Por essa a gente não esperava: Tame Impala invade o Tiny Desk com violões (!!!) e lança o largado “Deadbeat”, primeiro disco cheio em cinco anos

Com certeza, “Deadbeat”, o primeiro álbum do Tame Impala desde 2020, será motivo de discussão nos próximos dias e semanas nas mesas dos botequins indies por aí. Mas, antes de falar do álbum, ou sobre o lançamento dele, vamos para outra notícia tão relevante quanto. Ou quase.

O Tame Impala fez um Tiny Desk. COM VIOLÕES.

Para bombar o lançamento desse disco que saiu hoje, Kevin Parker e sua trupe de outros cinco músicos trocaram os sintetizadores e computadores por violões, nos oferecendo uma versão crua e despida do Tame Impala no, há algum tempo, maior selo de sessions improvisadas do mundo.

A mescla do setlist botou o novo Tame Impala se encontrando com o velho Tame Impala. E os violões fizeram essa distância ser encurtada. O grupo australiano apresentou “Borderline”, “Loser”, “Dracula” e “New Person, Same Old Mistakes”. O resultado, que só poderia ficar melhor se a banda fosse renomeada para Tame & The Impalas, pode ser conferido abaixo.

Conforme avisado no início do post, a ideia aqui não é fazer um juízo de valor sobre “Deadbeat”, porque a gente sabe que o Tame Impala de hoje (ou melhor, o Kevin Parker) é outro em relação ao que era há 10, 15 anos. O que é natural. Mas vamos partir de um viés legal abordado pela cool The New Yorker em conversa com o próprio Kevin, publicada nesta semana.

O ponto central da matéria é o de que o Tame Impala trabalha a partir de um processo criativo marcado pela obsessão, e não pelo perfeccionismo. E que Kevin Parker meio que rejeita uma narrativa sobre ele ser um artista meticuloso e detalhista. Segundo Parker, se as pessoas o vissem no estúdio, veriam como ele não dá a mínima.

“Todo mundo pensa que sou um perfeccionista. Essa é a narrativa presumida quando alguém orquestra um álbum inteiro, a ideia de ser um Brian Wilson. Mas se as pessoas realmente me vissem no estúdio, e reparassem o quão pouco me importo com tantas coisas… Eu simplesmente nunca me importei com isso. Eu adoraria que soasse melhor, porque eu respeito muitos grandes produtores do pop. Você sempre adora o que sente que não é”, justificou, insistindo que o que move sua música é a obsessão, a qualidade que, ao contrário do perfeccionismo, é “infinitamente interessante”.

A busca por essa sonoridade, muitas vezes descrita por uma “oscilação” ou uma batida “que não está batendo direito” levou Parker a trabalhar em total isolamento e reclusão. Seu método envolve alugar Airbnb ‘s próximos à praia, como em Montecito e Malibu, onde ele pode ouvir melhor o barulho das ondas, costume que o levou a comprar a Wave House em Yallingup, Austrália, um local que ele descreve como “o limite da Terra”, que foi palco de muitas raves nos anos noventa.

A inspiração para o novo álbum, diz ele, vem exatamente do espírito desses “bush doofs” australianos, as festas de eletrônica noturnas realizadas em locais rurais e isolados. Para Parker, a batida hipnótica e interminável dessas festas representa um Nirvana musical, com o qual ele se conecta da mesma forma que se conectou ao psych-rock no início da carreira. 

Outro assunto abordado na entrevista foi sobre o título do projeto, “Deadbeat”, que ele confessou ter sentido certo receio por achar um termo sensível. Mas que, no contexto dele Kevin, é uma referência ao ritmo irregular de sua música e um reflexo da sensação de se sentir um “irresponsável” ou “vagabundo” por não seguir o caminho convencional da vida adulta após o ensino médio.

“Por um momento, fiquei um pouco preocupado que talvez tivesse inventado uma palavra muito sensível para as pessoas. Para mim, é um sentimento. É uma forma de pegar algo que te deixava inseguro, uma maneira de enxergar a si mesmo de um jeito que você não gostava, e glorificá-lo. ‘Ei, pessoal, este sou eu. Um puta vagabundo (deadbeat)’. De certa forma, eu sempre me senti assim”, relatou Parker, que confessou ter abraçado o ideal japonês do wabi-sabi, “encontrando a sua glória na irregularidade”.

“Deadbeat” é o primeiro disco do Tame Impala em cinco anos, sucedendo “The Slow Rush”, que saiu em fevereiro de 2020, menos de um mês antes do mundo entrar oficialmente no cenário de pandemia da Covid-19.

Dito isso, está liberado termos uma nova versão do Tame Kevin Impala.