Pavement no Chile, como se não houvesse amanhã (mas tem, domingo é em SP)

A grande atração entre as grandes atrações do C6 Fest, o festival que vai nos levar felizes e saltitantes no fim de semana ao parque Ibirapuera, o grupo americano Pavement, herói da música alternativa, que se apresenta no domingo.

Já em território sul-americano, a banda de Stephen Malkmus abriu essa nova série de shows em Santiago, no Chile, ontem à noite.

O intrépido jornalista musical e gamer Pablo Miyazawa esteve na capital chilena para ver a primeira apresentação do Pavement desde setembro do ano passado. E uma das últimas da vida (dizem).

E conta aqui na Popload por que vale a pena ver e rever os reis do indie true em São Paulo, domingo.


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Por Pablo Miyazawa
(@pablomiy)

O bom senso perguntaria: “Por que viajar para outro país para ver o show de uma banda que vai tocar no Brasil daqui alguns dias?”

A razão então responderia: “Se a banda for o Pavement, então vale a pena.”

É claro, porque uma apresentação ao vivo da banda mais importante de todos os tempos é algo raro – pelo menos na América do Sul, onde só havia tocado três vezes (uma em São Paulo e duas em Buenos Aires, todas em 2010). Desta vez, estão passando por quatro cidades do continente, e sabe-se lá quando (e se) vão voltar de novo.

Essa argumentação perfeita me levou a Santiago do Chile na última segunda (13) para conferir o primeiro show do Pavement no país, que também seria o primeiro dessa leva latam (amanhã, quarta, é a vez de Buenos Aires; Montevidéu, na sexta; e em São Paulo, no domingo, fechando a tenda do C6 Festival). Choque térmico fez parte da experiência: a temperatura de noite marcava sete graus.

Acima, o setlist do show do Pavement no Chile, ontem; abaixo, uma das camisetas lindas do merchan da banda americana

É difícil explicar cada detalhe especial (os 105 minutos passaram voando), mas certos fatos foram notáveis. Havia bem mais jovens animados na casa dos 25 do que velhos indies de 45 (uns 70 por cento masculino, provavelmente). A bagunça causada por “Harness Your Hopes”, hit tardio no TikTok, poderia explicar a discrepância. Ao mesmo tempo, foram as faixas toscas do álbum “Slanted and Enchanted” (1991), como “Summer Babe”, “Trigger Cut” e “Two States”, que empolgaram mais gente ao mesmo tempo. Quem seria o fã-padrão do Pavement? Um misto estranho de todo mundo, talvez.

Os “sucessos” da época da MTV não podiam faltar: “Cut Your Hair”, “Shady Lane” e “Stereo” foram saudadas com urros, pula-pulas coletivos e rodinhas punk, como se tivessem sido lançadas no ano passado. O público chileno sabia que estava diante de um acontecimento único, por isso a vibração era bem diferente dos outros shows deles que vi nos últimos anos, a maioria em grandes festivais.

Pavement é mesmo para palco pequeno, como o do simples e aconchegante Teatro Coliseo, que viu seus 2500 espaços quase todos ocupados (as camisetas oficiais da turnê, a R$ 140, evaporaram assim que as luzes se acenderam).

Houve quase nenhuma conversa da parte do dândi Stephen Malkmus, mas o guitarrista boa-praça Spiral Stairs e o faz-tudo-carisma Bob Nastanovich deram seus jeitos de mostrar a gratidão do grupo (agora um sexteto, com a tecladista Rebecca Cole). No bis, o típico vai-e-vem de emoções ao qual os pavement heads são bem acostumados: a suave “Range Life”, a histérica “Serpentine Pad” e a lânguida “Stop Breathin’”, encerrando na calmaria uma noite em que nada deu errado.

Vale a pena rever no domingo? Sim, é claro. O repertório promete ser bem diferente

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O C6 Fest acontece em São Paulo nesta semana, de sexta a domingo, no Ibirapuera. Na programação, além de Pavement, o line-up apresenta Daniel Caesar, Squid, Jair Naves, Jaloo & Gaby Amarantos, Noah Cyrus, Fausto Fawcett, Soft Cell, 2 ManyDJs, Cat Power fazendo o Dylan e mais. Ingressos estão disponíveis para a compra aqui. Mais infos gerais do festival e de suas quase 30 atrações, por aqui.

** As imagens usadas para este post são de Pablo Miyazawa.