Popload Beats: Raury, o Salvador

A POPLOAD abre espaço aos fins de semana para algumas colaborações pontuais e selecionadas! Temos a Flávia Durante dando importantes pitacos latinos na “Arepas Sonoras”, a nova coluna “Popload Cinema Club”, que estreou ontem e traz o olhar certeiro do jornalista carioca Tom Leão e o Felipe Evangelista, escrevendo sobre o rico mundo do hip hop na seção especial Popload Beats. No texto de hoje, Felipe destaca Raury, moleque 18 anos que vai salvar o mundo (do hip-hop-pop-rock).

POPLOAD BEATS — por Felipe Evangelista

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Raury, o salvador

Nos últimos anos, poucos artistas conseguiram mexer comigo no momento em que eu os ouvi pela primeira vez. Eu tenho essa coisa de ir me envolvendo com a música e com o artista aos poucos e só depois de algum tempo perceber o quanto eu já estou viciado. Lógico que sempre tem algumas exceções, como quando eu ouvi “Lights Please” do J. Cole pela primeira vez. Ali eu sabia que eu seria fã do cara. E hoje, passados uns 4 anos, ele é um dos meus rappers favoritos. O mesmo aconteceu com o Kendrick, com o Frank Ocean, com a Lana Del Rey, com o Silva e com alguns outros artistas dos mais diversos gêneros. E eu acho que nas últimas semanas, essa sensação aconteceu novamente.

A surpresa da vez é Raury, um moleque de 18 anos vindo de Atlanta e que desde março é o nome da vez nas apostas de quem vai ser a nova sensação da música. A paixão pela música vem desde a infância – ele jura que escreveu a sua primeira música aos 3 anos e o primeiro rap aos 8, mas foi só aos 14 anos que ele decidiu se dedicar exclusivamente à sua primeira paixão. Aos 15, começou a trabalhar nas músicas que fazem parte do seu primeiro álbum, “Indigo Child”, lançado gratuitamente em seu site na última semana. O álbum é uma grande mistura de gêneros e ritmos. Ao longo de pouco mais de 40 minutos, ele vai do Soul ao Pop e do Rock ao Hip-Hop com uma maestria surpreendente para um jovem da sua idade.

Toda essa mistura é explicada por suas influências, que vão desde Michael Jackson, Bon Iver e Kid Cudi até Red Hot Chili Peppers e Manchester Orchestra. Outra grande influência de Raury é o megalomaníaco Kanye West, que recentemente o convidou para uma visita em seu estúdio no Havaí depois de ouvir o seu primeiro single, “God’s Whisper”. Quando foi divulgada a notícia de que ambos estavam juntos no estúdio, logo começaram os boatos sobre uma futura parceria. A parceria não está totalmente descartada, mas parece que o encontro só serviu para eles apresentarem, um ao outro, alguns trabalhos novos.

Com frases como “Nós somos os salvadores” e “Nós somos Indigos, vivendo as vidas que nós escolhemos”, “God’s Whisper” é um retrato dos jovens dos dias de hoje que não dependem de nada e de ninguém para indicar o caminho que eles precisam percorrer na vida. Para esses jovens, a internet e o YouTube é mais importante do que a escola com o seu sistema de ensino arcaico. É daí que surgiu o nome do seu álbum. É para esses jovens que Raury dá o nome de “Indigo Child”. Em conversa com o site Life+Times ele falou sobre o tema.

“‘Indigo Child’ é a juventude da minha geração que tem uma vantagem na vida por crescer na Era da Internet. Por isso, nós estamos mais inclinados a ter um grande trabalho ou um senso de direção sobre onde nós estamos indo em nossas vidas mais cedo. Então, pode parecer que nós somos como as pessoas que não querem ouvir sobre o que fazer. Nós aprendemos sobre as coisas antes dos nossos pais nos ensinarem. Pode ser visto como rebeldia, mas tem um lado mais brilhante para isso. Como eu. Algumas pessoas podem estar inclinadas em serem um grande sucesso – o que é o meu caso – ou algumas pessoas podem ir pelo caminho errado e estragar tudo. É por isso que em ‘God’s Whisper’ você vê pessoas tomando pílulas e cheirando cocaína. Essa é uma parte disso também, as pessoas vão para o caminho errado com toda essa informação. Mas algumas pessoas fazem as coisas certas.”

Vamos concordar que se trata de um discurso bastante arrogante, mas essa é uma atitude que também faz parte dessa nova juventude. Pergunte quem é o ídolo deles. A grande maioria vai responder na lata o nome de Kanye West ou de outros artistas que trilharam um caminho parecido com o do rapper de Chicago.

Arrogante ou não, Raury sabe que está no caminho certo. Sites de jornais e revistas do nível de The New York Times, Huffington Post, Billboard e Complex já se renderam ao seu talento. Com toda essa atenção da mídia e com o lançamento do primeiro álbum, algumas coisas vão mudar em sua vida. As suas músicas passarão a ser ouvidas nas rádios, os blogs vão estar na sua cola em busca de qualquer trabalho novo e os shows, que antes eram feitos em casas pequenas, agora serão acompanhados por um público muito maior. O seu primeiro teste será em setembro. Ele foi convidado pelo Outkast para, com Childish Gambino e Kid Cudi, se juntar ao grande show que marcará o retorno da dupla para a sua cidade natal, Atlanta.

Será que ele dá conta da expectativa ? Para um garoto de 18 anos que repete insistentemente que é um salvador, eu não tenho a menor dúvida.

*Felipe Evangelista tem 27 anos e passou mais da metade da vida ouvindo hip-hop. É administrador e aspirante a produtor musical.

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