A banda mais animada do mundo, a sueca The Hives, está ainda mais animada em tocar no Brasil. Essa animação toda nos foi literalmente dita pelo guitarrista principal Nicholaus Arson, o Nick, que também faz os backing vocals para o irmão mais animado ainda, o vocalista Pelle Almqvist, o líder do Hives. E, acredite, Nick nem é um dos mais animados do Hives, você pode perceber em algumas respostas. Enfim.
O grupo de garage rock que pulou para fora da Suécia para os mercados inglês e americano na onda do novo rock, nos anos 2000, é uma das grandes atrações do Primavera Sound São Paulo, que acontece no comecinho de dezembro no Autódromo de Interlagos.
O Hives se apresenta no sábado dia 2, junto com The Killers, Pet Shop Boys e muito mais.
Já que Pelle andou pulando umas entrevistas para poupar sua garganta gritadora para os shows na América do Sul, Nick, que nem é de falar muito talvez por ser o geniozinho da banda e responsábel pela pegada garagem do Hives, aceitou levar um papo com a Popload sobre sentar na lama, a qualidade da pele (não do Pelle!) e sobre morte e vida.
Popload – Então vocês estão animados de voltar para o Brasil?
Nick- Muito animados! Fazer uma turnê latino-americana é altamente recomendado para quem ainda não fez isso. Se puder, faça!
Popload – Primeiro, quero perguntar sobre o disco que vocês lançaram neste ano, “The Death of Randy Fitzsimmons”. Você sente que conseguiram realizar tudo o que queriam com esse álbum, após 11 anos sem soltar nada novo?
Nick – A resposta curta é: sim. Após 11 anos sem lançar nada, de qualquer forma as pessoas vão chamar de um “retorno”, apesar de nunca termos parado de verdade. Com esse disco, queríamos algo recarregado, que representasse o melhor da banda. Acho que foi isso que tentamos fazer, e conseguimos.
Popload – E você acha que Randy Fitzsimmons, o fictício sexto membro do Hives que morreu e foi parar no título do novo álbum, está em um lugar melhor agora? Ele é o tipo de cara que iria para cima ou para baixo depois de morrer?
Nick – Com aquele cara, nunca se sabe. Eu espero que ele esteja num lugar melhor, sim. Mas, bem, não posso falar muito a respeito, porque nós da banda juramos manter segredo sobre isso.
Popload – A música que mais gostei no disco novo se chama “What Did I Ever Do to You?” Vocês pretendem tocá-la ao vivo?
Nick – O problema é que ela é tocada com uma máquina bizarra que compramos na internet. É uma mistura de guitarra e órgão, mais antigo que MIDI, criado por um cara que separou todas as notas no braço, e as conectou eletronicamente a um órgão. Então, se você toca um acorde na guitarra, todas as notas são repetidas no órgão. E também tem um microfone, que deixa você cantar com o instrumento ao mesmo tempo. Também dá para fazer sons de bateria, ter mais de uma pessoa tocando ao mesmo tempo. Fazíamos covers dos Misfits no instrumento, só para testar. Mas não temos como levar esse negócio na turnê, ainda. Ou, quem sabe, poderíamos tentar, mas acho que não se encaixa no setlist, porque queremos que o show seja energético. Veremos. Quem sabe a gente toque.
Popload – Li uma entrevista que você deu uns dez anos atrás, e perguntaram se você conhecia música brasileira, e você disse que não. Isso mudou?
Nick – Continuo não conhecendo. Se quando tocamos no Brasil tivermos alguma banda de abertura, ou no dia do festival, vou tentar dar uma olhada. Mas não ouvi nada, sério. Que bandas brasileiras eu deveria ouvir? Que banda daí soa como The Hives?
Popload – Como o The Hives? É difícil…
Nick – Bem, se não tem nada que soe como nós, então acho que não perdi nada demais [risos].
