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* Andei lendo por aí que o Kraftwerk fez um show mecânico e parado, no Sónar, na sexta pro sábado. Mas achei umas coisinhas além.
Depois de ter tocado no Brasil pela quarta vez, sem o choque da novidade da primeira (1998), sem o Radiohead para “atrapalhar” na última (eles abriram para o grupo inglês em 2009), o veteraníssimo Kraftwerk mostrou sexta-feira no festival Sónar SP que a experiência de vê-los ao vivo entrega cada vez mais a ideia de que eles não são uma banda fazendo show, e sim quatro atores em um musical.
Quatro senhores parados de pé diante de uma mesa “estação de trabalho”, como atores fazendo o papel ora de homem, ora de máquina operando uma usina nuclear em Dusseldorf, com um espetáculo visual no telão imenso atrás e uma lista de canções que são tocadas (umas delas há uns 40 anos) incrivelmente sem que pareçam velhas, em que pese as versões mais modernizadas (remixadas, pesadas) de algumas. É assim constituído o “Musical Kraftwerk”.
O quarteto comandado por Ralf Hutter, hoje a caminho dos 70 anos, foi tão revolucionário para a música eletrônica em
particular e para a música pop no geral que uma das brincadeiras imaginárias para fazer enquanto está imerso na performance audio-visual do grupo alemão é ficar identificando nuances sonoras utilizadas por artistas e canções em suas músicas nos últimos 20, 30 anos. “The Robots”, “Metropolis”, “Computer World”, “Autobahn”, “Tour de France”, “Radioactivity”, “Boing Boom Tschak”, “Music Non Stop”. Eles tocam e você viaja nas imagens e nas referências.
Imagens essas desta vez em 3D, um artifício modernizatório dos anciões da eletrônica, com a plateia toda vestida por 15 mil óculos, se tornando homogênea e portanto forçosamente integrante dentro daquele espetáculo produzido por “robôs homogêneos”, vendo números saltarem do telão, braços dos homens-máquinas se estenderem a ponto de abraçar-nos, satélites em rota de colisão com nossas cabeças. Um recorte brasileiro dos shows que o grupo protagonizou em série recentemente no MoMA, em Nova York.
O Kraftwerk em si é um museu de arte moderna.
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