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* Nosso mundinho é pequeno, you know.
* Saiu ontem na Inglaterra o disco da banda nova Savages, só mulheres na formação. O lançamento foi marcado com um show delas em Londres, na loja de disco da Rough Trade, no bombado lado leste de Londres, talvez a principal loja de disco deste mundo já sem lojas de discos (a linda Amoeba Records na Califórnia é a maior, mas a Rough Trade tem mais, vamos dizer, personalidade, eu acho). Um bom concerto tramado na Rough Trade, há algum dia, para o bafo britânico de construção de pequenos mitos, é o equivalente a uma banda tocar no Madison Square Garden (NYC) no segundo ou terceiro disco. Mas esse é um outro assunto.
A onda de hype que o Savages vem surfando neste pré-lançamento do primeiro álbum faz da banda o nome novo mais destacável da música hoje. Primeiro aparecem em fulgurosos shows pequeniníssimos em Londres, um single chocante “Husband” e somem da Inglaterra, deixando o oba-oba indie lá em suspenso. Aí, pré-festivais de verão na Europa, pós-apresentações ultra-recomendáveis primeiro no CMJ em Nova York e depois na vitrine monster do South by Southwest e a “apoteóse” midiática do Coachella. Vale mencionar show na Music Hall of Williamsburg e session na rádio KEXP, de Seatle. Fizeram tudo certo.
Quarteto de mulheres que montaram a banda não tem dois anos e fazem uma intensa e rica recriação de um pós-punk que tem um fantasma de Siouxsie absurdo assombrando o som e principalmente o vocal, o Savages angariou boas críticas de lugares não necessariamente blog de músicas ou revistas especializadas. Tudo bem que jornais sérios como os britânicos “Independent”e “Guardian” são super indies/pop ao tratar de música, mas você ver o “Observer” (a prestigiosa edição dominical do “Guardian”) dizer que o Savages é o mais próximo de arte que a música independente tem a oferecer hoje não é pouca coisa.
Só que se percebe mesmo que a aura do Savages é/está especial quando eles ganham um “tratado”, um estudo na revista “The New Yorker”, de alta-cultura. Sob o título de “Terra Cognita”, o contrário do famoso termo em latim para a descoberta de lugares desconhecidos (“incognita”), o conceituadíssimo jornalista “estudioso pop” Sasha Frere-Jones analisa o zunzum instantâneo e cavalar para cima do Savages dizendo que a banda é realmente quase tão grande quanto o que querem que ela seja. “Only martyrs attain early perfection, and Savages is too smart to burn out early”. Vige.
O detalhe está no sub-título da pensata de Frere-Jones, acompanhando o “Terra Cognita”: “As Savages cuidadosamente estão reinventando a roda”. O post-punk sombrio e no future inglês é superlembrado por quem viveu. Não tem como dissociar. Frere-Jones lembra como a vocalista Jehnny Beth lembra um Ian Curtis menos selvagem, também o cabelo curtinho, mas às vezes com um movimento de braços que remetem ao líder possuído do Joy Division. Ela, noutras vezes, dança marchando como um soldado.
Eu já ouvi o álbum do Savages, “Silence Yourself”, cheio de manifestos, umas 20 vezes seguidas. E já achei 20 coisas diferentes dele. É impressionante a riqueza de seus detalhes, de como elas, além de toda a reinvenção da roda pos-punk e da roupa preta que vestem, vão de uma jovem PJ Harvey ao heavy metal em questão de segundos. E tudo soa muito bem para uma banda formada, de novo, no meio de 2011, lançando a primeira música no meio de 2012 e chegando já a este estágio de solidificação sonora. Não estamos nem na metade de 2013.
Minha preferida, por ora, do disco début das Savages é “Strife”. Olha como ela não traz nada de novo. Mas veja também a energia que ela carrega. Procure ouvir a original do disco na plenitude. Mas eu trago aqui uma versão da música ao vivo, em apresentação em Liverpool, há menos de uma semana.
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