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* Sábado é o dia das colunas especiais na Popload. Hoje é a vez dos pitacos latinos do “local” Horácio Martin, o Horaz, jornalista e videomaker argentino, que assina a coluna “Sonidos”. Horaz se junta ao time que tem Tom Leão falando de cinema e Felipe Evangelista tratando de hip hop.
SONIDOS, por Horaz Martin
BOMBA SONORA
O Bomba Estéreo esteve no Brasil para o festival El Mapa de Todos, em Porto Alegre (RS), e aproveitou a passagem para dar um pulo em São Paulo. A banda já tinha tocado em maio passado na Virada Cultural, mas o show teve que se adequar ao evento. levando o grupo a não tocar tudo o que gostaria, do jeito que gostaria. Desta vez, veio a “correção”. A apresentação da semana passada foi de quase duas horas e o quarteto contagiou o público que lotou o Sesc Belenzinho com sua fusão de ritmos latinos com música eletrônica e rock psicodélico. Desta vez mostrando o show que vem fazendo parte da turnê mundial do disco “Elegância Tropical”, terceiro álbum da formação, lançado em 2012.
Enquanto toma uma caipirinha para relaxar antes do show, Simón Mejía, baixista da banda e fã dos Mutantes, conta para a Sonidos: “Este foi um disco que demorou para ser feito, mas que está dando muitos frutos, já que esta turnê mundial nos levou a países que nunca imaginaríamos conhecer”.
O país que mais marcou o grupo foi a África do Sul: “Foi incrível tocar lá porque temos muita influência afro no nosso som”. Essa influência é o que ele atribui o gosto do público brasileiro pela banda. “Acho que a música da Colômbia e do Brasil têm estado muito distantes ultimamente, mas acho que essa vertente afro, indígena de selva amazônica que nos une vai fazer essa barreira cair. Dividimos além da Amazônia, que é um território imenso, a cultura afro. Somos os países com mais raízes africanas da América Latina e isso influencia muito nas canções. Por isso temos musicalmente muitas coisas em comum. E, independentemente de que aqui a língua é a portuguesa e na Colômbia o espanhol, nossa música tem muito dessa cultura. Isso faz uma conexão maior com o público, muito maior do que poderia ter feito o chamado ‘Rock em Espanhol'”.
Aproveitei e perguntei pelo rock espanhol dos anos 80. Bandas tão importantes como Soda Stéreo e várias outras tão influentes para eles nunca conseguiram tocar no Brasil. E eles sim têm o privilégio de já terem se apresentado quatro vezes por aqui. Lili Saumet, cantora, artista plástica e principal motor da banda, me diz : “É que nós começamos num ótimo momento, comparado à época do Soda Stereo, onde não existia internet. Ou seja, não existia a globalização. Não tinha essa abertura, todas essas possibilidades de informação. A primeira vez que saímos da Colômbia para tocar fora do país foi para se apresentar aqui no Brasil, num festival em Recife. Realmente tudo começou com a internet, com blogs e DJs, porque, como era música alternativa independente, foi a melhor forma de divulgação. Nisso se transformou a nova música e a nova indústria da música. O que nos levou a virar uma banda internacional tão rápido e de uma forma tão grande em nível mundial.”
No show a Lili Saumet é realmente poderosa, não para um minuto quieta no palco. Abrindo o show com a dobradinha “Pure Love” e “Sintiendo”, faz com que o público comece a se mexer e a dançar com a mistura eletrônica caribenha que a banda propõe. “Nosso show tem mudado muito, mas continua com a mesma energia de sempre para dançar, para pular e também com momentos mais tranquilos”. Esse “momento tranquilo” foi realmente diferente porque ela mandou o público se sentar, e junto ao guitarrista Julián Salazar, cantou segurando as rosas recebidas. Um momento mais romântico para logo depois tocar o maior hit da banda, “Fuego”, fechando a noite.
“Temos evoluído, tanto a nossa música como nós mesmos por dentro. Tomamos consciência do que estamos fazendo e fazemos de um jeito mais direto”, completa Lili.
Sobre a cena musical atual na Colômbia, eles estão felizes: “Está rolando uma cultura de festivais que antigamente não existia. Claro que temos o Rock al Parque, que é o maior festival gratuito da Colômbia, mas antigamente as bandas internacionais tinham medo de ir para lá pelo estigma de ser um país perigoso e tal. Agora isso está mudando. Se está gerando um mercado ao redor da música, mais bandas independentes colombianas estão surgindo e têm um público cativo que assiste aos shows”.
Por último, pergunto sobre o futuro da banda. “Vamos entrar em estúdio ano que vem e nosso próximo disco vai ter de tudo. Será nosso quarto álbum, totalmente diferente, mas sempre psicodélico e, claro, sempre afro, muito afro”, finaliza Lili, que promete vir para o Brasil assim que começar a próxima turnê.
Bomba Estéreo em entrevista para a SONIDOS POPLOAD:
Hasta la proxima!
Horaz Martin é portenho /paulista, diretor/video maker, apaixonado por futebol e por música em geral. Sempre tentando aproximar o Brasil de outras culturas latinas.
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