Popload vê o Coachella: Boygenius, Blink-182 e Rosalía

Neste final de semana passado aconteceu lá na Califórnia o primeiro final de semana (é verdade!!!) do Coachella Festival, um dos maiores festivais de música do mundo, que se repete de sexta a domingo próximos do mesmo jeito, no mesmo lugar.

O Coachella 2023, que teve de Frank Ocean polêmico ao ovacionado (!) show (!) das meninas coreanas do Blackpink, passando por uma centena de outras atrações que ocuparam durante três dias os sete palcos do festival.

A coisa boa, para quem não estava lá no deserto de Indio e em que pese o line-up assim-assim comparado a outros anos, mas sempre com uma cacetada de nomes para ver, é que o Coachella abriu seis canais do Youtube para mostrar os shows. E depois repeti-los.

Do que a gente viu, temos que:

– BLINK 182
Some a frieza da plateia norte-americana com a frieza natural de ver um show pela TV. Não ia dar muito certo. E o Blink 182 pouco se ajudou no seu primeiro show com a formação original em anos. Algo na apresentação parecia desconexo, como se o trio tivesse acabado de se encontrar ali no palco. É até estranho ver reações muito contentes com o que foi tocado, vai ver é a emoção do fã; justo. Os clássicos vieram e tal, mas para uma banda que tira o melhor de sua música na dinâmica apaixonante do baixo, guitarra e bateria alucinada, as canções não fazem tanto sentido com todos tão desconcentrados e abrindo mão justamente da dinâmica – várias vezes Travis Baker precisava arrumar alguma virada na bateria para manter a música andando no ritmo certo. Tom DeLonge também precisa cuidar da voz. Fica esquisito ele cantando fora do tom original, sei lá. Sem a mesma energia que na real foi a marca do Blink no início. Sim, o tempo passa. Mas só o Mark Hoppus se garantiu já com seu grave de sempre, supernecessário na música da banda. Será que ia dar bom no Lolla Brasil com trio ainda mais frio? Nunca saberemos. (VINICIUS FELIX)

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– ROSALÍA
É discutível que a espanhola Rosalía fez a melhor apresentação de todo o Coachella 2023. Mas certamente fez a melhor transmissão. A turnê do disco “Motomami” arranca elogios por onde passa (inclusive no bem recente Lollapalooza Brasil), e quem ainda não sabia do que se tratava pôde ver pelo YouTube toda a genialidade desse show. É um espetáculo absurdamente bem ensaiado, desde as danças até os movimentos de câmera pelo palco. Tudo coordenado e coeso para fornecer experiências visuais e sonoras incríveis, tanto para quem estava lá como para quem estava vendo pela internet, porque afinal isso conta cada vez mais (alguém viu o Underworld?). Os efeitos visuais nos telões eram apropriadamente minimalistas, roubando o foco da cantora e de seus dançarinos. Aliás, é justamente esse elemento humano que destaca o show de Rosalía e a coloca num patamar elevado, acima de qualquer um dos muitos artistas do pop que passaram pelo Coachella. Ela emana autenticidade durante o show inteiro, e a direção artística da performance trazem um significado especial para cada música – as coreografias parecem ter uma função além de encher o palco de gente e animar a plateia. Nem vamos nos estender muito nos méritos musicais, porque supomos que todo mundo já está cansado de saber que “Motomami” é excepcional – atropelou quase todos os discos no “Melhores de 2022” da Popload, perdendo apenas para a Beyoncé. Não vamos fazer os puritanos e dizer que sexualização é errada na música pop. Mas Rosalía merece ainda mais crédito por fazer um show que consegue ser sensual e belo o tempo todo, sem apelar para os típicos clichês sexuais que são exaustivamente explorados por ai. Foi o oposto de muitos dos shows preguiçosos que temos visto no Coachella (e em outros festivais) em anos recentes. Mal comparando, tanto em termos de produção musical quanto em excelência de efeitos visuais no palco, Rosalía faz um Nine Inch Nails pop no Coachella. (FERNANDO SCOCZYNKI FILHO).

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– BOYGENIUS
Quando o supergrupo indie Boygenius anunciou sua volta com o excelente disco de estréia “The Record”, lançado em março, todos ficamos ansiosos para ver como seriam as apresentações ao vivo. O grupo fez um pequeno show de aquecimento em Pomona, CA, mas a estreia do disco ao vivo, para valer, obviamente ficou por conta do Coachella. A nossa única dúvida era como a Boygenius traduziria suas músicas, tão intimas e em muitos momentos delicadas, apesar das bases de rock, para um público enorme e sem escorregar em sua sua essência. Bom, se tem artistas que conseguem expandir pra um público do tamanho do Coachella a delicadeza e fúria de suas músicas, essas são Julien Baker, Phoebe Bridgers e Lucy Dacus. O trio entrou no palco ao som de “The Boys Are Back in Town”, do velho Thin Lizzy, com sua banda composta 100% por mulheres, e começou mesmo sua apresentação-desafio com a belíssima “Without You Without Them”. O setlist foi conciso, focado em faixas que tem ressoado bem com a audiência como “Not Strong Enough”. A performance foi uma demonstração da amizade e companheirismo entre as artistas, com brincadeiras e piadas internas permeando um show de músicas excelentes e bem executadas. O show foi exatamente do que dele se esperava: uma performance íntima, de amigas, para milhaaaaaaares de pessoas. Go, girls! (CAROLINA ANDREOSI)