Popload ouviu – “God Games”, disco que marca a volta do duo The Kills

Já fazia sete anos que o The Kills, dupla fantástica composta por Alison Mosshart e Jamie Hince, não presenteava seus fãs com um disco novo. Hoje, finalmente, podemos ouvir “God Games”, seu sexto álbum. E, como já vem acontecendo há mais de uma década, a dupla faz algumas músicas fenomenais, e outras, nem tanto. 

“Presentear” é o verbo correto para se referir a material novo do Kills, porque a banda já parecia ter atingido seu ápice criativo lá em 2008, com o clássico (para quem conhece) “Midnight Boom”. O disco trazia 34 minutos de absoluta perfeição pop-rock, indo da doçura à acidez, do Pixies ao Velvet Underground, com umas batidas surpreendentemente dançantes no meio. 

O disco seguinte, “Blood Pressures” (2011), não tinha nem como competir, apesar de ainda trazer suas composições memoráveis. “Ash & Ice” (2016) teve um resultado similar: por um lado, pecava pelo excesso, com 50 minutos de duração e uma parcela incômoda de músicas esquecíveis; por outro, tinha faixas como “Heart of a Dog” e “Siberian Nights”, que facilmente entrariam para as melhores do Kills, demonstrando um enorme salto qualitativo, porém em pequenas doses. 

E tudo isso é para dizer que “God Games” faz algo bem similar aos dois últimos álbuns. Há as músicas que te fazem se apaixonar na hora. E tem as outras. 

Curiosamente, o disco começa alternando entre esses dois tipos. “New York” é um single excelente, e funciona muito bem como abertura. “Going to Heaven” passa batido. “LA Hex” tem aquela melancolia deliciosamente nostálgica, mas esperançosa, que só os Kills conseguem fazer.

“Love and Tenderness” começa interessante, mas acaba imediatamente apagada pela excelência da faixa seguinte. “103” é contida nos versos, mas gloriosamente explosivas no refrão. Perfeitamente equilibrada, como todas as melhores músicas da carreira da dupla. É o tipo de rock catártico e cheio de efeitos de guitarra que o U2 mataria para conseguir compor em 2023.

“My Girls My Girls” chama mais atenção pelo título que pela música. Já “Wasterpiece” mostra porque mereceu virar single, com instrumental brilhante e versos autodepreciativas geniais como: “You’re VIP on the Walk of Fame, I’m RIP on the walk of shame”.

A peculiar “Kingdom Come” encerra essa sequência bizarra de “boa-fraca-boa-fraca” que marca o disco, seguida pela faixa-título, “God Games”, que fica acima da média, mas não impressiona. 

Depois temos “Blank”, uma balada ao piano que nem se aproxima da beleza das faixas mais lentas que a dupla fez com tanta perfeição no passado, como “Hum for Your Buzz”, “The Last Goodbye” ou “Goodnight Bad Morning”. O álbum é encerrado por “Bullet Sound” e “Better Days”, talvez as mais esquecíveis aqui, que fazem pior que deixar um gosto amargo na boca – simplesmente não deixam gosto algum. 

O engraçado é que, se você terminar de ouvir o disco e voltar para “New York” ou “103”, essa impressão some instantaneamente. Existe material muito bom em “God Games”, mas está espalhado de uma forma bizarra, intercalado com momentos menos inspirados. Como diz a letra de “LA Hex”: “I’ve still got my ways, you know”. Temos que concordar. Alison e Jamie ainda têm o seu jeitinho, mesmo que não seja o tempo todo.