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* A POPLOAD abre espaço aos fins de semana para algumas colaborações pontuais e selecionadas! Temos o Felipe Evangelista escrevendo sobre o rico mundo do hip hop na seção especial Popload Beats e a Flávia Durante dando importantes pitacos latinos na Arepas Sonoras. Temos também, textos sobre cinema do jornalista e blogueiro Tom Leão, um dos caras mais importantes na informação da cultura indie do Rio desde os tempos do importantíssimo e hoje saudoso Rio Fanzine, do jornal O Globo. Tom responde pela Popload Cinema Club. Desligue o page e o celular e leia.
Popload Cinema Club — por Tom Leão
A ETERNIDADE É UM TÉDIO
Filmes de vampiros, ou com vampiros, hj em dia são lugares-comum nos cinemas. Aliás, destroçaram quase que totalmente com a mitologia destes seres, transformando-os em idiotas, almofadinhas, imbecis completos. Tirando deles o charme, o mistério, e até mesmo o medo com toques de sedução que eles nos passavam desde Drácula.
Felizmente, existem diretores como Jim Jarmusch que, em seu primeiro filme abordando o gênero vampirismo, trouxe para as telas um casal tão cool e bacana quanto aquele visto há 30 anos em ‘Fome de viver’ (‘The hunger’, de Tony Scott), que reunia simplesmente David Bowie e Catherine Deneuve (com Susan Sarandon) e tinha a goth band Bauhaus na abertura. Em “Amantes eternos” (“Only lovers left alive”), lançado tardiamente no Brasil, e num circuito minimo, mal chegando ao Rio e a São Paulo — o jeito vai ser esperar sair o DVD/BD — Jarmusch, que já nos deu filmes marcantes e bacanas como “Estranhos no paraíso”, “Uma noite sobre a terra”, “Mistery train” e “Ghost dog” (sempre tendo a música como importante fio condutor da trama), aborda os imortais de forma quase inédita. O casal formado por Tilda Swinton e Tom Hiddleston (há ainda John Hurt), não caça humanos para extrair o sangue que os mantêm vivos, mas recebem material limpo, vindo de um fornecedor.
Então, como o filme se sustenta, sem o principal motivador dos vamps? Pelo olhar que eles têm do mundo atual, escolados em vida que são. O Adam, de Hiddleston, é um camarada que perdeu a fé na humanidade, que emburrece a olhos vistos. Para não se deprimir ainda mais, vive numa área isolada da decadente Detroit, colecionado guitarras e equipamentos de som vintage. E discos idem (ma non troppo, ele ouve desde Wanda Jackson a Black Rebel Motorcycle Club). Seu ídolo atual, Jack White, cresceu na vizinhança. É com orgulho que ele mostra a casa (verdadeira) de White numa cena. Já Eve (Swinton), vive viajando pelo mundo, estando em Tanger, no Marrocos quando o filme começa. É um jeito de o casal, que ainda se ama de paixão, não sucumbir a monotonia e desgastar a relação.
Quem quebra a paz da dupla é a irmã mais nova de Eve, Ava (a sensacional Mia Wasikowska), que age tal e qual uma piriguete rocker, interessada apenas em festa e detonação. Ela representa tudo o que há de mais rasteiro e futil que existe na geração atual. E, é ela quem vai fazer o filme dar uma guinada dramática e verter algum sangue. Porque, a questão não é você ficar velho e reclamar que já viu de tudo. Mas ver esse todo regredir a medida em que avançamos tecnologicamente. O ser humano poderia ser bem melhor…
Tom Leão assina o blog Na Cova do Leão e é colunista de cultura da Globo News