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* Um encantamento recíproco marcou o início do segundo dia do Pitchfork Festival Paris, sexta, no Grande Halle de la Villette. Aaron Maine, figuraça alta (e loira, o da direita na foto acima) que lidera a delicada banda-projeto indie eletrônica Porches, de Nova York. O Porches, você que frequenta aqui sabe, é uma das nossas bandas novas prediletas.
“É minha segunda vez em Paris. Como tudo aqui é lindo. Como esse festival é lindo. Como vocês são lindos”, disse Maine no primeiro break de sua apresentação no evento francês, depois da terceira música da noite, de seu segundo álbum “Pool”, lançado neste ano, disco que se o indie americano considera como primeiro, o da “revelação” de uma das mais bonitas vozes atuais da música jovem, quem somos nós para discordar.
O público, em número muito bom dado o início da jornada de shows que iria acabar só sete horas depois, retribuia tal contentamento com aplausos efusivos e “uhus”. O porte e uma certa lembrança física de um Morrissey jovem e vozeirão de um Antony Hegarty (hoje Anohni, ex-Antony & The Johnsons e Hercules and Love Affair), Aaron Maine é uma dessas escolhas novas e bem curadas que definem o Pitchfork Festival Paris. Se nada interromper a trajetória do Porches, a partir de agora vamos vê-lo tocar em todos os outros festivais maiores.
A delicadeza do Porches, deixada no Grande Halle, sobreviveu até ser completamente devastada pela maçaroca sonora experimental do grupo Explosions in the Sky (acima), veterano grupo de post-rock de Austin, Texas. Do alto de seus sete álbuns lançados, o Explosions in the Sky é cada vez melhor em construir suas narrativas sem vocais, baseadas em barulhos intensos, barulhos contidos, algum barulho e calmaria. A história quem vê o show cria a sua. Hipnótico.
Conhecida do público indie, Natasha Khan, a moça (acima) que é dona da banda Bat for Lashes, entrou no palco de noiva. Noiva de vermelho. A fase em que ela se encontra é a do recém-lançado (julho) quarto álbum, “The Bride”, disco com história que liga suas canções em torno de amor e melancolia, solidão e tristeza, com o casamento (trágico) como pano de fundo. Já foi bem destacada aqui na Popload.
O som é indie pop mas a história das letras é punk. Vai do sonho do casamento com o amor ideal, o “Eu aceito” da igreja, a morte do noivo a caminho da cerimônia e a fuga da noiva para longe de seu lugar, para se resolver com a perda. Tudo embalado por boas canções pop. O show do P4k Paris não foi só isso, mas foi principalmente isso. E foi bom de ver.
Um dos nomes mais cultuados da música eletrônica hoje, o norueguês Todd Terje é outro que montou banda para dar uma certa vida a suas músicas, para além de um set de DJ. O som tropical de suas picapes pede um baterista e um percussionista ao vivo, para batucar em cima de sua eletrônica fina, de alta cultura. E a simbiose com o público que quer dançar ao mesmo tempo que vê uma apresentação de banda é perfeita. Pelo menos sexta-feira, no Pitchfork Festival, foi.
E eu paguei uma dívida pessoal com ele. No ano passado, Todd Terje se apresentou no Popload Festival. Escalação supercomemorada por mim. Mas aconteceu que o Iggy Pop não me deixou ver mais que 15 minutos de sua apresentação. Quites, Terje?
** A foto de Natasha Khan (Bat for Lashes) deste post é de Kimberley Ross. A do Todd Terje, de Lisa Olsen, tirada do Soundofbrit.fr
**** A Popload viaja pela Europa à convite da Air France.
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