, um “rock” que ainda não está nos streamings, deve ganhar um destaque melhor aqui no top.
Por que falar do som chatinho do Justin? Para fazer o gancho com a nova do Pet Shop Boys. Trabalhando com o fera James Ford, a música, que estará presente em “Nonetheless”, previsto para abril, é prova de que é possível não ir muito longe do seu território sem soar aborrecido. Tem frescor, é dançante e inspirada.
***
* Na vinheta do Top 50, a banda inglesa Ibibio Sound Machine.
** Este ranking é pensado e editado por Lúcio Ribeiro e Vinícius Felix.