
Na última sexta-feira, 12/09, o Green Day encerrou sua mais recente passagem pelo Brasil, com um show na Arena da Baixada, em Curitiba, após terem tocado no mastodôntico festival The Town no domingo anterior. Fomos ao The Town vê-la, mas preferimos checar mesmo a banda ao vivo num “lugar menor”, este no Paraná, para contar aqui como foi a nova das muitas visitas que o grupo da Califórnia fez ao Brasil.
É engraçado ver como o Green Day, que há muito tempo já é gigante, vinha para o Brasil só de vez em quando, mas fazia vários shows em cidades diferentes, em casas de capacidade média para grande.
No pós-pandemia, parece que o grupo adquiriu definitivamente um status de “lenda do rock” e só vem para apresentações de proporção equivalente. Em 2022, foi um show único no Rock In Rio, como headliner; agora, em 2025, tocaram no festival The Town, novamente como headliners. Mas, ufa, fizeram uma apresentação solo em Curitiba, no estádio Arena da Baixada – quase igual ao que os Foo Fighters armaram dois anos antes, também com o The Town, também com show extra só em Curitiba, porém em outro estádio.
Durante o show, fiquei pensando que Foo Fighters até seria uma comparação apta para o Green Day atual, em termos de escala e estilo de apresentação. Ambas as bandas são ícones dos anos 1990 que conseguiram sobreviver bem com hits nos anos 2000, apesar de apenas um ou outro disco que recuperasse a glória do passado.
Ambas tocam vinte e poucas músicas de seu repertório, misturando seus famosos hits com as novas que não empolgam tanto ninguém. E ambas têm frontmen carismáticos que carregam o show nas costas com tranquilidade.
Mas as diferenças são o que tornam o Green Day ao vivo uma experiência bem diferente e, quem sabe, mais agradável.


Primeiro que as 20 e tantas músicas de Dave Grohl & cia. duram quase três horas, enquanto a mesma quantidade para Billy Joe Armstrong & cia duram 1h45 – nem muito pouco, nem exagerado. O setlist foi equilibrado, dando a justa ênfase aos seus melhores trabalhos (“Dookie” e “American Idiot”) e sabiamente poupando o público da maior parte do seu material (fraco) lançado nas duas últimas décadas.
Na produção de palco, o Green Day já está perfeitamente confortável com o visual exigido para deixar um show dessa dimensão interessante. Já começam a noite com um inflável gigante no palco, uma imponente versão física da capa de “American Idiot”, a mão segurando o coração-granada. Pode parecer bobeira, mas é um detalhezinho que já deixa tudo mais animado e bonito – especialmente quando o inflável é esvaziado, manipulado para fazer parecer que a mão está espremendo o coração. É um particularidade, ok, mas fica visualmente legal.
Os telões sempre exibiam vídeos simples, mas de bom gosto, que combinavam com as músicas e pareciam ser feitos por humanos, ao contrário das esquisitices de IA trazidas pelo System of a Down em sua turnê atual, por exemplo.
Também houve as várias chuvas de papel picado e confete, sem falar no zepelim flutuando sobre a plateia com as palavras “Bad Year” (referência à capa do clássico álbum “Dookie”) e jogando “bombas” sobre o público. Quando uma banda tem, digamos, uma baixa variedade sonora em seu repertório, é importante que o visual traga surpresas constantes. O AC/DC aprendeu isso rápido e, assim, tornou-se um dos melhores shows do mundo.
Um único ponto negativo seria a baixa interação com o público, pelo menos para os padrões Green Day. Apesar dos inúmeros cartazes de fãs pedindo para subir ao palco e cantar / tocar / dançar com a banda, só houve um convite do tipo, colocando uma fã para cantar o fim de “Know Your Enemy”. Não que tivessem qualquer obrigação de chamar mais gente ao palco, mas no passado já fizeram mais.
Basicamente, o show atual do Green Day tem muito mais a ver com uma apresentação do Roger Waters ou do Paul McCartney, e tudo bem. Ser “true punk” e tocar eternamente em casas pequenas não te deixa ter um zepelim flutuando sobre a plateia de um estádio jogando “bombas” de mentirinha nos fãs.
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* Aproveitamos a vinda do Green Day ao Brasil para comentar um excelente lançamento da editora Terreno Estranho por aqui. A obra “Na China com o Green Day?!!”, escrita por Aaron Cometbus – ex-roadie, vendedor de merch e amigo íntimo do trio -, relata a passagem da banda pela Ásia e discorre sobre os obrigatórios dilemas éticos e as contradições entre o underground e o mainstream. Eterna questão, mas sempre atual e boa. O livro já está disponível em formato capa dura, e recomendamos a leitura.
