POPLOAD ENTREVISTA: ALT-J. Falamos com Gus Unger-Hamilton sobre o disco novo da banda, que está saindo hoje

* Dez anos após o álbum de estreia, que rendeu à banda um enorme reconhecimento mundial e um Mercury Prize (aquela outra premiação bacana do Reino Unido), o Alt-J despejou nesta madrugada 12 canções nos streamings, que constituem seu quarto álbum, “The Dream” (capa abaixo).

Seriedade e mistério meio que sempre cercaram a banda. Seja com uma letra enigmática ou um vídeo cabeçudo ou até mesmo sombrio (alô “Breezeblocks”!). Nesta nova fase como trio, agora formado por Joe Newman, Gus Unger-Hamilton e Thom Green, o grupo de Leeds busca mostrar que eles também são legais.

Em setembro o single “U&ME” trouxe um Alt-J mais “esperançoso”, uma música que fala sobre estar num festival de música com seus amigos, curtir e ter aquele sentimento de que nada poderia estar melhor. Sobre a faixa, Gus comenta, em entrevista à Popload, que na hora de escolher o primeiro single do novo álbum a banda queria que fosse algo positivo, para que as pessoas se animassem com o futuro, e brinca: “Achamos que vai ser uma ótima música para tocar ao vivo nos festivais que estão por vir. Aliás, que tal vender uns ingressos com ela?”, ri.

Essa mudança também aconteceu no vídeo de “U&ME”. É a primeira vez que o grupo mostra suas caras, e aparece junto em um clima descontraído. O trio de Leeds decidiu “quebrar” um pouco as próprias regras e admite que o processo foi bem divertido. “Mostra que ainda somos melhores amigos e curtimos a companhia um do outro, mesmo passando dias e horas juntos em turnê”. E reforça: “Acho que temos uma reputação de ser muito sérios, ou talvez chatos, mas a gente é bem legal!!!”. Mais risos. O Alt-J parece realmente estar feliz.

Ok, o lado negro da força não foi embora totalmente. “The Dream” é inspirado em histórias sobre crimes de Hollywood e do famoso hotel Chateau Marmont, conhecido por hospedar grandes celebridades e ser palco de muito sexo, drogas e rock’n’roll. Uma turminha sussa que vai de Jim Morrison a Lindsay Lohan. Pensa.

E é o que ouvimos no single mais recente do grupo, “The Actor”, lançado nesta semana, que faz referência direta à morte do ator John Belushi, que teve uma overdose de cocaína (parece que misturada a heroína) nos anos 80 num dos famosos bangalôs do hotel.

A letra diz: “Why do I keep on returning to you? / Cocaine, cocaine / Swarm TV cameras / Click and stumble at the Chateau / Later, I hear John’s Body got carried out / Ice cream was a code word / Told to me by a code man / These nice hotels / I don’t know your clientele”.

Mas vamos relembrar a temática de algumas músicas: do primeiro álbum, em “Taro” ouvimos a história de Gerda Taro, fotojornalista da Segunda Guerra Mundial, que morreu na linha de frente e era apaixonada pelo colega Robert Capa, que morreu logo em seguida após pisar numa mina terrestre. É uma linda e trágica história de amor.

Do último álbum, a faixa “Deadcrush” fala sobre várias mulheres da história, que também seriam “crushes” dos membros da banda: Lee Miller, Ana Bolena e Sylvia Plath.

Afinal, como surgem essas inspirações?

“Há muitas histórias reais por aí que podem nos inspirar. E por que não olhar para elas para nos inspirar? Em ‘Taro’ a história de Gerda Taro e Robert Capa é uma história maravilhosa: combina amor, guerra, arte, drama, morte… tudo. O lance do Chateau Marmont não é necessariamente sobre glamourizar ele, e sim entender o motivo que faz as pessoas pirarem no hotel. Ou para artistas como Marilyn Monroe e James Dean terem frequentado o lugar e sobre esses ícones terem morrido jovens. É sempre fascinante para as pessoas. Sexo e morte meio que andam junto, e definitivamente é muito mais interessante do que sexo sem morte.”

As histórias obviamente vieram acompanhadas da bagagem pandêmica de ter assistido muitas séries e filmes sobre crimes e afins, assim como horas de podcasts. Quem nunca?

Em termos sonoros, “The Dream” traz umas piras na produção, tipo um coral com crianças, uma orquestra, um cantor de ópera, instrumentos medievais… cool. Essa experimentação também é fruto destes anos todos juntos, mais de uma década, que permitiu que a banda evoluísse disco a disco, provando que não é necessário se apegar a um estilo de som, e que as influências musicais também não precisam ser diretas. “Podemos ser influenciados por música clássica e ao mesmo tempo heavy metal ou música folk”, diz Gus.

No passado a banda já colaborou de forma interessante com outros artistas. No segundo disco, “This Is All Yours”, lá de 2014, na música “Hunger of the Pine” rola um sampler da Miley Cyrus (de sua música “4×4”). Ficamos curiosos para saber se hoje em dia eles colaborariam com algum novo artista pop.

“No último disco fizemos uma versão de remixes, o ‘Reduxer’ (2018), e trabalhamos com vários artistas de hip hop, entre eles a Little Simz, que desde então tem sido um nome em ascensão. Trabalhar com ela foi incrível. E se formos fazer algo com outros artistas no futuro seria incrível colaborar com ela novamente. Compor algo mais voltado para o hip hop, que é um estilo musical que todos nós da banda gostamos muito.”

Acho que esperávamos uma resposta tipo Arlo Parks, talvez pelo tipo de letras que ambos escrevem. Ou talvez algo extremamente diferente e pop, como Billie Eilish. Nenhuma das opções foi descartada. Em “Reduxer”, Little Simz colabora numa versão de “3WW”.

Para fechar, o vocalista/tecladista gostaria de se desculpar pela banda não ter vindo ao Brasil na turnê de “Relaxer”. E espera muito poder vir numaa próxima. “Tivemos uma experiência maravilhosa no Brasil [Lolla BR 2015] e adoraríamos voltar em breve.” Estamos de olho!

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* A entrevista com Gus Unger-Hamilton, do Alt-J, foi conduzida por Daniela Swidrak via Zoom.