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* Hoje acontece no Autódromo de Interlagos em São Paulo a segunda edição do barulhento Maximus Festival. O evento, que no ano passado trouxe Marilyn Manson e Rammstein, entre outros, tem em seu DNA bandas mais pesadas. E mistura metal, industrial e hardcore e todas as suas congruências. Dead Fish, Pennywise, Rise Against, Ghost, Rob Zombie e Slayer são só algumas das atrações desta edição, que tem como um dos seus grandes destaques o supergrupo Prophets of Rage. A banda é formada, apenas, por membros do Rage Against The Machine, Public Enemy e Cypress Hill. Pow!
O Prophets of Rage, antes do festival fez seu primeiro show por aqui, solo, na última terça, na Audio Club, em São Paulo. E a Popload, claro, esteve por lá, com o nosso correspondente às pedreiras sonoras, Alexandre Gliv Zampieri, que não só conta como foi na terça como emenda uma entrevista feita com Tom Morello, B-Real e o DJ Lord, tudo junto:
“Bombástico!!! Não tem como melhor definir o que foi essa estreia do Prophets of Rage no Brasil. Antes do show mas já sendo parte do show, a apresentação da banda teve abertura do DJ Lord, membro não só do próprio Prophets mas que acompanha o Public Enemy desde 1999 (tendo a responsa de “só” substituir o clássico Terminator X), que fez um set mixando incontáveis hits de vários estilos e épocas. De Michael Jackson a Metallica, passando por Nirvana, Daft Punk, Dr. Dre, Deep Purple, Tears For Fears, Eurthymics, James Brown, Beastie Boys, e tantos outros, tudo infectado com seus scratches old school de primeira linha.
Como ele consegue misturar tudo isso de maneira genial, fazendo tudo funcionar e provando que música boa não tem ano ou estilo? Droga… Se a entrevista fosse pós-show teríamos perguntado isso para ele. Genial. E, de forma totalmente inesperada, seu set termina direto e já emendado com uma sirene que anuncia o inevitável: Se segura que a parada vai ficar séria. E ficou!!!
O Prophets of Rage entra no palco com uma energia explosiva e eletrificante que manteria a mesma absurda intensidade e duraria até o último segundo do show. E segura: “Testify”, “Guerrilla Radio”, “Bombtrack”, “People of the Sun”, “Fight the Power”, “Sleep Now in the Fire”, “Bullet in the Head”, “Know Your Enemy”, “Bulls on Parade”. O set foi cuidadosamente elaborado para ser uma espécie de coletânea absolutamente implacável e infalível.
Quanto aos vocais, de longe a grande dúvida e maior questionamento dos fãs, era como substituir um cara como Zack De La Rocha. Sim, Zack tinha ira nos olhos e na garganta, com a pegada que foi também importantíssima para o Rage. Mas pouco provável que existiria esse Zack sem a influência do Public Enemy, ou, sendo ainda mais específico, o lendário Chuck D.
Chuck e sua voz de 911 toneladas traz um barulho e peso diferentes, mas igualmente potente nas músicas apropriadas agora pela entidade PoR. E não está sozinho. O rapper B-Real, do Cypress Hill, também contribui muito com sua dinâmica, velocidade e presença, se alternando e fazendo as vezes de Zack e até Flavor Flav (do Public Enemy),
sem comprometer ou perder a personalidade do projeto.
O baixista Tim Commerford e o baterista Brad Wilk, originais do Rage Against The Machine, fazem bonito suas partes,
sendo inclusive considerados pelo próprio guitarrista Tom Morello como “a melhor cozinha desde o Led Zepellin”.
Mas Morello é inquestionavelmente um caso à parte: não parou de agitar e sorrir um só segundo, seja empunhando sua guitarra como metralhadora e disparando seus riffs, exibindo-a como faixa de protesto com direito a um “fora Temer” no verso, arranhando e criando seus próprios scratches insanos, além dos seus igualmente particulares mas não chatos solos virtuosos.
