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Como falamos aqui ontem, a Popload completa nesta semana 12 anos de existência. O espaço, que começou sem nome em 2000 na seção “Pensata” da “Folha de S.Paulo”, com conteúdo no impresso e um pouco maior online, ao longo dos anos se tornou coluna-semanal-gigante na Ilustrada no site da Folha, virou blog no iG e agora está pimpão aqui no UOL.
Por estes dias, vamos relembrar alguns textos marcantes, pataquadas e fatos históricos envolvendo a Popload. Até porque olhar para 2000/2001, por conta de tudo que mudou na música, no jornalismo, nas nossas vidas, parece que estamos falando de 1961.
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Um texto que chamou a atenção do crew da Popload foi o que fiz sobre o Nirvana, em 2001, na semana seguinte dos ataques terroristas nos Estados Unidos. Na época eu falava de outro petardo, o “Nevermind”, disco pontual da carreira do Nirvana e da história do rock, que estava por completar 10 anos.
Na época, falei não só dos 10 anos do álbum, mas também dos 10 anos da apresentação histórica da banda de Seattle no Reading Festival, quando o Nirvana dominou o mundo de vez.
O conteúdo também tinha uma entrevista com Everett True, o jornalista da “Melody Maker” que foi um dos grandes responsáveis em contar para o mundo que Seattle passava a ser a cidade mais cool do planeta quando o assunto era música, na virada da década de 80 para os anos 90.
Confira.
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NEVERMIND, 10 ANOS
É o seguinte. O Nirvana foi o meu Beatles. É a banda que eu mais gosto, gostei e (acho) vou gostar desde o momento em que eu comecei a ouvir música a “sério” (quando meus primos metaleiros me forçavam a ouvir Deep Purple e Led Zeppelin) até hoje de manhã (quando eu escutei o mais recente álbum do ótimo White Stripes).
Pois então. Com o Nirvana eu vi nascer, acompanhei o fenômeno e profissionalmente cobri a morte de Kurt Cobain, quando o roqueiro mais honesto que já passou por este planeta achou de dar um tiro nos miolos.
Não podia deixar, por isso, de compartilhar aqui umas histórias deste grupo, aproveitando a importantíssima data de aniversário de 10 anos do “Nevermind”, o disco que, não sou (só) eu que digo, mudou a história da música pop.
A comparação é meio estúpida e soa inoportuna, mas quem estava com os ouvidos funcionando no começo dos anos 90 sabe que o “Nevermind” esteve para a cultura pop assim como aqueles dois infelizes aviões da American Airlines estiveram para o World Trade Center, apenas para dar uma idéia do impacto que tal disco causaria nas rádios, nas lojas de discos, nas paradas, nas revistas, jornais, no comportamento jovem, na MTV etc. Tanto que atualmente no mundo inteiro tem-se publicado e produzido e programado “especiais” para lembrar o “Nevermind” (talvez não muito no Brasil, mas você sabe como as coisas funcionam por aqui). Em recente edição, a “New Musical Express” dedicou páginas ao aniversário do disco, produzindo uma ótima matéria intitulada “Os meninos de Kurt”, reportagem que registrava em fotos as inúmeras camisetas do Nirvana que circularam nos festivais ingleses deste ano.
Voltando, o “Nevermind” foi lançado no dia 23 de setembro de 1991 na Inglaterra, uma segunda-feira, mas sua data oficial é no dia 24, uma vez que o disco foi lançado na terça nos EUA, o dia em que os discos americanos novos aparecem nas lojas de lá.
Minha missão em prestar um tributo ao segundo disco do Nirvana já está bem cumprida. O nobre Folhateen, da Folha, publicou vasto material de minha autoria nesta última segunda-feira. Para quem não é assinante do serviço de Internet da Folha, reproduzo um depoimento meu sobre histórico show do Nirvana no Reading Festival de 1991, um mês antes de a banda lançar o “Nevermind”, além de alguns trechos da entrevista que fiz com Everett True, jornalista britânico descobridor da cena de Seattle. Everett True era jornalista do semanário inglês de música “Melody Maker” e atendeu em 1989 a um convite da então desconhecida gravadora Sub Pop, de Seattle, que à beira da falência, mas sabedora de que tinha grandes bandas na mão, resolveu convidar alguns jornalistas britânicos para visitar suas instalações, conhecer seus artistas, uma vez que a imprensa musical americana não se coçava. O resto da história, sobre o que aconteceu depois com a Sub Pop e com o grunge e com o Nirvana e com o rock, é desnecessário dizer, acredito.
