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* Dono de um dos discos do ano e uma das bandas novas prediletas deste blog, o grupo paulistano Aldo ganhou destaque hoje na Ilustrada, da “Folha de São Paulo”, em texto de autoria deste que vos escreve. Banda-projeto dos irmãos André e Murilo Faria, que agora está transformado em banda com a aquisição de um baterista e um baixista, o Aldo lançou via iTunes o disco “Is Love”, tão incensado por aqui.
Na Folha, tem entrevista com os irmãos Faria. E também a revelação exata de quem é o tio doidão Aldo, que dá nome à banda, é inspiração da capa e está nas letras. O texto está aqui abaixo, publicado sem cortes.
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A primeira coisa que você precisa saber é que Aldo é uma pessoa real. A outra é que Aldo também é o nome de uma das mais entusiasmantes novas bandas de 2013 no Brasil, formada por dois irmãos de São Paulo. Aldo é o tio “loucão” deles. Era “loucão”, na verdade, nos anos 80 e 90. Virou evangélico. Ok, vamos por partes.
Com venda nos iTunes do mundo todo e uma prensagem de mil cópias de CD físico para ser distribuída entre amigos e para “pessoas interessantes”, Aldo, a banda, lançou no final de abril “Is Love”, o disco. São oito faixas de um estilo que pode ser definido como algo perto do rock eletrônico, dance-punk, indietrônica ou dance music alternativa.
Aldo, o tio, é da família dos irmãos André e Murilo Faria, que formam o Aldo, a banda. André, 34 anos, é o “roqueiro” da história. Sempre teve banda (Tchucbandionis e Faria & Mori), quando o trabalho de publicitário deixava. Não faz muito tempo largou a carreira para ir a Nova York comprar um violão. Não voltou mais à publicidade.
Murilo, 28, pendeu à eletrônica desde cedo. Aos 12, fazia aulas de DJ. André ia buscá-lo no curso, com a mãe. Chegou a ser roadie das bandas do irmão, ajudá-lo na produção das músicas, mas foi fazer faculdade de Administração e acabou trabalhando em banco de terno e gravata.
“Dei um cinto uma vez de presente de Natal para ele, da Hugo Boss, pare ele usar no terno”, lembra André, o mais velho. “Eu via ele com aquele paletó largo e achava que não tinha nada a ver. Me dava pena, mas eu não falava nada para não perturbar a cabeça dele.”
Três meses de paletó e banco foram suficientes para Murilo. Como o irmão, resolveu abandonar a “carreira oficial” e foi estudar sozinho produção musical.
“Aquilo me pirou. Fiquei um ano trancado lendo tudo sobre produção, lendo, tocando, me aprofundando por conta própria, foi tipo um sabático”, lembra Murilo, que neste tempo virou DJ na noite paulistana (DJ Mura), para levantar algum dinheiro para pagar as contas.
Há pouco mais de um ano, André foi ver algumas das músicas que o irmão estava fazendo e resolveram experimentar juntos, botar umas letras nas manipulações musicais produzidas por Murilo . Nasceu o Aldo.
“O nome da banda surgiu em um bar, quando lembramos de um tio cheio de discos de vinil e que às nos levava para ver as movimentações da rua Augusta, o que na época nos parecia uma coisa muito surreal. A gente pensou: e se as letras contassem um pouco as histórias do tio Aldo?”, lembrou Murilo.
Com o nome já escolhido e umas letras já desenvolvidas, veio um problema. A mãe dos Faria desaprovou.
“Meu tio havia ‘endireitado’ e virou evangélico. Minha mãe pediu para a gente mudar o nome da banda, para não causar um problema familiar. Passamos até a chamar o grupo de Nelson, por um tempo, para disfarçar. Mas a gente terminou não curtindo muito a ideia e resolveu voltar ao Aldo, porque ele existiu mesmo, estava vivo, nos mostrou muita coisa”, disse André. “Depois que ele virou evangélico, me deu toda sua coleção de uns 3000 discos. Merecia a homenagem”, completou Murilo.
Aldo e Murilo pediram para a mãe fazer um jantar em casa e convidar o tio Aldo. Ele saiu de uma igreja e foi, de terno e “Bíblia” debaixo do braço. Lá os rapazes contaram a história da Aldo para o Aldo. A mãe contra: “Eles querem remexer naquela sua fase de vida complicada, acho que não é o caso”. E o Aldo pessoa real pediu para ouvir as músicas.
“A gente pegou as demos e mostrou uma. Tensão na mesa. Como as letras são em inglês, ele não entendia nada, mas curtiu as músicas. Quis ouvir outra. Tocamos. Aí ele virou para a minha mãe e disse: ‘Sandra, deixa os meninos se divertirem’”, recordou André.
“Quando o disco ficou pronto, mandamos o disco para ele, com capa e tudo, pela minha tia. Ela disse que ele chorou quando viu.”
O disco “Is Love”, do Aldo, que deve sair em vinil em breve, pode ser ouvido gratuitamente, virtualmente, no Soundcloud da banda, www.soundcloud.com/aldo-the-band.
Para shows, Murilo e André chamaram dois amigos conhecidos da cena paulistana para encorpar a banda: Érico Theobaldo (ex-Téléphatique) na bateria e Isidoro Cobra (ex-Jumbo Elektro) no baixo.
E a primeira apresentação do Aldo ao vivo, como banda, e como teste, aconteceu sexta passada em São Paulo, na pequena Casa do Mancha, em Pinheiros.
Aldo, o tio loucão dos anos 80, foi convidado para o show. Ele não foi. Mas esteve presente no clubinho todo, em camisetas, adesivos no banheiro, nome estampado no bumbo da bateria, nas letras gritadas pelos sobrinhos. Aldo é uma banda real.
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Nas fotos deste post, modelos brasileiras seguram o disco do Aldo no Coachella Festival deste ano, na Califórnia, álbum levado por um amigo deles. A imagem da bateria acima foi tirada no bom primeiro show da vida, que a banda fez na Casa do Mancha, em São Paulo, sexta passada. Eles começaram com uma cover de Pixies, tocaram o disco inteiro depois e acabaram com uma “sobra de estúdio” deles que o New Order daria um braço para ter feito, hoje.
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