No meio do show, em uma pausa para os membros do Rage, DJ Lord, B-Real e Chuck D mandam ver em um medley alternado de clássicos do Public Enemy e do Cypress Hill, encerrando com o hino “Jump Around”, do House of Pain, e lembrando todo mundo não só das origens e influências do próprio Rage mas também que dá para fazer música bem pesada sem guitarras.
Dos sons, digamos “quase” próprios e novos lançados até agora, “Prophets of Rage”, a música que inclusive abriu o show, ainda que excelente, é na verdade uma versão do Public Enemy “rageagainsthemachinizada”, como eles próprios costumam brincar.
The Party’s Over, apesar de bem boa, é de certa forma exatamente o que esperávamos dessa combinação de bandas, mas “Unfuck the World” já surpreende bem, com mais entrosamento e criatividade. E, quando um público que nunca ouviu sua música nova já responde pulando, acredito que isso já é um ótimo sinal.
Aliás, sem exageros, há anos eu não via ou sentia uma participação tão intensa de público. Normalmente, ainda que sejam muito bons, shows inevitavelmente tem como pontos altos as aberturas, os grandes singles mais conhecidos, e o encerramento.
Aqui a história é outra. E o concerto do PoR definitivamente não teve altos e baixos. Claro, “Killing in the Name” fecha com tudo e se tornou “O Clássico”, muito provavelmente por ter apresentado o Rage ao mundo. Mas literalmente todas as músicas foram tocadas como se fossem a primeira ou última, correspondidas pelo público sempre da mesma forma. Raríssimas as bandas que podem se orgulhar disso.”
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** Algumas horas antes de o Prophets of Rage subir ao palco, a Popload entrevistou a banda. Mais precisamente, o trio Tom Morello, B-Real e o DJ Lord. Ok, este último só “estava junto”. E, percebi logo, os caras estavam bem determinados em provar que não são apenas um projeto paralelo temporário, mas sim uma banda que veio para ficar. Com um disco cheio pronto e previsto sair para setembro, falamos um pouco sobre a formação, influências e ainda conseguimos algumas pistas sobre o seu futuro:
Popload – Na maioria das vezes, supergrupos são baseados geralmente em jams e se divertir. Mas, ainda que vocês se divirtam durante o processo, nós sabemos, e eu já ouvi vocês dizerem isso antes, que esse não é apenas um supergrupo comum. Como é fazer parte dessa banda e qual a sensação de tocar juntos ao vivo?
Tom Morello – Quando formamos a banda, era uma resposta para a situação política caótica nos Estados Unidos. Então nós fizemos a tour pelo país e percebemos que, além da política, estávamos nos divertindo muito tocando juntos, agitando plateias. Então decidimos continuar e, enquanto temos caras como Trump na América do Norte, sabemos que na América do Sul vocês também têm seus problemas políticos. Logo, não tem um momento melhor para o Prophets of Rage existir.
Popload – Além das músicas novas, e entre todo o catálogo de sons do Rage, Public Enemy e Cypress Hill, como escolher o setlist?
B-Real –É uma questão de escolher quais músicas fazem sentido no dia, na hora. E as que nós sabemos que realmente terão uma resposta do público. Pegamos todas as nossas experiências, do Chuck, do Lord, minhas, e vamos com as músicas que mais funcionarão em um tipo de melhor passeio de montanha russa possível.
Popload – Algumas são tocadas inteiras, outras em um medley…
B-Real – Sim, porque nós temos uma mensagem para transmitir, mas também queremos entreter as pessoas. E eu acho que temos experiência o bastante para dar essa experiência (risos). Nós todos nos divertimos muito também e acho que esse é o fator principal que move as coisas, porque quando as pessoas percebem que nós estamos nos divertindo, elas acabam se divertindo também.
Popload – “Walk This Way”, “No Sleep Till Brooklin” e claro, “Bring Me the Noise”. Vocês se lembram o exato momento que perceberam que misturando rock pesado e rap ao seu próprio modo poderia ser essa exata e explosiva combinação para criarem e explorarem?