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23 DE AGOSTO DE 1991 – O QUE FOI AQUILO?
A banda Nirvana se apresenta no Reading Festival inglês, em 1991; Kurt canta, os cabelos de Novoselic, com camiseta do Dinosaur Jr., balançam ao vento e um punk moicano, convidado para dançar no palco durante o show, dá as costas ao público; Dave Grohl está sumido atrás da bateria; daria tudo para lembrar qual canção era tocada na hora desta foto
Naquele 23 de agosto de 1991, todos os caminhos pop levavam à cidadezinha de Reading, leste de Londres, onde centenas de bandas de rock disputam anualmente a atenção de público, imprensa e gravadoras naquele que é considerado o principal festival de música pop do mundo.
O primeiro dos três dias de evento teve atrações como Iggy Pop, Sonic Youth e Pop Will It Itself, mas o aviso foi dado: “Chegue cedo para ver esse Nirvana”.
Para mim, não precisou falar duas vezes. Morava no Reino Unido na época e já ouvia sem parar o primeiro disco do grupo, “Bleach” (1989), graças a uma fita cassete de um amigo.
Junte-se a isso a curiosidade sobre “Nevermind”, que chegaria às lojas em um mês, e pronto: lá estava eu cedinho para ver o Nirvana.
Da hora em que Cobain ligou seu instrumento até o pulo descabido de guitarra e tudo sobre a bateria, no final, deu cravados 32 minutos. Durante esse tempo, quatro “músicas novas”: “Drain You”, “Smells Like Teen Spirit” (o que foi aquilo?), “Come As You Are” e “Breed”.
Em meio a isso, Grohl tirando de gozação, na bateria, o começo de “Sunday Bloody Sunday” (hino do U2); Cobain “surfando” na platéia em pleno solo de guitarra; cantando “The End”, dos Doors, com voz fúnebre, para anunciar a chegada da última música do show; Novoselic arremessando de longe seu baixo em Grohl.
O show acabou. A estática platéia viu Cobain, já sozinho no palco, levantar em meio ao que sobrou da bateria. Como se nada tivesse acontecido na última meia-hora, ele se abaixou para pegar uma garrafa de cerveja do chão e saiu andando.
Por mais imprevisível que fosse o estouro da banda, era difícil não acreditar que o rock depois daqueles 32 minutos seria diferente
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O CARA QUE DESCOBRIU SEATTLE
Com a palavra agora Everett True, o jornalista da “Melody Maker” que revelou que tinha alguma coisa de especial naquela cidade de caras com camisa de flanela e cabelos longos e descuidados. Meses após a visita de True a Seattle, em 1989, saia no semanário a reportagem “Seattle Rock City”. E depois. Everett respondeu, por e-mail, a perguntas sobre os 10 anos do “Nevermind” e ainda sobre seu recém-lançado livro, “Living Through This”, que conta a história de toda a cena.
“Voltei a falar de Nirvana simplesmente porque fiquei de saco cheio de ver muita gente falar sobre a cena de Seattle e ver que o que dizem não tem nenhuma relação com aquilo que eu vi e vivi. Com esse meu livro, quis passar um pouco do que realmente aconteceu para esses jornalistas que nem gostavam de Nirvana quando a banda ainda existia, para esses fãs de ocasião ou para os punks de biblioteca, que escrevem ou falam muita besteira sobre a era do Nirvana. Eu ouço mais música hoje em dia do que ouvia antes. E até gosto mais do som que é feito agora, mas claramente o pop atual não tem a mesma influência sobre a minha vida. O ‘Nevermind’ é um disco de grandes canções, mas com uma droga de produção. Ele soa como uma obra do Motley Crue. Eu prefiro o “In Utero”, embora tenha um comprometimento bem maior com o “Nevermind”. Sobre o novo rock americano, não posso dizer muito, na verdade, porque não ouvi a maioria dessas novas bandas. Escutei White Stripes pela primeira vez hoje (segunda-feira retrasada) e me lembrou Pussy Galore. Lift to Experience não é uma boa banda ao vivo. Trail of Dead e The Pattern são muito bons. Nunca ouvi Strokes.”
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