Top 10 Gringo – A diva não-diva Charli XCX obviamente no topo. O supremo The Streets em segundo. E o Bar Italia trazendo um lado B para o pódio. É o que temos!

Alguma dúvida sobre o Top 10 desta semana? Tivemos um único disco na boca e nos ouvidos do povo – tão bombástico que dia depois já ganhou uma versão deluxe expandida. Quem não viu o verde brat por aí não pisou na internet nos últimos dez dias. Charli XCX, que sempre ironizou um tiquinho o pop, agora é a nova rainha pop? SIM!

Na última sexta-feira, timelines de todas as redes sociais foram dominadas por “BRAT” e sua capa tosquíssima com seu verde particular. Charli XCX parece ter entendido o sentimento do mundo e de um jeito muito preciso. Se Dua Lipa e Beyoncé lançam discos e somem do mundo, Charli vai tocar na Barra Funda daqui uns dias, saca? Ela é real. “Brat” segue a tendência de exagero que Charli traz ao pop – sempre deixando em questão o quanto ali há de ironia. Em outras palavras, quando ela forma um “squad” ou cria sua nova “era”, não é como as artistas pop que levam isso muito a sério. A questão é que o alcance de “BRAT” pode transformar de vez as “piadas” em realidade. Bombou.

O gênio Mike Skinner ressuscitou no ano passado o seu grandioso The Streets com um bom disco de inéditas: “The Darker The Shadow, The Brighter The Light”. O novo som deste ano não é para um disco necessariamente de inéditas, mas sim para uma coletânea/Dj mix de Mike para o selo/clube Fabric, da famosa série “Fabric Presents…”. Reunindo coisas lançadas por ele com o próprio nome, coisas do The Streets e coisas sob outros pseudônimos. Quente demais, como tudo em que Mike Skinner toca. 

Existe uma tradição entre bandas inglesas, dos Beatles ao Oasis, de “esconder” em singles músicas que fariam história em álbuns. O grupo novo Bar Italia parece seguir a tendência, pelo menos em partes. As inéditas do EP “The Tw*ts”, gravadas logo após as sessões do disco “The Twits”, seriam lados B dos singles do álbum. Acabaram indo parar neste EP poderoso. “The Only Conscious Being in the Universe” com seu baixo gordo e guitarra desleixadas é das melhores coisas que a banda já fez – obviamente, tem aquela alternância deliciosa entre os vocais da Nina Crisante com o dos garotos.

Coincidências da vida. O Jesus Lizard, barulhenta banda do Texas que fez história em Chicago hiperconectada com o som inventado pelo mestre Steve Albini, ficou cinco anos em estúdio preparando um novo disco – o último dos caras foi lançado em 1998! Acabou que o anúncio de “Rack” – seguindo a tradição de todos os álbuns serem nomeados apenas com uma palavra – chegou só após a triste partida de Albini. “Hide & Seek” é uma pancada e tanto. Os sessentões liderados por David Yow tão com energia de garotos no começo.

Para os acostumados com as guitarras e outras produções maluquinhas de Sophia Regina Allison aka Soccer Mommy, temos agora uma música ao violão e acompanhada de delicadas cordas. O novo single da cantora é sobre perda – ela não falou a respeito, mas talvez provavelmente seja por causa de sua mãe, sobre quem já escreveu antes: “Tenho o nome dela, tenho o rosto dela”, diz um dos versos. O refrão é dolorido: “Se eu tivesse outra chance, eu perguntaria a ela, então”. Quem estiver pelos EUA pode ter a sorte de topar com a tour atual dela, que será de shows intimistas, ambiente propício para tocar músicas como “Lost”.

Dona de um dos discos mais fodas de 2022, “Painless”, a inglesa Nilüfer Yanya prepara seu terceiro disco de estúdio. “My Method Actor” está previsto para setembro de 2024. O método, uma prática que tenta através de exercícios provocar no ator o que se passa na mente do personagem, foi alvo de interesse e pesquisa de Yanya, que afirmou que vê muito disso na prática musical. “No palco, tentamos evocar a emoção de quando escrevemos a música.” Sonoramente, a guitarra muito particular de Yanya está lá, sempre com seus timbres gordos, que preenchem a música cumprindo quase o papel do baixo. Um jeito meio diferente de fazer e que só ela sabe como.

Um tanto quanto deixada de lado no álbum “Mind Games”, “You Are Here” é uma singela canção de amor de Lennon que tem um toquezinho de Harrisson na sua mensagem: “Você está aqui”. Aquele lembrete básico que esquecemos de vez em quando. Estou aqui escrevendo esta nota, por exemplo. A faixa foi resgatada para uma nova edição de “Mind Games” e ganhou um banho em nova mixagem. Um vídeo novo para a música mostra uma exibição de arte que Lennon fez em 1968, anos antes de “Mind Games”, com o nome de “You Are Here”. 

O Fidlar tem novidades. Os punk malucos de Los Angeles prometem disco novo para este ano, “Surviving the Dream”. Para o aquecimento, duas inéditas: uma é meio tristonha, “Fix Me”, que trazemos aqui, com um belo motivo, e a outra é “Get Off My Wave”, que é tipo como se os Beach Boys fosse formado por um bando de encrenqueiros repententes do fundão da classe. Mas aqui, de novo, ficamos com “Fix Me”, cujo vídeo tem o karaokê triste e solitário da Sosie Bacon, filha do Kevin atorzão. Música que, segundo a banda, é para dar “sad moshpit”. Perfeito. 

“Chihiro”, faixa do recente “Hit Me Hard and Soft”, ganhou um dos vídeos mais fortes da carreira de Billie – dirigido por ela mesmo, inclusive. O curtinha vaga entre o sonho e a realidade com uma coloração e pegada meio A24 e referências ao clássico “A Viagem de Chihiro” – inspiração da música ao retratar um relacionamento tóxico e seu aspecto violento. Billie não tem medo de deixar expostas cenas um pouco fortes – até estranhamos que o vídeo não deu muita polêmica pela crueza. Sobre a música: uma dos melhores do ótimo disco dela.

O brasileiro é um ser que precisa ser estudado, sabemos. Agora, no caso, pegaram um hit do novo disco da Billie Eilish e a vestiram no estilo MTG, ou “montagem”, que é pegar a música original, com autorização ou não, e aplicar nela batidas funk. Desnecessário dizer, isso é cria do TikTok. Virou uma outra música. No caso desta “MTG Chihiro”, ela ficou boa demais e está numa viralização nas redes sociais que já está meio difícil de medir, porque só aumenta. Será que a Billie já ouviu? Porque, se não ouviu, ela vai… Tem nas redes, tem no Youtube, ainda não tem nos streamings.

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* Na vinheta do Top 10, a cantora inglesa Charli XCX.
** Este ranking é pensado e editado por Lúcio Ribeiro e Vinícius Felix.