Red Fang, a banda de Portland que ficou famosa na década passada por seus vídeos inusitados e singles bem pesados, está fazendo sua quarta passagem pelo Brasil, com cinco shows marcados no país. Desses, estivemos conferindo o segundo: a banda se apresentou pela primeira vez em Curitiba, no Hard Rock Café, na quinta-feira, 4 de maio.
Cerca de 12 anos atrás, quando descobri o Red Fang e seu fenomenal segundo álbum, “Murder the Mountains”, imaginei que a banda ficaria gigante e logo se tornaria a queridinha de seu nicho – aquele rock ridiculamente pesado e dinâmico, com variedade e toques modernos para não parecer uma mera cópia do Black Sabbath.
Hoje, três álbuns depois, o Red Fang certamente é maior, mas não chegou a crescer como outras bandas de som similar que surgiram na década passada. Prova disso é que o local da apresentação deles, o terceiro andar do Hard Rock Café em Curitiba, é simplesmente minúsculo, com uma capacidade perto de 500 pessoas. Mas tudo bem, isso praticamente garantia um show intimista, e foi exatamente o que os fãs receberam.
Os quatro músicos subiram ao palco e se cumprimentaram, como se fossem jogadores de futebol antes de uma partida. É um gesto tão simples e óbvio, mas nunca vi outra banda fazer.
Abriram com “Blood Like Cream”, uma das músicas mais acessíveis e empolgantes de sua carreira, um quase-pop pesado, e parecia que o show já estava ganho. Se alguém caiu de paraquedas ali, apenas comprando o ingresso para ver a banda da noite, já estava cativado. Depois, a sequência de “Malverde” e “Crowns in Swine” deixou claro que a banda sabe usar bem seu repertório, e seu setlist de 15 músicas foi quase impecável.
Felizmente, o fraco disco “Only Ghosts” (2016) não foi contemplado em nenhum momento. O mais recente trabalho da banda, “Arrows” (2021), que é competente mas ainda não se aproxima de seu melhor momento criativo, apareceu por meio de duas faixas, e só.
A maioria do setlist foi ocupada pelos melhores momentos de “Murder the Mountains” (2011), que ainda é indiscutivelmente o ápice da banda – “Throw Up”, “Wires” e “Hank Is Dead” são fantásticas ao vivo, com suas trocas violentas de ritmo fielmente reproduzidas.
Ainda tocaram três músicas de seu disco epônimo (2009), como a obrigatória “Prehistoric Dog” e a relativamente rara “Humans Remain Human Remains”, cujos arrastados sete minutos de duração pareceram um tanto exagerados.
Não havia grade, apenas um cordão organizador de fila que criava uma pequena distância entre a beirada do palco e a plateia. Qualquer ponto da casa fornecia um ponto de vista ótimo, e o som estava suficientemente bom, desde que você não ficasse na cara do palco, onde era impossível ouvir os vocalistas.
Aliás, destacamos aqui o carisma imenso do baixista/vocalista Aaron Beam, cuja forma de tocar o baixo faz parecer que ele está dando uma surra no instrumento. E o baterista John Sherman continua excelente, como sempre, carregando todas as viradas e mudanças de ritmo que tornam o som do Red Fang tão divertido.
Com a dobradinha apocalíptica “Hank Is Dead” / “Throw Up” veio o fim abrupto do show. Eu já tinha ouvido praticamente tudo o que queria (com exceção de “Into the Eye”), mas esperava que o Red Fang ficaria no palco por mais alguns minutos.
No total, foi pouco mais de uma hora de show, e claramente a banda tem repertório para tocar pelo menos um pouco mais, levando em consideração que estavam em seu show próprio. Talvez seja uma escolha estética, tocar uma hora de agressão pura e ir embora, sem bis, sem papo. De qualquer forma, valeu cada minuto.
O Red Fang se apresenta em São Paulo amanhã, sábado, 6 de maio, no Fabrique Club.
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* A foto do Red Fang deste post é de Fernando Scoczynski Filho.