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* Este homem (ainda) charmoso.
(((esta entrevista foi publicada na edição de hoje da Ilustrada, caderno de cultura da Folha de S.Paulo. os vídeos são do show de ontem em Santiago, no Chile. É permitido chorar.)))
Na primeira e única ocasião que esteve no Brasil para shows, em 2000, o cantor inglês Morrissey concedeu entrevista a este jornalista em um hotel em Curitiba. Embora estivessemos no mesmo lugar, Morrissey não quis descer do quarto e a entrevista foi feita por telefone. Ele na cama, eu no saguão, conversa via ramal interno.
“Desculpe-me. Acordei agora e não estou com uma aparência digna para oferecer às pessoas. Vou poupá-lo”, disse Morrissey, numa justificativa à la Morrissey.
Doze anos depois, Morrissey volta ao país para três festejadas novas apresentações, desta vez em Belo Horizonte, Rio e São Paulo, respectivamente nos dias 7, 9 e 11 de março. E aceitou dar nova entrevista.
“Mas tem que ser por email, no máximo quatro perguntas e nada de falar sobre os Smiths”, veio o aviso.
Morrissey, poeta pop e vocalista singular que um dia liderou o fundamental The Smiths nos anos 80 e montou uma sólida carreira solo na virada para os 90, levando para onde vai um verdadeiro séquito de adoradores que se mantém até hoje, continua o mesmo.
O que mudou foi a música em torno dele, que o faz, com um disco pronto desde o ano passado, não ter uma gravadora disposta a lançá-lo, mesmo lotando shows em qualquer parte do planeta.
Sobre isso, sobre a situação da indústria musical em geral e sobre o Brasil, o senhor Morrissey, quase 53 anos, tem quatro respostas a dar.
POPLOAD – Para você, existe algo especial em voltar a cantar no Brasil, neste momento de sua carreira? Você se lembra dos shows de 2000?
MORRISSEY – Fiquei surpreso em saber que vendi tantos ingressos no Brasil, para esta turnê. E fiquei completamente perplexo com a repercussão da última vez que estive no país. Você sabe o quanto os EUA e a Inglaterra acham que são o centro do mundo, então é difícil saber como as coisas são no Brasil. Eu me dou bem nos EUA e na Europa, mas meu alcance na mídia lá é quase sempre invisível, então fica implícito que todo grande sucesso vem das pessoas de quem você ouve falar… O que não é o meu caso! Acho que sou confuso demais ou muito provocador para a mídia lidar comigo, porque eu não sou uma pessoa… simples. Então é sempre uma surpresa.
POPLOAD – A impressão que dá, aqui no Brasil, baseado na grande repercussão que foi o anúncio de seus shows, é a de que você ainda mantém um intocável status de artista cult, mesmo entre o público mais jovem. Você acredita que isso é graças à internet?
MORRISSEY – Não sei ao certo o que significa ser “cult”. Sempre achei que significasse que poucas pessoas se interessam por você. Há muito tempo me chamade “artista cult” e “indie”, mas nenhum desses termos são verdadeiros. Eu simplesmente não sou uma puta da mídia, que faz qualquer coisa para aparecer. Acho que todo mundo está deprimido com essa nova era da música porque parece que ela só se interessa por músicas sem sentido.
A todo lugar que você vai, você vai ouvir músicas inexpressivas — eles tocam techno-dance em todas as lojas de departamento, lojas de sapato e elevadores, porque ninguém está realmente ouvindo a música. Você nunca vai ouvir uma canção com conteúdo social em um salão de beleza, elevador ou na televisão. Se você perguntar a uma vendedora de loja como ela consegue ouvir aquela música alta o dia todo, elas vÃo sempre responder “ah, eu desligo”. É assim a música moderna. Você não tem a permissão de escolher escutar. Você é bombardeado na cabeça com música que outros escolhem para você ouvir. E assim ela se torna insignificante.
POPLOAD – Como você faz para manter sua carreira viva sem um contrato com um selo para lançar um disco e vivendo na era do download gratuito? Você ainda se sente relevante para a música?
MORRISSEY – Eu me sinto triste porque nenhuma gravadora quer assinar comigo. Isso diz muito sobre a indústria da música nos dias de hoje. Ela está efetivamente morta agora. Não é que ela esteja morrendo: já morreu. As gravadoras a mataram ao bagunçar as paradas de sucesso e por assinarem contratos com moleques de 15 anos que ficariam emocionados em fazer tudo isso sem um contrato. Vou continuar porque gosto de cantar e, até o momento, tenho um público que quer minhas músicas. Mas essas minhas razões para continuar não significam nada para as gravadoras
POPLOAD – Você ouve música nova, bandas novas?
MORRISSEY – Eu acabo ouvindo de tudo, mas a maioria dos novos artistas matam a música. E a imprensa musical – o que sobrou dela! – vai sempre “hypar” seus amigos, vai escrever sobre os amigos e vai inventar premiações para dar aos amigos mês sim, mês não. Mas no fundo não existe uma pessoa neste planeta que ache que há esperança para a música moderna.
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“You have never been in love until you
until you’ve seen the stars
reflected in you reservoirs”
Morrissey, “First of the Gang to Die”
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