Destaque da programação do C6 Fest, em maio, o sempre ativo cantor Jair Naves vai encarar um palco de respeito internacional em sua versão solo, buscando uma consolidação cada vez maior da carreira fora da Ludovic, sua famosa banda indie paulistana.
Naves abre os trabalhos do domingo no parque, ali no Ibirapuera no dia 18/5, tocando no palco principal do evento em uma escalada que parte dele e vai chegar no grande grupo ícone indie Pavement, já noite adentro, em um line-up que ainda vai ter a não menos ícone Cat Power fazendo o show de seu disco à lá Bob Dylan.
De galho em galho com sua versátil e vasta obra, o músico andou fazendo shows especiais com a Ludovic, onde carregava um belo grupo entrosado cantando, ou quase falando, letras absurdamente introspectivas, amorosas ou cotidianas, daquelas de cantar mais com o coração do que com a boca. E sempre com a veia do pescoço saltada.
Na apresentação do C6 Fest, Jair Naves vai levar para a tarde do Ibirapuera, e “para até gringo ver”, sua performance também furiosa e “inconformada”, ainda que mais sob controle e sempre poética da carreira solo, pautada pelos sentimentos que afloram de seu quarto disco sozinho, o bonito “Ofuscante a Beleza Que Eu Vejo”.
Jair Naves conversou com a Popload sobre o que pensa da apresentação solo no festival paulistano, além de falar também como vai seguir, se vai seguir mesmo, com a Ludovic.
Popload – Em “Ofuscante a Beleza Que Eu Vejo”, seu mais recente trabalho solo, você explora temas de perda impulsionados pelo viés da raiva, que faz parte da maioria de seus trabalhos, inclusive com a Ludovic. Como você enxerga a evolução de sua carreira solo nos últimos anos e a recepção do público, que você traz de seus tempos mais regulares com sua banda?
Jair Naves – Creio que, no período em que aquele disco foi escrito e gravado [o pós-pandemia], todos nós tivemos que lidar com sentimentos de luto, indignação, incredulidade, além da raiva que você mencionou. Esse álbum, provavelmente o de melhor produção e mais bem acabado da minha discografia, é um retrato fiel de como eu me senti naquela época. Até por isso é um registro denso, de teor até mais pesado do que de costume. Embora eu ame aquelas músicas e esteja enormemente satisfeito com o que fizemos ali, me traz memórias um pouco duras. Nesse aspecto, estou ansioso para seguir adiante com o material novo.
Difícil avaliar meu trabalho solo em termos de evolução. Eu estou longe de ser a pessoa mais adequada para fazer essa análise, pois sempre sinto que meu lançamento mais recente é o melhor, mas que eu ainda posso ir mais longe artisticamente – e creio que isso seja um excelente sinal. Quando eu lançar um disco que eu acredite ser inferior aos que eu já lancei, talvez seja o momento de parar.
Sobre o público, eu não poderia ter mais orgulho de quem me acompanha. Em boa parte são pessoas que me conheceram nos meus primeiros anos fazendo música e que seguem comigo apesar das muitas mudanças estéticas e sonoras. Também há aqueles que passaram a me seguir com últimos lançamentos e depois descobriram o catálogo completo. Pode não ser a maior base de fãs do planeta, mas eu percebo que são pessoas sensíveis, inteligentes, dispostas a embarcar em qualquer que seja a proposta que eu apresente num determinado momento, por mais diferente e estranha que possa parecer a princípio. E esse é um dos maiores presentes que qualquer artista pode receber.
Popload – Quando falamos de músicas mais profundas e que refletem sobre temas como a raiva e a perda, sabemos que a tradução para os palcos depende muito da conexão com o público. O que podemos esperar do seu show no C6 Fest, num domingo à tarde e num palco aberto?
Naves – São sentimentos universais, parte inescapável da nossa existência. Não posso esperar que todos os ouvintes se conectem com o que nós produzimos, mas testemunho com certa frequência o quanto o teor dessas músicas pode reverberar em que nos ouve pela primeira vez. Espero que essas músicas, feitas com tanta verdade e dedicação, possam tocar algumas das pessoas que nos assistam por lá.
Montar o repertório para esse show em especial vai ser um desafio dos mais estimulantes. São quatro discos, dois EPs, alguns singles – muita coisa para resumir em pouco tempo. Queremos apresentar o que temos de melhor para quem assistir a nossa apresentação. Independentemente do que tocarmos, não faltará entrega e amor da nossa parte, como acontece sempre que subimos ao palco.
Popload – No ano passado tivemos a primeira reunião da Ludovic após seis anos. Como foi a experiência para você? E, para responder aos fãs da banda, podemos esperar mais apresentações do Ludovic em 2024?
Naves – Foi um negócio arrebatador. Até onde eu sei, todos os envolvidos ficaram surpresos com a dimensão da repercussão e da resposta do público. Me emocionou muito tudo aquilo. Queremos fazer alguns shows neste ano, que é quando nosso disco de estreia [“Servil, 2004] completa duas décadas de seu lançamento. A maior questão é combinar todas as agendas, projetos e trabalhos paralelos. Tomara que surjam oportunidades para tanto.
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* JAIR NAVES se apresenta no domingo dia 19 no palcão aberto do C6 Fest,no parque Ibirapuera, em São Paulo, o mesmo de Squid, Noah Cyrus, Cat Power e Pavement. O festival acontece de 17 a 19 de maio ocupando outras três áreas do mais famoso parque paulistano. Ingressos estão disponíveis para a compra aqui. Mais infos gerais do festival e de suas quase 30 atrações, por aqui.