Muito já foi falado sobre a primeira parte da visita de Taylor Swift ao Brasil com sua badalada “The Eras Tour”, um dos shows mais concorridos e populares do mundo hoje, que passou por percalços diversos nas três datas cariocas desde sexta-feira, com diversas discussões válidas – outras nem tanto assim – sobre o que aconteceu e o que não aconteceu nos bastidores das apresentações, especialmente os do show adiado em cima da hora no sábado, que veio a ser realizado na noite de ontem, segunda. Estamos aqui pelo espetáculo em si, na busca por entender por que a cantora de 33 anos é o maior fenômeno da indústria musical hoje. E que dificilmente será alcançada em um futuro próximo.
Pois quem assiste a um show de Taylor Swift, mesmo não sendo tão fã assim (é o caso aqui), não precisa fazer uma equação compelxa para tentar entender todo o frenesi em cima da norte-americana.
Prolífica, Taylor está em uma fase de controle total de sua carreira após enfrentar problemas com seu empresário antigo. Além de recuperar todo o seu catálogo dentro dos seus moldes, mesmo que pra isso tenha que regravar boa parte dele, Swift vai na contramão da grande parte dos artistas do pop atual e escreve suas próprias músicas. Passeia fácil entre o pop chiclete e o indie melancólico. Anda com gente que vai do Ed Sheeran à Lana Del Rey ou à galera do The National. E é aí que ela começa a se diferenciar no meio da multidão.
Falando abertamente sobre sua vida na maior parte de suas canções, Taylor consegue pegar uma gama gigante de pessoas – em sua maioria, o público feminino – que se identifica com suas letras e histórias de amor e desamor, dando a essas pessoas uma espécie de escape de suas montanhas-russas de emoções. Sentir uma felicidade absurda ou mergulhar numa fossa profunda logo em seguida está liberado na mesma medida. E tá tudo bem. O segredo maior disso tudo, talvez, é que a cantora consegue transportar todos esses sentimentos dos discos e os conceitos por trás de cada um deles para o show, que na verdade é uma peça de teatro a céu aberto, que arrasta 60, 70 mil pessoas em todas as noites, em qualquer canto do mundo. Ou seja, a maior peça de teatro a céu aberto do planeta. E isso não é pouca coisa.
Para um fã e admirador de Paul McCartney, confesso que sempre falo que até para ele um show de 3 horas de duração é muita coisa. Na apresentação de ontem, no Rio, Taylor subiu ao palco às 20h25 e só saiu dele quase meia-noite, sem intervalos, e com um salto arrancado da bota logo na primeira música. Muitas trocas de figurino a cada “era”, mas todas feitas de forma dinâmica, que não tiram o ritmo do show hora alguma.
filmei a hora que a taylor arrancou o salto quem diria que a roupa destroçada seria do ato do lover e não o macacão aos farrapos do reputation pic.twitter.com/ta6ROMvMZY
— ruks | THE ERAS RJ N1&N2 (@rukstheswiftie) November 21, 2023
E a variedade de figurinos é a forma mais genuína de homenagem que os fãs prestam à cantora. Nessa onda de cada fã se identificar com uma música ou um álbum – ou, uma “era” – dá para cravar que 90% do público entra na vibe do show e deixa a experiência ainda mais completa. É comum ver pais e mães indo ao show só para acompanhar os filhos. Nem eles fogem de camisetas do tipo “Pai de Swiftie”, o que é um barato.
No palco, Taylor é acompanhada por uma banda competente e um balé talentoso. E ela, em específico, entrega danças, performances e voz (ótima!) ao vivo pelos 200 minutos de apresentação, outro fato raro entre as estrelas do pop de hoje. Está vendo como não é tão difícil desvendar o mistério?
O cenário possui três ambientes, luzes e telões de última geração, uma plataforma que interage com as imagens conceituais de cada “era” e até câmeras espalhadas estrategicamente pelo estádio, com as quais a cantora interage (de forma calculada ou não) a todo momento, seja para mostrar um largo sorriso de simpatia, uma piscadela, ou um olhar mais introspectivo, como se estivesse se comunicando com o público em uma performance, mais uma vez, teatral. É uma imersão audiovisual e uma manifestação artística do início ao fim, que fazem as 3 horas passarem rapidinho. Palavra de não-fã.
Com uma base de fãs muito fiel, porém muito intensa a ponto deles discutirem entre eles mesmos, Taylor Swift é dessas artistas que cresceram na linha tênue entre o amor e o ódio, entre defesas e ataques, entre os passadores de pano e os abutres de plantão. Pelo visto, continuará assim, conquistando muita gente e com outras ficando pelo caminho. Porque tudo o que a moça faz gera engajamento, para o bem e para o mal. No fim das contas, ela aparenta ser mais do que preparada para lidar com tudo isso.
No entanto, é inegável: Taylor Swift entrega uma experiência única em um show para fãs e não-fãs. E é isso que no final das contas diferencia os homens dos meninos. Neste caso, as mulheres das meninas.
Taylor Swift se apresenta nesta semana, entre os dias 24 e 26 de novembro, no Allianz Parque, em São Paulo. Esgotados em horas, os shows podem ter um ou outro ingresso voltando para venda nas vésperas. Se você não comprou, ainda pode ter uma última chance de assistir o show mais badalado do pop hoje. Seja fã da cantora ou não.