Queria ser o Dev Hynes e ter uma banda chamada Blood Orange

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* Um dos artistas mais cool do novo rock americano, mesmo sendo inglês e nem tão novo no rock assim, o guitarrista, produtor, compositor e escritor negro cheio-de-projetos-bandas-histórias Dev Hynes deve estar vivendo seu grande momento hoje na música. Mais exatamente viveu ontem à noite.

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De volta ao meio dos anos 2000, Dev gozou de um certo prestígio no rock inglês, quando era de uma banda punk chamada Test Icicles, acabou com ela, montou o Lightspeed Champion, escreveu músicas para Florence & The Machine, participou de disco dos Chemical Brothers, andou tocando com o amigo Alex Arctic Turner, entrou forte nos rankings da Cool List da “New Musical Express”. Essas coisas. Largou tudo de repente para morar em Nova York, obviamente no Brooklyn, e se reinventar nos porões mais porões do indie americano.

Lá criou a Blood Orange, que por muito tempo era uma banda formada por ele, seu computador e sua guitarra. Soltou um primeiro álbum em 2011, chamado “Coastal Grooves”, de onde saiu uma pérola pop coisa mais linda chamada “Champagne Coast”. Sua turnê foi feita basicamente em bares pequenos, lojas de disco, festivais como Sxsw e Pitchfork em lugares e palcos escondidos. Manteve-se no subterrâneo, mas não perdeu a essência cool. Ou, como foi melhor traduzido em termo recente de uma grande revista americana, “elegant indie”.

Pode se dizer que essa cena “elegante” da música independente americana come na mão de Dev Hynes: o cara praticamente inventou o lado independente classudo da Solange Knowles, a irmã da Beyoncé, do selo Popload Gig de shows bacanas no Brasil. Hoje são inimiguinhos; produziu e orientou o lado rocker da jovem cantora modelo Sky Ferreira, que lançou belo disco de estreia no final do ano passado, pelada na capa. Dev de vez em quando aparece no palco nos shows da moça, tocando guitarra; dizem que Lana Del Rey pede conselhos a ele, porque sempre foi fã do moço; Hynes namora e colabora e faz parcerias sonoras com a boneca Samantha Urbani, da banda doçura Friends; e nomes “elegantes” como Chairlift, Dirty Projectors e Theophilus London de um jeito ou de outro carregam marcas de Dev Hynes em suas recentes trajetórias musicais.

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Pois bem. Tuuuuuuudo isso para dizer que, nos últimos três meses, a vida de Dev Hynes esteve maluca assim:

* Lançou o segundo álbum do Blood Orange, o cool-as-fuck “Cupid Deluxe”, no final de novembro. Músicas gentis, algo entre o indie e o R&B que está virando a marca de Dev Hynes. Hipnotizante se você deixa o disco correr no seu fone de ouvido, ou no carro enquanto dirige. Faz sentir bem.
** Fez um preview ao vivo de lançamento do disco no Twitter. Chamou pela rede uma galera que queria ouvir suas novas músicas e dar opiniões, distribuiu um link para quem respondeu ao chamado. Aparecia tocando o disco nesse link.
* Dias depois de ter seu disco lançado, enquanto foi ver uma cerimônia para Lou Reed no Lincoln Center, seu apartamento em Nova York pegou fogo e queimou seus computadores e todo seu trabalho, memória recente, suas coisas, seu cachorro Cupid, que deu o nome ao disco.
** Sua sogra, mãe da Samantha, lançou um fundo na internet para arrecadar dinheiro para ajudá-lo. Sem que ele soubesse. Quando o fundo tinha arrecadado quase 30 mil dólares, Dev descobriu a ação e pediu para parar com aquilo. E para entregar todo o dinheiro à caridade. Não queria.
* Dias depois do incêndio, se internou em um hospital por exaustão. Em um dos dias internados, armou um show para a mesma noite em um bar de Nova York onde só tocaria Lightining Champions. Queria se distrair com “outras coisas”, disse.
** No Natal, ganhou uma matéria grande no “Guardian” inglês, exatamente contando o céu e o inferno vivido em 2013.
* Apareceu na capa de dezembro/janeiro da revista “Fader”.

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** Ganhou perfil respeitável na respeitabilíssima revista “New Yorker”, de alta cultura, assinado pelo bamba Sasha Frere-Jones. Título gênio: “Smooth Operator”.
* Fez show ontem à noite no Webster Hall, em Nova York. Com ingressos esgotados. E trazendo ao palco duas beldades indies: a namorada Samantha Urbani, da Friends, e Caroline Polachek, da Chairlift. Dev não é fraco, não. E o show, louvado no Twitter pelo que vi, serviu como um exorcismo. E um recomeço para Dev Hynes. Seu terceiro recomeço na verdade. Feliz 2014 para ele!
** O Blood Orange marcou pouquíssimos shows até agora, para 2014. Este de ontem em Nova York, um em Londres semana que vem, dois no Coachella Festival e um no Primavera Sounds, em Barcelona. Vamos ver se a Popload encontra de novo o Dev Hynes, por aí. Se a gente já tentou trazê-lo para o Popload Gig? Óbvio.

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Uma das músicas que eu acho a mais linda de 2014 (só a ouvi neste ano, foi botada na internet no finalzinho de 2013) é “West Drive”, do Blood Orange, com participação vocal da namorada Samantha, em dueto com Dev Hynes. Ele conseguiu NÃO botar essa música no disco novo. Pensa.

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