Primavera Sound Barcelona: nosso olhar, os vídeos, as fotos

O figura Anderson Foca tem muitas virtudes. Primeiro: ele faz, lá em Natal, no Rio Grande do Norte, há muitos anos,o gigantesco e necessário festival DoSol. Outra é que ele é guitarrista e líder da insana banda instrumental Camarones Orquestra Guitarrística.

E, para terminar sua apresentação, ele, por causa de toda essa bagagem que as virtudes acima o permite, é nosso olheiro oficial no Primavera Sound de Barcelona, festival indie europeu que ele não perde um ano.

O Primavera Sound espanhol, que tem sua filial linda aqui no Brasil, em São Paulo, nos finais de ano, aconteceu de quarta-feira passada a ontem lá em Barcelona, com seus três dias principais enfileirando em muitos palcos artistas e bandas como Lana Del Rey, PJ Harvey, Pulp, The National e incontáveis outros nomes de diversos tamanhos.

Anderson Foca traz agora seu olhar do evento indie catalão, que foca (desculpa!) principalmente o underground desse underground bonito que a gente tanto gosta.


Para rechear, trazemos ainda muitos vídeos de shows, inteiros ou não, desta edição 2024 do PSB, que acabou ontem.


Sob o foco do Foca, foi assim:

O duo francês Justice, em foto de Sergio Albert

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por Anderson Foca
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* JUSTIÇA PARA TODOS

Vamos ao Primeiro dia de Primavera Sound Barcelona na minha oitava visita ao festival seguida. Apesar de cheio, não estava lotado, até por ser uma quinta, o que foi incrível para ver todos os shows bem de perto e sem aperreios.

Vi de relance os ótimos Balming Tiger, parte da invasão asiática no line-up deste ano. Para jovens, bateu forte. Da próxima ver que eu os encontrar quero ver o show todo. Desci para ver o Mannequin Pussy, um dos shows de novos artistas que eu mais queria ver. O som estava horroroso e inviável. Não quis perder tempo e vazei de lá para ir para a arena principal.

A “energética” Amy Taylor, em ação pelo Amyl and the Sniffers. Foto de Eric Pàmiers

Por lá vi os maravilhosos australianos Amyl and the Sniffers. Que show pedrada, que banda, que vocalista carismática. Se passar perto de você, caia para dentro. Rock de roqueiro clássico. Fuderoso. Um dos nomes que o Brasil deve receber este ano [nota do editor: É mesmo?!?!?!]. Caso fichas de que eles virão ao PS do BR.

A crew NY dos Vampire Weekend veio em seguida num show chiquérrimo, rebuscado e ainda assim muito dançante e pop. Jóia rara. No set, várias do excelente disco que eles lançaram mês passado, o “Only God Was Above Us”. Sempre incríveis, principalmente ao vivo.

 Matt Berninger, do National, solta a voz no festival de Barcelona. Pic: Sharon López

Ai chegou o “show da noite”: Deftones. Metal triste? Emo tight? O que definiria o som dos caras? Sei que foi intenso, emocionante e performático. Chino muito em forma nos vocais e o set deles foi certeiro. Minha primeira vez vendo os Deftones ao vivo. Inesquecível.

Para fechar com choque de vibe, vi os Justice, franceses do eletro. Que paulada segura, espetáculo sinistro de som e luz. Gastei o resto de energia com propriedade. Foi lindo. Já tinha dado 4h.

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* PUNK’S NOT DEAD

Segundo dia foi de rotas bem alternativas no Primavera Sound. Pra mim, a maior graça do lance. Não ficar apostando em blockbusters o tempo inteiro. Com dez palcos para visitar, as opções são infinitas a cada hora.

Comecei vendo o jungle cumbiado de uma artista poderosa e bizarra chamada Nusar3000. Guarde esse nome. Depois veio o meu show preferido do dia, cedo e no menor palco, com umas 300 pessoas assistindo: Scowl, uma pedrada punk party liderada pela excelente vocalista Kat Moss. Absurda.

Entrei no Boiler Room, fiquei um tempo vendo umas jams de rap triste (não estava no line-up), não sei quem estava cantando e voltei para ver os Dogstar, com direito ao ator Keanu Reeves no baixo. Matei a curiosidade, mas o som não bateu. Sai e fui me posicionar para a missa dos Badbadnotgood. Minha primeira vez vendo eles. Foi divino, como quase todos os shows de fim de tarde do PS. Eles parecem que sentem qual banda tem que estar em ação no entardecer da primavera catalã.

Depois disso veio o absurdo, espetacular e impactante Obongjayar, Nigeriano radicado em Londres, jogando novas e interessantes camadas no african pop que vem dominando a música… pop. Ele foi além. Destaque parava banda insana que o acompanhou.

Lana Del Rey atrasou 30 minutos (imperdoável para um rolê como o PS). Para mim não bate, mas tinha 50 mil jovens pirando. Passo. Terminei vendo os sensacionais The Nacional. Queria ter mais juízo para sentir o som, mas já estava cansado para penetrar na vibe deles. Mesmo assim foi muito bonito.

As Atarashii Gakko, do Japão, destaque do festival neste ano. Foto de Clara Orozco

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* A BRUXARIA DE POLLY JEAN

Dia de chuva para fechar o último dia “grosso” do Primavera Sound no incrível Parc del Forum. Trabalhos abertos com o show torto e poderoso dos Water From Your Eyes. Estranho, melódico e barulhento. Deu bom. Veio em seguida os californianos do Militarie Gun. Curti ouvindo antes, o show é mais fraco, meio insosso. Inofensivo.

Fui ver os espanhóis Lisabô, pedrada rock doido com duas bateras, ótimas letras. Poderoso demais e recomendo uma ida neles, quando der. O Crumb veio na sequência, indie dream pop delícia de NYC. Amei muito, quero ver mais.

Mais um momento da missa no PS. Hora da musa PJ Harvey. O que já era sombrio, fino e estranho, como é a obra recente dela, se ampliou com um chuvão junto. Foi gostoso, mas friorento. Ensopado fui me proteger no fim. Massss acabei vendo quase tudo e foi épico como sempre.

Preparei o terreno, descansei e fui ver as maravilhosas Bikini Kill. Que maravilha, que show, que aula. Melhor do dia, um dos melhores de todo o PS. Banda icônica respondendo a bronca é sempre foda.

Fechei vendo a Romy num horário melhor que no C6 (em SP) e com dez vezes mais boost. Foi massa demais.

O freak ficou para o final. As japonesas hypadas do Atarashii Gakko. Já tinham torado o Coachella no meio e toraram o Primavera também. O som eu recomendo você procurar (com vídeo). Vai ficar na cabeça elas dançando insanas com umas dentaduras mordendo um unicórnio na projeção. Bizarro, não decidi se gostei. Mas pouco importa.

O famoso arquiteto espanhol Antoni Gaudí, ao ser perguntado quando a Sagrada Família ficaria pronta, respondeu dizendo que seu “cliente” não tinha pressa. O Primavera Sound Barcelona é meio como Gaudí. Devagar e sempre, criando memórias, apontando o novo e hypando tendências para a música no mundo. Todo ano uma experiência diferente. E sem pressa de ser diferente. Só sendo!


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* A foto do Primavera Sound que está na home da Popload, chamando para este post, e repetida aqui no topo, é de Sharon López