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* Para manter minha tradição, toda vez que chego em outro pais eu corro para comprar jornais e revistas locais. No caso de uma boa banca francesa, as revistas de música são várias. Catei três. Duas delas, traz PUNK como tema.
A “Rolling Stone” francesa soltou uma edição para colecionador com um especial dos 40 anos do movimento que botou umas tachinhas e alfinetes e rasgou a roupa colorida do rock. Tem uma história densa e gostosa sobre o Clash, uma das maiores bandas punks de todos os tempos, uma das cinco melhores da minha vida e que vai estar por todos os filmogramas de “London Town”, em cartaz em NYC, LA e Londres desde o começo deste mês.
A “RS” botou o disco do grupo americano Ramones, homônimo, como o maior disco de todos os tempos. O do Clash, homônimo, vem em segundo. O álbum que quebrou tudo, “Never Mind the Bollocks”, dos Sex Pistols, chegou em terceiro na “Rolling Stone”. A música mais importante do punk, para a revista? “New Rose/Help”, do grupo britânico The Damned.
Já a Rock & Folk nova fecha no punk feito na França mesmo. De 1976 até hoje. Reuniu uns caras e fez uma matéria “oral”, sobre o que aconteceu no país e o que acontece agora em termos punks. Acaba de sair um disco também, aqui na França, sobre o tema: “Les Punks: The French Connection”. Acho que vou comprar.
** A melhor revista musical francesa, talvez uma das duas melhores do planeta, a francesa “Les Inrockuptibles” vem com capa dupla para homenagear dois baluartes do rock: Dylan com seu Nobel de Liberatura e Leonard Cohen com sua única entrevista e sobre seu último (mesmo) disco. Comprei a do senhor Leo. Vou dar uma sapeada na entrevista e retorno ao assunto, porque ele deve ter muito a dizer.
** PARQUET COURTS EM STRASBOURG – Levei um susto enorme ontem, na chegada a Strasbourg, duas horinhas de TGV de Paris. Assim que me instalei num hotel e recebia as instruções certinhas sobre qual vinho tomar na região, de qual uva etc., fui ao site do La Laiterie (mais tarde, o motorista do Uber soltou uma pronúncia dessa casa de shows que nem em cinco anos estudando na Sorbonne me faria repetir igual). Queria saber exatamente qual era o horário de entrada no palco da banda indie-punk do Brooklyn com cheirinho de Austin Parquet Courts, um dos grupos “novos” de que mais gosto neste planeta.
Assim que acessei o site, veio a info do show do… New Model Army no lugar. Glup! Não que eu já não tenha gostado bastante destes ingleses post-punk, que fizeram tanto sucesso nos anos 80 que até hoje “rádios rock” do Brasil tocam uma de suas músicas.
É que o Laiterie é um espaço de shows com dois palcos distintos: o Clube, e a Grande Sala. O Parquet Courts tocou no primeiro, para tipo 400 pessoas. No mesmo horário, para públicos diferentes, no outro salão maior (800) estava se apresentando a veteraníssima banda inglesa New Model Army. Tentei até ver se eu conseguia ver uma parte do NMA, mas não rolou.
Definitivamente, no Clube, escurão e com excelente som, o Parquet Courts mostrou que caminha fora da curva dentro da música independente. Isso fica muito claro ao ouvir a banda, seja em disco ou mesmo na performance ao vivo, como foi a de ontem à noite no La Laiterie.
“Queria avisar, para quem pode ter se confundido, que nós somos o Parquet Courts. O New Model Army está tocando aqui ao lado. Ainda há tempo para ir até lá”, avisou, com tom de brincadeira, o guitarrista Austin Brown. “Somos de épocas diferentes, embora sejamos parecidos fisicamente.”
A piada de Brown pode ter lá sua graça, mas entrega também uma verdade. Com cinco anos de estrada, o Parquet Courts parece veteranos em ação. Principalmente ao vivo.
Se o grupo fosse dos anos 60, por exemplo, certamente seria tido como “transgressor”, numa linha Velvet Underground de ser. Com cinco discos lançados, dois EPs, às vezes com um nome diferente e outros projetos, às vezes dois álbuns no mesmo ano, o Parquet Courts tem a premissa, parece, de botar barulho onde não cabe barulho. De acalmar tudo quando o que sua audiência mais quer é pular e gritar junto. Mas hoje não é tão fácil ser, exatamente, um “transgressor”…
Seu outro guitarrista, Andrew Savage, faz um excelente duelo de guitarras com Brown, que desde os Strokes, no começo da década passada (e uma vez que a figura de Alex Turner como coronel sublimou totalmente o outro guitarrista do Arctic Monkeys).
O duelo se dá também na voz, porque tanto Andrew quanto Austin cantam, cada qual sua parte do show, ambos também ótimos no vocal. Parecem bandas diferentes, quando um ou outro assume o microfone. São dois grandes shows ao preço de um.
A abertura que a internet causou, no caso particular da música independente, possibilita que uma banda nova e alternativa americana da “altura” do Parquet Courts, com divulgação bem relativa em rádios e nada em televisão, tenha fieis seguidores até no interior da França. A gritaria para a banda voltar para o bis foi empolgante. Mas eles não voltaram.
Talvez o Parquet Courts tivesse que descansar para viajar a Paris e tocar no fim de tarde desta quinta-feira no Pitchfork Festival, festival mais voltado para a vanguarda eletrônica sem jamais deixar as novas tendências do indie rock de fora.
E, neste papel vanguarda/novas tendências, nada mais apropriado hoje do que escalar o Parquet Courts.
Veja três vídeos lindos da performance do Parquet Courts ontem, em Strasburgo. E o setlist do show.
**** A Popload viaja a Europa a convite da companhia aérea Air France.
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Já disse isso aqui depois do Primavera Sound e continuo com a mesma ipinião: melhor show que eu fui no ano foi desses caras! Um dos últimos shows do Primavera e disparado o mais insano (tocaram até Stoned & Starving)! Tomará que venham para o Brasil em 2017!