Tom – Para mim provavelmente foi com o Run DMC em “King of Rock”. Foi a primeira vez que eu percebi e fez sentido para mim que poderia ser um grande novo tipo de música. Tem pouquíssimos exemplos, apesar de “Walk This Way” ser um marco também, de artistas que conseguiram acertar fazendo isso. E mesmo os que acertaram conseguiram isso em apenas um som. Então quando formamos o Rage Against The Machine não tinha só heavy metal e hip hop, mas elementos de punk rock também. Nós apenas tocamos músicas e combinamos estilos que gostamos e tivemos sorte de termos entre nós essa química que nos conectou. E, hoje, muitas bandas tentaram diferentes versões disso, mas nossas principais influências de hip hop no Rage Against The Machine foram Cypress Hill e o Public Enemy. Ter a possibilidade de “rageagainsthemachinizar” o catálogo do Cypress e Public Enemy, além de criar nossas próprias músicas e ainda tocar as músicas do próprio Rage, é como ter um setlist dos sonhos.
Popload – Mal posso esperar para ouvir a versão de estúdio de “Unfuck The World” (música nova que eles têm tocado ao vivo nesses últimos shows). Esse será o próximo single? E sobre o que ela é?
B-Real – Sim, acredito que será nosso primeiro lançamento do album que sairá em setembro e nos sentimos muito entusiasmados e empolgados com ela. É uma grande música em termos de som e soa como ninguém mais. Ela não parece Rage, Public Enemy ou Cypress Hill… Ela é muito Prophets of Rage. E a mensagem é sobre o que está acontecendo agora no mundo. Sentimos que as pessoas precisam disso. As pessoas precisam de boa música com boa mensagem, então nos esforçamos juntos para essa que vai ser nossa primeira das muitas mensagens que passaremos. Lançaremos um video para ela em algum momento e vamos explorar ao máximo porque a música que segue “Unfuck The World” é igualmente poderosa e nós estamos muito empolgados. Nós aproveitamos esse grande momento que estamos tendo
nesta tour e separamos um tempo para colocar toda essa energia no estúdio e criar músicas incríveis. E nada de remixes, tudo original. E acredito que, se as pessoas gostaram do que fizemos em nosso EP (“The Part’s Over”), elas podem esperar muito mais. Muito mais shows e muito mais músicas.
Tom – E é uma mensagem global essa, “Unfuck The World”, sabe. Quando nos formamos era uma situação local, sobre fazer os Estados Unidos “rage again” (algo como “odiarem novamente”, trocadilho com o slogan “Make America Great Again”, de Trump), mas se olharmos o que está acontecendo na Europa, na América do Sul, assim como nos USA, o mundo inteiro definitivamente precisa ser “unfucked”.
Popload – Vocês podem nos contar alguma coisa sobre o álbum que será lançado em setembro?
Tom – Foi produzido por Brendan O’Brien, que trabalhou em alguns dos meus albuns prediletos do Rage Against The Machine, além de Red Hot Chilli Peppers, Pearl Jam and Bruce Springsteen também. Nós pegamos essa química que criamos na tour e levamos para o estúdio. Fizemos um album em que não medimos esforços para compor e, honestamente, me senti exatamente quando compusemos o primeiro do Rage.
Popload – Última pergunta. Eu me recuso a acreditar que sou o único aqui que quer mais que apenas um álbum, uma tour e é isso. Já que vocês estão sempre ocupados com suas próprias bandas, além dos rumores de uma possível volta do Audioslave, o que vem a seguir? Nós teremos mais Prophets oOf Rage?
B-Real –Com certeza. Isso não é apenas para um lançamento. A razão principal por termos ido ao estúdio foi para fazer um grande album e ser uma banda real, não ser apenas um projeto ou uma coisa temporária. Claro que temos nossos trabalhos individuais, mas estamos tão apaixonados por isso que encontraremos um jeito de conciliar e continuar.
Tom – Nós estamos apenas começando
B-Real – É isso. Estamos apenas começando!!!
** As fotos deste post são de Thiago Almeida, do Reduto do Rock.
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