Paul McCartney bombou em Brasília. Ele quem disse

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Mister Sir Lord Paul McCartney deu seu rolê musical histórico por Brasília, ontem, tocando músicas de sua bem-sucedida carreira solo, do tal de Beatles que ele integrou. Antes da apresentação na grande arena da capital federal, andou de bicicleta em parque. Tudo certo.
Daí eu fiquei pensando o que mais escrever sobre um cara como ele, que já não tenha sido escrito. No geral, quero dizer desde que os Beatles surgiram, e nas tantas vezes que ele tem vindo ao Brasil nos últimos anos.
Pensei em deixar quieto o assunto Paul, dar umas fotos apenas, aqui na Popload, mas então eu lembrei que em Brasília mora meu amigo Eduardo Palandi.
E, se tem alguém ainda que pode escrever sobre um show desses sem cair na mesmice que a gente vê por aí, na linha “Era 21h10 quando fulano subiu no palco para…”, custe o que isso custar, esse alguém é o Palandi.

Na real, ele usou sim o tão-querido tema do “horário”, mas até ali foi “diferente”:

Enfim, ele escreveu o seguinte sobre Ele:

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“Envelhecer é um troço complicado. Quando fiz 30 anos, parei de escrever sobre música, porque tinha perdido a graça – tanto escrever quanto ouvir música pop. De lá para cá, vou a um show por ano, se muito, e fica por isso. Daí um senhor de 72 anos, que, recentemente, virou arroz-de-festa no Brasil, resolveu dar um show na Asa Norte, e eu comprei o ingresso mais pelo “registro histórico” do que por qualquer outra coisa. Dizer aos meus netos, quando eu tiver 72 anos, que vi um beatle, olha que legal!

Então, adquiri a entrada sem expectativa maior do que ver um cara da maior banda da história tocando. No domingo, enquanto assistia ao futebol, bateu aquela preguiça de me arrumar e ir até o estádio Mané Garrincha, sob chuva. Mas fui.

Chegando lá, a primeira constatação: fã de Beatles é uma merda. Principalmente assim, reunidos em grande número. Como fãs radicais de qualquer outra banda, como ativistas de qualquer causa, como tantas outras pessoas. Não gostam de mais nada. Não têm o mesmo amor por mais nada. Repetem um monte de clichês do naipe “Fab Four”, “Os quatro rapazes de Liverpool”. Na oralidade, parecem estudante de primeiro semestre de faculdade de jornalismo fazendo nariz de cera.

É difícil amar o próximo, especialmente quando ele usa camiseta de banda, e àquela altura eu já me perguntava, sentado em minha cadeira na lateral do estádio, o que estava fazendo ali. Comi um churro, aguentei a tia doidona que dizia “estar no esquenta há três dias” e achei bom que não tivesse uma banda local de abertura. Já pensou ter de suportar, só como exemplo, o Móveis Coloniais de Acaju abrindo para Sir Macca? Felizmente, não foi preciso.

Anoiteceu, e um medo estranho me ocorreu: imagina se o show for uma espécie de baile da saudade com selfies? A profusão de autorretratos era previsível, mas o atraso para começar o espetáculo não. Ao meu lado, repetiam que os shows de 2010 e 2013 começaram pontualmente no horário marcado, coisa que eu adoraria: sou velho e preciso dormir cedo. Mas, em Brasília, as coisas começaram com mais de uma hora de atraso – e um filminho, exibido nos telões laterais, sobre a vida de Paul McCartney. Como que a dizer “Olhem a vida que ele teve: respeitem o cara”.

Mas o filme não fala às 46 mil pessoas presentes no estádio como as canções de Sir Macca falam. De blazer vermelho e calça skinny, ele entra e manda “Magical mystery tour” logo de cara. Os efeitos especiais aparecem, sem querer ofuscar as estrelas da noite: o músico, a melodia, o repertório, a banda. Na terceira canção, “All my loving”, o ingresso já está pago. Não é das minhas músicas preferidas dos Beatles, mas, é covardia, para dizer o mínimo, o que fazem com ela ao vivo. Uma pena que nem todos tratem sua obra com o mesmo carinho (estou falando contigo, senhor Bob Dylan).

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Daí, você se sente jovem e esquece de tudo: dos fãs chatos, dos seus problemas, da vida lá fora. Mais do que isso, constata que o filminho chato tinha razão: Paul McCartney teve (e tem) uma vida fantástica. Arrisca umas falas em português, se diverte ao executar cada música, arrebenta em “The long and winding road”, na dobradinha “And I love her” e “Blackbird”. Mesmo as mais novas, como “Here today” e “New”, ganham arranjos espetaculares. E o baile da saudade é tudo menos um baile da saudade: tem a delicadeza de “Eleanor Rigby”, a homenagem a George Harrison em “Something”, a deliciosa “Band on the run”. Pérola atrás de pérola. Paul ainda conversa, entre uma e outra, e sente-se completamente à vontade por ali.

“Aqui tá bombando!”, exclama o dono da festa, em seu português de gringo no Carnaval. Bomba, mesmo, é o que vem depois: a sequência de “Back in the USSR”, “Let it be” e “Live and let die”, o ápice dos efeitos especiais: explosões, fogos de artifício, luzes e mais luzes. Ainda sob os aplausos do público ao final desse tema de James Bond, Paul McCartney senta-se ao piano e começa “Hey Jude”. Se para o público não teve descanso até aquele momento, para Paul e sua competente banda, contudo, teve: depois de mais esse clássico, saem do palco. Um bis com “Day tripper” e “Get back”, outro bis com “Yesterday” e “Helter skelter”. É demais para o coração deste velho que cá escreve.

Durante minha vida, estive em alguns shows legais. Que me desculpem Wilco, Radiohead, REM e tantos outros: um senhor de 72 anos fez a melhor de todas as apresentações que já vi. Minhas filhas ainda nem foram concebidas, mas meus netos já têm uma história bonita para ouvir do vovô. Se você puder, vá ver Paul McCartney amanhã em São Paulo, mesmo que existam mais de cem bandas novas que te interessem mais. Depois disso, podemos conversar sobre o show na aula de hidroginástica ou durante uma partida de buraco…

P.S.: não citei, no texto, a melhor música do show, diretamente do “Sargent Pepper’s…”. Adivinha?”

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** As fotos deste post e da home da Popload são do fera Marcos Hermes.

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