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A Popload volta a falar de cinema sob a ótica do jornalista e blogueiro Tom Leão, um dos caras mais importantes na informação da cultura indie do Rio desde os tempos do importantíssimo e hoje saudoso Rio Fanzine, do jornal O Globo. Hoje ele fala sobre um filme cool que vem da Suécia.
Popload Cinema Club — por Tom Leão
Finalmente entrou em cartaz, em circuito reduzido, no eixo Rio-SP, um dos sucessos de público do Festival do Rio do ano passado, e que já estava fadado a ir mofar nas cada vez menos encontráveis prateleiras de videolocadoras, o filme sueco ‘Nós somos as melhores!’ (Vi är bast!) Passado em Estocolmo, em 1982, ele mostra duas amigas de escola, ambas na casa dos 13 anos, Klara e Bobo, que querem formar uma banda punk. Contudo, além de não terem instrumentos (e nem dinheiro para compra-los), encontram alguma resistência, porque, naquele tempo, além de punk já ser uma coisa datada, velha (a onda então era o pós-punk, o goth rock), elas sequer sabiam tocar. Mas, elas insistem na ideia, conseguem comprar os instrumentos na base da vaquinha e, no processo, conhecem no show de talentos da escola, uma bela violonista clássica cristã, Hedvig, que, depois de ensinar alguns acordes básicos para as duas louquinhas, acaba entrando para a banda, que sequer tem nome. No entanto, a amizade entre elas será abalada quando duas delas ficam a fim do mesmo carinha, cantor de uma banda punk-pop.
Falando assim, parece apenas um filme para meninas. E, de certa forma, é. Mas o que torna ‘Vi är bast!’ irresistível depois de 15 minutos (que é quando já nos acostumamos a ouvi-las falando daquele jeito enrolado, a la Bjork), é que, ao mesmo tempo em que é um filme, digamos, fofo, ele nunca perde o toque punk, da transgressão (e a trilha é recheada de punk rock sueco da época e algum goth inglês) e muito menos o bom humor. As jovens atrizes, além de super cutes, nem parecem estar atuando, de tão natural como tudo rola, quase num clima documental. Como pano de fundo, vemos o dia-a-dia de cada uma em casa (uma, tem pais separados; outra, é criada sob rígida disciplina católica; a terceira é apenas uma inocente rebelde sem causa). E, sobretudo, vemos que, já naquela época, na sociedade sueca não rola o preconceito que normalmente veríamos num filme americano, com bullying e tal. Elas até são zoadas as vezes, normal. Mas tudo dentro do respeito ao próximo, vistas como iguais, apesar de ‘diferentes’. O amigo que vos tecla, p ex, já tomou muito pega nas ruas de SP e RJ, só porque era punk nos 80s.
O filme foi dirigido pelo outrora considerado enfant terrible do cinema sueco, Lukas Moodysson, baseado em roteiro de uma história em quadrinhos, feita por sua esposa, Coco Moodysson; que, por sua vez, se inspirou em fatos de sua adolescência — pelo visto, ela é a personagem Bobo. Seja como for, é uma tremenda diversão.
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