Popload – Lembrei de algo de um show do Hives no Brsil há dez anos, no Lollapalooza de 2013. Tem sempre uma parte em que vocês pedem para a plateia se sentar, depois pular. Mas, naquela noite, não obedeceram, porque tinha chovido e o chão estava coberto de lama. Com que frequência isso acontece, de as pessoas não se sentarem nos shows?
Nick – Bem, deve ter sido a única vez então! [Risos] Sinceramente… [longa pausa] tentando lembrar aqui, deve ter sido a única vez mesmo, porque sempre dá muito certo. As pessoas entram na onda. Mas entendo se alguém não quiser se abaixar na lama.[risos]
[Veja como foi isso, no vídeo abaixo]
Popload – Seus roadies ainda se vestem de ninjas?
Nick – Ninjas são ágeis e rápidos. Acho que a oportunidade estava lá, e aproveitamos. Se você contratar ninjas, eles serão os melhores roadies.
Popload – Ao tocar em tantos festivais, você já teve a oportunidade de ver todo mundo que te influenciou?
Nick – Acho que já vi todo mundo que queria ver, exceto os que já morreram. Por exemplo, nunca vi os Ramones. Vi os Misfits e uma versão dos Dead Kennedys. Tivemos muita sorte de tocar no mesmo palco que bandas como AC/DC e Rolling Stones.
Popload – Teve um dos shows online que vocês fizeram durante a pandemia em que alguém pediu uma música para o Pelle [vocalista dos Hives], e ele simplesmente disse “Não, não podemos tocar isso”. Há músicas que vocês nem consideram mais tocar?
Nick – Não exatamente. Mas obviamente tem muitas músicas que não tocamos porque o tempo de show não permite tudo. Precisamos fazer uma espécie de “best of”, porque não há espaço. E, sinceramente, em cada disco temos umas duas ou três músicas que queremos tocar de verdade, e alguns discos em que, quem sabe, queremos tocar todas, mas é impossível, não há tempo. Acho que o rock’n’roll só é interessante por uma hora, quem sabe uma hora e 20 minutos. Se alguém toca mais que isso, eu já perco o interesse. Por isso que os Hives geralmente tocam uma hora. Deve ser um show com energia, e queremos tocar tudo da melhor maneira possível – mas ainda erramos às vezes, é claro. E naqueles shows da pandemia, resgatamos muitas músicas, como “Die, Alright”, “A.K.A. I-D-I-O-T”, coisas que não tocávamos havia bastante tempo, e quando isso acontece pode ser divertido. Mas, geralmente, as pessoas querem ouvir a mesmas coisas que nós queremos tocar: as óbvias. E tudo certo!
Popload – Uma vez vi Chris Shiflett, do Foo Fighters, comentando que eles não tocam músicas mais incomuns ao vivo porque as pessoas ficam entediadas e começam a pegar o celular.
Nick – Quem sabe. Mas acho que não teríamos esse problema, porque as nossas músicas são tão curtas que as pessoas nem teriam tempo para isso. Geralmente, pegam o celular quando tocamos os sucessos, para filmar coisas. Odeio essas merdas de telefones. Quero que as pessoas se divirtam. Nem todo mundo tem a capacidade de ser um cineasta. Mas tem músicas que eu sempre quero tocar, como “Take Back the Toys”, “The Hives Declare Guerre Nucleaire”, “Supply and Demand”, “Hail Hail Spit N’Drool”, mas aí seria outro show.
Popload – Se o Nick jovem pudesse ouvir as músicas que você faz hoje, como ele reagiria?
Nick – [risos] Eu acho que ainda sou o Nick jovem! Obviamente, estamos envelhecendo, mas ainda me sinto como se tivesse 22 anos. O tempo para quando você toca em uma banda de rock. É a fonte da juventude mesmo. É claro que a aparência muda… mas acho que a nossa nem mudou tanto [risos]. Mas, respondendo à pergunta, sim, acho que me sentiria muito orgulhoso.
Popload – Bem, todos vocês têm pele muito bem cuidada, parece.
Nick – Obrigado. Isso também é graças ao rock’n’roll. Ou ao sabonete de hotel, não sei.